5/30/21

DESAFIOS Á HABITAÇÃO E CIDADE APÓS “CRISES” ECONÓMICAS E DEMAIS PANDEMIAS.

 DESAFIOS Á HABITAÇÃO E CIDADE APÓS “CRISES” ECONÓMICAS E DEMAIS PANDEMIAS.

i.

A arquietctura do nosso pais é devedora de uma espacialidade territorializada no canto continental, junto ao mar. De uma sensibilidade específica, dos “castros” a núcleos em redor construções de poderes políticos e religiosos, de um renascimento ténue, forte barroco e demais. De uma modernidade, interrompida, retomada e depois regionalizada no pós-guerra. De uma polaridade Lisboa/Porto, hoje desvanecida, e uma disseminação internacional de arquitectos portugueses por altura do arrancar da pós-modernidade, inundando os media e banais discussões de café.

E que desafios à habitação e cidade, nos trás a dita “crise” económica de 2008, esquecida com dois anos de preocupação com algo maior e igualmente pandémico.

 

ii.

Como devemos olhar as nossas cidades, hoje parecem suspensas no tempo?

Historicamente, na cidade houve conexão de privado e público, sendo de destingir “urbe” da “polis”, o lugar do “polikitózôon” (Aristóteles). A história da cidade remete para a sedentarização, pré-histórica e “genius loci” da civilização; para a escala humana da cidade medieval ou para as cidades ideais do Renascimento, para a “ciudad lineares” (A.Soria) e grande intervenções, de Paris (Haussmann) ou Barcelona (Cerdá), para o “flaneurismo” face à modernização, para planeamento hierárquico da “Carta de Atenas” (CIAM) ou modelos anti-ubanos da “Broadcare city” (Wright), para as “New towns” inglesas do pósguerra ou visões infraestruturais do “Plan Orbus” (Corbusier) e demais “megaestruras” (Superstudio etc), para a metrópole desdensificada e policentrica do urban “Sprawl” e “shopping malls”. Para a hoje “Global city”, de ambientes artificializado de “espetáculo” (Debord), “não–lugares” (Augé), icóns excessivos (Jencks) e “spaces of flows” (Castells).

E as cidades deste Portugal? Ao nível da cidade, ao longo do último seculo, passámos do alinhamento de arruamentos e embelezamentos, a regulamentos e planificação das cidades; discussão sobre instrumentos e políticas, programas polis e afins estratégias mais recentes.

E como devemos olhar os nossos espaços construídos e arquitecturas?

Historicamente, a arquietctura e o habitar constituem acto intrinsecamente humano, e contornemos aqui a posição de Heiddegger em “Building, dwelling and thinking”. Indubitavelemente a casa constitui um arquétipo, associado à noções algo tradicionais de conforto, privacidade e identidade. Tipologicamente, a história da habitação remete para a “óikos” grega, para a “domus” romana,  palácios Renascentistas, “urban blocks” de séculos depois. Segue-se a pré-fabricação/standartização de uma “machine habiter” (Corbusier), uma complexificação do moderno no pós-guerra, liberada por lofts dos anos 70 e dai por diante.  Banham, por seu lado, recordava: “A house is not a home” (Banham).

E as habitações deste Portugal? Ao nível da arquiretcura habitacional, ao longo do último século, passou-se do “afrancesamento” de challet em avenidas, à protomodernidade e debate sobre a “casa moderna” vs “casa portuguesa” (Lino), dos bairros de habitação social à generalização de prédios modernos, casas de férias, e complexidade da habitação plurifamiliar no ultimas décadas.

 

iii.

Mas como interessou a Arquitectura a este pequeno país?

Por um lado, disciplinarmente, ao longo do último século, assistiu-se a uma afirmação da arquitectura no país, da luta arquitectos vs engenheiros por um status social, ao associativismo  do SNA à AAP, com exponencial aumento de associados (leia-se das dezenas de início do seculo às centenas pós revolução democrática e actualmente milhares de associados), o reconhecimento da Ordem, à discussão do 73/73; mas também a internacionalização da arquitectura portuguesa, com 2 Pritzkers, e, claro, a crise actual. Ao nível da crítica, ao longo do últimos século, passou-se em Portugal de fascículos a revistas especializadas, de memórias estéticas a críticas de pendor tecno-sociológico, até a radicais suspeição conceptuais aquando da transição do século. Já no que tange ao ensino, passou-se das Escolas de Belas Artes, a ensino superior, com reformas nos anos 30 e 50, seguido da integração universitária, explosão de cursos públicos e privados pelos anos 90, adequação Bolonha em 2008/2012, e às inflexões no ensino privado nos últimos anos.

Mas por outro lado, em termos da cultura geral, ao longo do último século, a disciplina passou de um elitismo para apetite burguês, a uma consciência do seu papel social, até um serviço diversificado que, hoje, se diversifica em múltiplas competências.

A arquitectura é, indubitavelmente, com a transição do século, objecto de discussão cultural, por todos e para lá da especialidade.  Podemos dizer que, em grande medida, as últimas décadas, vão do orgulho e desvanecimento. Uma das questões a por não pode deixar de ser: Qual o papel da crítica de arquietctura?

Queremos crer que, na academia mas ainda não em todo o ensino, parece que a teoria-critica passou da mera generalização de conhecimento necessários ao projecto, a colunas de disciplinas e  autonomia, até locus actual de reflexão sobre “outras histórias” e futuros possíveis, que não esse “fim da história” que alegam inevitável. (Fukuyama)

Neste conspecto, a crise económica pós 2008 e pandemia 2020/21, pode propiciar reflexão sobre o que nos lega o transacto século, de cultura do habitar?

 

Parece que, em certa medida, a crise económica pós 2008, veio demonstrar a falência de uma perspectiva, que poderemos denominar neoliberal, sobre a habitação e cidade.

De facto, no que á cidade refere, passamos neste século do paradigma da “digital city” (Mitchell) à “cidade criativa” (Florida), das tentativas de requalificação de baixas e espaço público (Polis etc), aos alarmes da sustentabilidade planetária e demais. Mas que perpectivas cumpre avançar, face á experiência recente, que as estratégias assentes na competitividade, markting urbano mostraram não vir sedar?

Já no que tange à habitação em Portugal, a questão a pôr apõs o conhecimento do “Censos 2011 e 2011” é: Quantos não têm habitação condigna quando tantas casas permanecem a flutuar no mercado da especulação imobiliária? E, como se comportarão as nosssas casas quando, outra pandemia, nos deixar ainda mais ligados ao “interface”? (Virilio) Tendo vastamente escrito sobre o impacto TIC na cidade e arquitectura, vislumbramos a “E-topia” (Mitchell), vislumbro um futuro que obviamente pode beneficiar das TIC, AI, VR aumentada, sensores robóticos, computação ubíqua, APPs e data “crowd sourcing”. Mas um futuro que, desejavelmente, não deve nunca descurar a dimensão humana.

iv.

Por fim e em termos mais gerais, no que tange à disciplina e cultura, a derradeira questão que permanece por pôr, é se passadas 2 décadas do início do presente seculo, quais as políticas da arquitectura de futuro para este pequeno país, de industrialização tardia, litoralização, desigualdades, mas desafios face á globalização á semelhança de todos os outros. E que compromisso, social senão politico, se pode, desde dentro da disciplina, ainda tecer, numa comunidade fragmentada, num espetáculo publico que também a arquitectura serve, de um “Star system”s que apenas sedento de novas superficialidades estéreis?

Em suma, vão ainda os arquitectos a tempo de contribuir em conjunto com a sociedade portuguesa para um debate, que urge, quanto à qualidade e qualificação das nossas cidades e habitações para o século XXI? Com ou sem crises e pandemias pelo meio.

 

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