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8/13/25
CONVERSAS SOBRE A ESCOLA DO PORTO_24 Jorge Vieira (com Gonçalo Furtado)
CONVERSA SOBRE ARQUITETURA E ESCOLA DO PORTO _ MAIO 2022
(Jorge Vieira, com Gonçalo Furtado)
/I.
[GF] - Sr Jorge, quando é que entrou para a Faculdade?
[JV] - Eu comecei a trabalhar na Faup em novembro de 1987.
[GF] - Veio já para aqui, ou ainda foi para Belas artes?
[JV] - Ainda estive breves tempos em Belas artes, nesse edifício. Na parte do Editorial./
Depois, vim para a Faculdade no Campo Alegre, para a casa cor de rosa. Estive breves tempos no expediente, passando de seguida para os serviços académicos. Era a Maria Luísa, a chefe.
[GF] - Isso em 1988.
[JV] - Em 1988, já estava cá.
[GF] - Continuavam muitos alunos lá, no 1º e no 2º ano.
[JV] - O 1º e 2º ano continuou ainda, durante algum tempo, no pavilhão de arquitetura em Belas Artes./
Os restantes anos tinham aulas aqui. Mas, como eram poucos estudantes, as instalações chegavam perfeitamente para eles./
Depois, construíram o novo edifício e tudo se resolveu.
[GF] - Que idade tinha o Jorge? Era o seu primeiro trabalho?
[JV] - Comecei a trabalhar em 1977, com 18 anos, na fábrica “Tintas Marilina”, em Rio Tinto. Tinha vindo de Angola, quando se deu o 25 de abril. E, passados 10 anos, vim para aqui, com a idade de 28 anos.
[GF] - O primeiro trabalho fora no privado.
[JV] - Era privado.
O Sr Ferreira trabalhava aqui na faculdade, como carpinteiro. Era meu tio./
A faculdade estava no início e a precisar de pessoal. Vim a um concurso... Estando presentes o professor Alexandre Alves Costa, o professor Sérgio Fernandez e o professor Fernando Távora. E, após uma longa conversa, decidiram aceitar-me.
/II./
[GF] - Recordo-me do Sr Ferreira e das visitas à carpintaria./
Bem como de 3 irmãs que eram muito simpáticas - a Conceição, a Teresa (telefonista), e a Dona Celina. E do Pedro...
[JV] - Três senhoras simpáticas!
O Pedro, ainda me lembro... A dona Teresa era a telefonista na Casa cor de rosa e, o Pedro era pequenito. Tinha 5 anos, quando eu conheci./
Foi crescendo e acabou por trabalhar, como informático, na faculdade. Neste momento está ausente, com licença sem vencimento.
[GF] - Muito porreiro.
[JV] - É pena, porque ele é um tipo porreiro e ia ajudando bastante.
[GF] - Eu estava também a pensar... Quando é que o Sr Jorge teria nascido.
[JV] - Eu nasci em 1959. Vou a caminho dos 63 anos.
[GF] - Estão... Quer dizer que daqui a poucos anos pode ter aposentação.
[JV] - É, 4 ou 5... Cada vez está a aumentar mais… Mas vou para aposentação.
/III./
[GF] - Entrou nos anos 80, nos anos em que o professor Fernando Távora ainda foi o diretor.
[JV] - É, o professor Fernando Távora ainda estava cá na altura. A Comissão Instaladora era composta pelo Fernando Távora, pelo Alves Costa e pelo Sérgio Fernandez.
[GF] - Diz que o Sérgio Fernandez seria vice-diretor em determinado período?
[JV] - Acho que era o Vice-presidente... O Dr Orlando era o secretário da Faculdade.
[GF] - O Dr Orlando seria o secretário da faculdade.
[JV] - Sim. Uma pessoa espetacular.
[GF] - E havia outros, como a Dra. Maria Luísa, etc.
[JV] - Era, a Maria Luísa foi a minha primeira chefe. Sempre a achei boa pessoa. Havia também a Mariana, das primeiras funcionárias, e uma pessoa espetacular.
[GF] - A Mariana que ainda está cá connosco (3° ciclo).
[JV] - É do tempo da abertura do curso. Eu acho que elas ainda estiveram, se não me engano, na reitoria. A Mariana deve ter 65 anos.
[GF] - Penso que a Dona Ludovina, como as anteriores, sempre me tratou com grande simpatia.
[JV] - A Ludovina aposentou-se agora. Era uma das funcionárias a trabalhar há mais tempo aqui na faculdade. Mas em idade, é mais nova do que eu./
Havia a Célia, irmã da Maria Luísa, que trabalhou cá também... Tendo passado ainda pela Unidade Pedagógica de Viseu.
[GF] - Na Unidade Pedagógica que operou uns anos em Viseu.
[JV] - Nome parecido com Celina... A irmã da dona Teresa e da Conceição./
A dona Rosa, também chegou a trabalhar no bar.
[GF] - A dona Rosa, esposa do Sr Joaquim.
[JV] - Sim! Depois saiu do bar, e passou para a jardinagem com ele./
O Joaquim está a chegar à idade da reforma. À dona Rosa, ainda falta algum tempo para a apresentação…/
Havia também o Sr Adão. Não faltava malta porreira! O António, o Antero... Tudo malta amiga.
[GF] - Diz Sr Adão e Sr António... E na Secretaria, havia a Maria José... E na parte do pessoal, havia a Maria dos Anjos.
[JV] - Havia a Maria José, nos serviços académicos, e a Maria dos Anjos, no pessoal./
Chegou a trabalhar aqui a Dra Graça Roseira, que estava ligada aos programas de mobilidade./
E que, com muita tristeza nossa, acabou por falecer.
[GF] - A Dra Graça Roseira. E ainda havia a Sara Ponte.
[JV] - Trabalhou cá. Mas depois também arrancou e foi para a reitoria. Uma pessoa espetacular.
[GF] - Havia o Sr Silva, com quem falava muitas vezes na serralharia.
[JV] -Também era um tipo porreiro. Já não o vejo há uns anitos.
[GF] - E o Sr Eduardo, da reprografia... Que fazia aqueles cadernos com papéis.
[JV] - Quem é que havia mais?
[GF] - O Silva e o Ferreira na parte de oficinas, o António que era o contínuo, os jardineiros...
[JV] - Eram a Rosa, o Joaquim e o Adão./
Havia a Sara das fotocópias, cuja instalação funcionava lá em cima, nas cavalariças.
[GF] - Havia a Sara, quando as fotocópias estiveram nas cavalariças./
E em determinado momento veio para cá também o Sr Valentim./
Havia a Maria da Graça Duarte, chefe dos serviços académicos.
[JV] - Veio o Valentim, que esteve a trabalhar directamente com a Maria Luísa./
E a chefe dos Serviços Académicos era a Maria da Graça.
[GF] - Havia bastante gente. Depois começou a reduzir.
[JV] - Nós éramos, sei lá, para aí umas 40 e tal pessoas. Depois foi reduzindo, e reduzindo cada vez mais... Atualmente, na secretaria, somos 5. Deve ser a faculdade que menos funcionários tem.
[GF] - Embora também hoje se trabalhe de outra maneira, não é? Há muita coisa informatizada, etc. Trabalha-se menos nas oficinas, e há áreas como o bar, a reprografia, a livraria, a papelaria, que são geridas por outras entidades.
[JV] - Sim, mas mesmo assim… Há muito serviço.
/IV./
[JV] - Estamos com bastante serviço! Temos os estudantes internacionais... Candidaturas… reconhecimento das cadeiras, lançar tudo... Muito trabalho.
[GF] - Na minha altura de estudante tínhamos como propinas mais baixas.
[JV] - Atualmente a propina tem o valor de 697 euros. Os estudantes CPLP pagam 2334 euros. Quem vem de fora da Comunidade Europeia paga à volta de 4300 euros./
E, os nossos estudantes, não provêm só da Comunidade Europeia e dos países de língua portuguesa (Angola, Moçambique, Cabo verde, etc). Vêm de muito sítio.
[GF] - Estava-se a falar de funcionários e saltou-se para outro elemento da nossa comunidade escolar. Desde os anos 80, também houve uma transformação, no que tange aos alunos. Em termos de quantidade, de proveniência, etc.
[JV] - Chegaram a ter acesso à volta de 125 estudantes./
Houve uma fase em que se baixou o número de entradas, para 75. Isto, se não me engano, nos anos 90, porque as instalações estavam a ficar reduzidas para tanta gente.
[GF] - Eu tinha ideia que antes seriam menos. E que na altura da direção do Francisco Barata, que consiste ao posterior período, por volta de 2007-14, entravam mais. Ou, pelo menos, tínhamos mais. Mas não será assim?
[JV] - Não será assim... Mas pronto, quando estávamos lá em cima, na Casa cor de rosa, podia haver para aí 400 /500 estudantes. Depois, isto levou um aumento muito grande.
[GF] - Mais que duplicou. Nós, neste momento, estamos com 1000/1200 estudantes.
[JV] - 1100! Só de mestrado./
Houve uma altura em que teve que se baixar as vagas, porque estava mesmo a ficar um bocado apertado... Havia disciplinas a abarrotar! A de Sistemas Estruturais nem tanto, mas a de História do 4º ano e teoria do 3º ano. História da arquitetura portuguesa e Teoria 2 tinham muita gente! À volta de 300 e tal estudantes./
Mas pronto, a faculdade foi-se adaptando. O pavilhão Carlos Ramos foi continuando a ser utilizado, dando uma valiosa ajuda na distribuição dos estudantes.
[GF] - Já estava...
[JV] - Esse já estava feito.
[GF] - Estoirava pelas costuras.
[JV] - Sim, sim./
Portanto, havia aulas na Casa cor-de-rosa.
[GF] - Foi o primeiro, o edifício cor-de-rosa. Depois veio o pavilhão Carlos Ramos./
O 1º e o 2º ano estava em Belas artes./
Houve uma fase que o Estágio era no 5º ano, portanto também libertou bastante as instalações.
[JV] - Mas sempre foi um bocadinho apertado.
[GF] - Com o Erasmus também se atenuou problemas de espaço.
[JV] - O programa Erasmus também veio ajudar um bocado, uma vez que se ficava, durante esse ano, livre de bastante estudantes.
[GF] - Progressivamente atraímos e recebemos mais Erasmus.
[JV] - Antigamente, tínhamos uma média de 90 estudantes a estudar fora, e vinham para cá uns 40 e tal. Depois foi aumentando, e agora está ela por ela.
[GF] - No início, vi muitos italianos e...
[JV] - Também vinham italianos, mas brasileiros sempre tivemos mais.
[GF] - O Erasmus deve ter começado nos anos 80/90.
[JV] - No fim dos anos 80, eu acho que já havia Erasmus. Não estou bem recordado, mas acho que sim./
V./
[GF] - E memórias sobre outro elemento da comunidade escolar, que são os professores./
É incontornável referir nomes icónicos como Fernando Távora, etc., com que o Sr Jorge contactou no quotidiano da faculdade, não é?
[JV] - Sim, sim. Um excelente ser humano!
[GF] - Que memórias quer partilhar dessas personagens mais antigas da escola?
[JV] - Da altura... Do professor Fernando Távora./
Sempre tive gosto em trabalhar com ele, e achava-o fantástico. Era uma excelente pessoa, muito animado e sempre brincalhão, conversador, amigo dos funcionários.
[GF] - Por vezes a gente olha para as fotografias e pensa “como seria?”
[JV] - Portanto, também conheci o professor Alexandre Alves Costa./
Todos os professores com quem eu trabalhei, achei-os sempre maravilhosos. Grandes amigos. Mantínhamos uma boa relação./
Agora, há professores bastante mais novos, mas nem por isso a relação é diferente. Tive-os como amigos, ainda enquanto estudantes e agora como professores.
[GF] - E outros como o professor Lixa Filgueiras, que ainda passou aqui pela FAUP.
[JV] - Ainda cheguei a conhecer o professor Lixa Filgueiras. Tinha problemas de locomoção, já estava doente./
Não me lembro assim de grande coisa. Lembro-me vir ali ao balcão, falar sobre sumários e outros assuntos. Ele já andava bastante doente.
[GF] - O Fernando Távora colhia apareço por parte dos alunos. Os alunos gostavam muito das suas aulas.
[JV] - Ah, sim, ouvia-se falar. Mas nunca tive assim um contacto tão próximo quanto isso.
[GF] - Duas escolas...
[JV] - Havia também, o professor que fez o projecto da Faculdade de Letras. Era uma excelente pessoa.
[GF] - O professor Tasso de Sousa.
[JV] - Era também uma pessoa espetacular. A neta dele anda cá a estudar.
[GF] - Sim. Ou o professor Bernardo Ferrão.
[JV] - Um grande amigo. Tenho saudades da sua presença./
Outra pessoa que eu adorei, era o Jorge Gigante.
[GF] - Jorge Gigante pai.
[JV] - Pessoa espetacular, simpática. O filho é igual.
[GF] - Sem dúvida.
[JV] - Recordo-me que, antigamente, os professores faziam o jantar de fim de ano./
Era um convívio bonito entre professores! Acabaram com isso…/
Ainda me lembro, juntavam-se todos. Uns anos eram os engenheiros a fazer, outros anos eram os desenhadores. O professor Grade, a Helena Albuquerque… E o nosso padre José Maria Cabral Ferreira. Todos confecionavam, em cada ano, um prato diferente./
[GF] - O professor Cabral Ferreira.
[JV] - Acho que ele nasceu aqui, porque neste local existia a quinta que era dos seus pais.
[GF] - Penso que da família. Um homem muito simpático.
[JV] - Eram pessoas espetaculares.
[GF] - Tivemos aqui uma professora, que era a Dra Lourdes, de Geografia.
[JV] - Ui, a Dr Lourdes. Uma excelente pessoa, que depois acabou por ir embora...
[GF] - Ou o professor Manuel Fernandes de Sá.
[JV] - Outro grande amigo. Bom ser humano./
Ou o Rui Póvoas, que ainda cá continua. Como tantos outros.
[GF] - O Alcino Soutinho.
[JV] - Pessoa de quem tenho muitas saudades. Um ser humano como poucos./
E o Carlos Medeiros, que vai deixar de dar aulas. Outro grande amigo!
[GF] - O engenheiro Carlos Medeiros, é o último ano que dá aulas.
[JV] - Muito simpático, sempre bem disposto./
O Victor Abrantes, outra jóia de pessoa, na esteira dos anteriores. Ainda outro dia esteve cá!
[GF] - No doutoramento honoris causa do Frampton?
[JV] - E o professor Victor Abrantes esteve cá, tendo eu, uma vez mais, o privilégio de o cumprimentar. Pessoa amabilíssima, 100%.
[GF] - O arquiteto Siza Vieira terá sido o padrinho pela UP. É muito, muito boa pessoa.
[JV] - Nunca convivi assim muito, vejo-o às vezes por aí./
O filho do Siza Vieira veio aqui terminar o curso e agora há cá o neto do Siza, que é o Henrique./
O Souto Moura também é porreiro. Vi-o no outro dia, no doutoramento honoris causa. Ele tem duas filhas, ambas terminaram cá o curso.
[GF] - Ele, num par de alturas, deu cá aulas.
[JV] - No 4°ano chegou a dar aulas recentemente.
[GF] - Mas já dera décadas antes! Dizem que era muito aplicado./
VI./
[JV] - Havia uns professores mais certinhos que outros...
[GF] - Você já estava cá quando o professor Nuno Portas veio.
[JV] - O professor Nuno Portas, outra excelente pessoa./
Eu já estava cá./
Quando fiz a greve de fome, ele ainda estava na Câmara./
Na altura, não pode visitar-me mas fez questão de me enviar uma agradável mensagem. Também o acho uma pessoa muito simpática.
[GF] - E haveria muitos outros professores inesquecíveis, como a professora Beatriz de Madureira, etc.
[JV] - Era uma excelente pessoa./
Quando dava a primeira aula, os caloiros não sabiam onde se haviam de meter!
[GF] - Aquilo da “aula fantasma“, simulada para os alunos recém chegados.
[JV] - Era sempre o Valentim. Pintava o cabelo e tudo. Fazia umas coisas engraçadas. Com o tempo, tudo acabou.
[GF] - Mas havia também jantares, bem como eventos de receção aos novos alunos.
[JV] - Era uma forma diferente de receber a malta nova. Corríamos os tascos todos./
VII./
[GF] - Retomando as suas memórias dos professores./
Entre esses, está o grupo que foi conduzindo a Escola ao longo das décadas. De resto já foram mencionados nomes icónicos, como os professores Fernando Távora, Alves Costa, Sérgio Fernandez, etc.
[JV] - Era alguns, pois.
[GF] - Como o Manuel Correia Fernandes.
[JV] - O Correia Fernandes... uma pessoa simpática.
[GF] - Penso que havia várias fações...
[JV] - Várias fações. E começou a haver muita divisão, uma pena…
[GF] - Você, que entrara em 1987, presenciou jantares até quando?
[JV] - 7 anitos, se tanto... Não me lembro quando é que foi o último jantar.
[GF] - E os grupos também se iam dando.
[JV] - Iam-se dando, mas nada como quando para cá vim.
[GF] - E presenciava também os eventos dos estudantes.
[JV] - Participava em tudo que dizia respeito aos estudantes. Sempre gostei da amizade deles e procurei sempre ajudá-los dentro das minhas possibilidades.
[GF] - Então, e os jantares passado poucos anos...
[JV] - Acabaram.
[GF] - A Faculdade estava a ser construída…/
Houve uma altura em que se começou a ouvir: “Estamos todos aqui, mas uns afastaram-se para a outra ponta do balcão...”
[JV] - Eu acho que as divisões acentuaram-se mais quando a faculdade começou a funcionar. Era maior. O espaço era maior, e as pessoas, dá impressão que começaram a fugir, cada grupo para seu lado.
[GF] - Quando veio tudo funcionar para as torres?
[JV] - Sim.
[GF] - E se deixava de estar na Casa cor de rosa.
[JV] - E nas Belas Artes. A partir daí acho que as coisas começaram a ser diferentes./
Havia vários grupos. Havia os mais velhinhos, havia os intermédios, e depois havia os novitos.
[GF] - Acha que tinha a ver com a idade? Não só.
[JV] - Não só, mas também./
Daquela geração mais antiga.../
Do dizer-se que a faculdade era gerida como uma pequena mercearia.../
Foi lido num jantar um documento. A festa não se estragou nem nada, a malta riu-se, mas havia ali um recado...
[GF] - Nesse jantar, à frente dos funcionários?
[JV] - Sim. Os jantares eram dos professores, e poucos funcionários eram convidados. Não eram jantares de professores e funcionários.
[GF] - E a Dra Maria Luísa?
[JV] - A Maria Luísa era boa pessoa. Tinha uma forma própria de funcionar com algumas outras pessoas./
VIII./
[GF] - O que se lembra do período coincidente com a direção do professor Alexandre Alves Costa, que se estende por 8 anos? Há memórias que queira partilhar?
[JV] - O professor Alves Costa na altura estava no Executivo, era o presidente.
[GF] - Os alunos da altura, incluía por exemplo o Jorge Figueira, etc.
[JV] - Era malta que se dava muito bem com o Alves Costa./
Ele era uma pessoa afável. E em termos de ensino, as pessoas iam muito às aulas dele, àquelas nos auditórios.../
Mas pronto, na questão de funcionamento da faculdade e tudo o resto, eu acho que funcionava bem. Não havia falta de nada. Mesmo na parte de carpintaria e serralharia, tudo funcionava muito bem./
Depois mais tarde, começou a funcionar pior./
[GF] - Isto foi mais ou menos 8 anos, cada [direção]...
[JV] - O professor Alves Costa. Bem como o professor Sérgio Fernandez...
[GF] - Que correspondem ao período da Casa cor de rosa, do pavilhão Carlos Ramos.
[JV] - O período da minha chegada, dos jantares.../
Ainda me lembro que entrei em novembro, e em fevereiro o Alves Costa fazia anos (acho que era no mesmo dia da Maria Luísa, se não me engano). Eu, o Sr Joaquim e o Sr Adão fizemos um grande almoço, a pedido, para todos os funcionários. Estava o bar cheio de funcionários e professores. Funcionava como uma família. Tudo ia funcionando.
[GF] - Depois, nos anos 90, penso que até 1998 ficou o Manuel Correia Fernandes a gerir a casa. Quer partilhar mais alguma memória?
[JV] - O professor Correia Fernandes era uma figura diferente do professor Alves Costa. Conversava, mas acho que as coisas eram um bocadinho mais frias... Não que eu alguma vez tivesse tido algum problema com ele./
E, em questão de ensino, os professores foram quase sempre os mesmos, não é?/
Problemas, houve um. Não sei se foi já em período coincidente com a direção do Correia Fernandes, ou ainda durante a direção do Alves Costa, em que o estágio passou para o 5º ano. Então, aí, houve uma revolta dos estudantes.../
IX./
[GF] - Foi num desses períodos que começaram os churrascos, com o Sr Jorge.
[JV] - Os churrascos começaram já no tempo do Calau e do Nuno Almeida.
[GF] - Ambos, o Calau e o Nuno Almeida, chegaram a coincidir na Associação de estudantes.
[JV] - Sim! Os churrascos começaram na altura deles. Malta porreira.
[GF] - Começou à porta das cavalariças, que era a Associação de estudantes.
[JV] - Eu era muito amigo deles. Havia o Ademar, o Rodolfo, o Rui... O Ademar e o Rodolfo eram irmãos. Pronto eramos muito amigos, conversávamos. E um dia, coloquei a hipótese de assar umas febras, à sexta-feira, ao fim da tarde.
[GF] - Eu entrei em 1993, isso já havia há anos!
[JV] - Eu acho que aquilo foi 1989/90./
E pronto, a partir dali muita malta, começou a querer participar. A Elizabete Cidre e mais uns quantos. Se havia aniversário, havia febras assadas e cerveja.
Começou-se a levar as festas para o exterior do Carlos Ramos. A malta, com os copos, já dançava em cima das palas... O Rodrigues, o madeirense, era um castiço e uma vez até step fez. Assim começaram os churrascos na FAUP.
[GF] - Você coincidira ainda com o grupo de estudantes como o Jorge Figueira, o Nuno Grande, etc.
[JV] - O Jorge Figueira é um tipo espetacular. Também o Manuel Ventura, etc./
Havia o filho do Pedro Ramalho, o Sérgio, também uma excelente pessoa./
Havia outro que era de Coimbra, que tinha um irmão que estava a estudar em Viseu. Um tipo porreiro também, que era no ano do Jorge Figueira.
[GF] - O Calau era muito porreiro. Encontrei-o em Barcelona.
[JV] - Era um tipo espetacular./
O Nuno Almeida também andou muito pela Holanda./
[GF] - Mas quando você veio, o presidente dos estudantes foi o Calau./
E anos depois foi o Rafael, etc.
[JV] - Aquela malta toda, do Frutuoso, ao João, passando pelo Rafael. Malta porreirinha./
E era tudo de borla. As febras não se pagavam, no tempo do Frutuoso. Eu cheguei a assar 150 kg de carne num churrasco. É muita coisa!
[GF] - O record foi 150 kg de carne?
[JV] - Foi 150 kg, 60 pipos. Só num churrasco!
[GF] - Houve uma altura que já vinham pessoas de fora.
[JV] - Os churrascos já eram anunciados aqui no Arrábida Shopping... Aparecia aqui muita gente...
[GF] - Diz que “os churrascos já eram anunciados aqui no Arrábida shopping”. E você, deixou de vir quando?
[JV] - A partir de 2018. A minha esposa faleceu em 2018./
Eu já vinha de vez em quando, mas a partir dai, deixei de vir. Portanto, desde 2019, ainda não vim a nenhum. Vou fazer agora este dos estudantes que terminaram o curso há 25 anos.
[GF] - Quem é que organiza, para além do meu colega António Neves?
[JV] - É o Tó Neves, a Catarina! Há muita malta a querer participar, mesmo não tendo terminado o Curso naquele ano. E dia 17 de julho aí estamos!
[GF] - À moda antiga, era no Carlos Ramos ou junto ao portão da Casa cor de rosa.
Depois em determinado momento passaram cá para baixo, à frente do bar.
/X./
[GF] - Depois também existiram os “jantares de natal”.
[JV] - Sim! Grande festa e faziam-se cá em cima na sala grande.
[GF] - Era para os funcionários.
[JV] - E para a malta da direção.
[GF] - No tempo da direção do professor Carlos Guimarães organizou-se um jantar lindíssimo, talvez de natal ou a comemorar a reabilitação da Casa cor de rosa.
Mas devemos estar a saltar uns anos?
[JV] - Do Francisco Barata.
[GF] - O Francisco Barata pertencente à geração nova. Não houve um lanche, uma vez, no espaço do Museu da Faup?/
Ou mesmo antes, o período da direção do Domingos Tavares.
[JV] - O Domingos Tavares.
[GF] - E depois foi entrar-se em Bolonha, e por aí adentro.
[JV] - O Domingos Tavares... É uma pessoa amiga dos outros, que na faculdade, esteve como presidente do Conselho diretivo.
Também esteve o Correia Fernandes. Foi mais mão fechada.
[GF] - O Alexandre Alves Costa… Você dizia à pouco que era...
[JV] - Era uma coisa mais familiar...
[GF] - No tempo do Alves Costa e do Domingos Tavares.
[JV] - Sim.
[GF] - Que estiveram juntos na comissão instaladora… Penso que o Manuel Correia Fernandes não esteve.
/XI./
[JV] - E no tempo do professor Francisco Barata...
Era uma geração mais nova, ia tentando resolver as coisas.
[GF] - Ele gostava muito da faculdade.
[JV] - Gostava imenso da Faculdade. Era um professor rigoroso, uma pessoa rigorosa. Gostava das coisas direitas./
E o professor Francisco Barata era muito amigo dos funcionários.
[GF] - E a Dra Maria Luísa?
[JV] - Na altura do professor Francisco Barata, ainda estava cá.
[GF] - A sua aposentação terá sido quando?/
Acho que na Escola, já estava tudo definido na altura do Domingo Tavares./
Houve os 10 anos lá em cima, a transição de tudo, talvez até finais dos anos 90. Acho eu./
E agora estamos aqui há mais de 2 décadas.
[JV] - Há 20 anos.../
Isto sempre funcionou. A faculdade sempre funcionou, tanto a nível de estudo como ao nível dos serviços.
[GF] - O Francisco Barata estava presente até anoitecer.
[JV] - Acho que não era muito de andar em cima./
Acho que no tempo do Correia Fernandes era, as coisas eram diferentes, mais controladas…
[GF] - Pelo que você diz - sempre funcionou. Identificou-se...
[JV] - Identifico-me com todos. Uns mais rigorosos que outros, mas todos excelente pessoas.
[GF] - Na altura do professor Carlos Guimarães recuperou-se edifício./
O professor Francisco Barata queria também, penso eu, criar uma relação com a Reitoria./
E o professor Carlos Guimarães, penso que investiu nesta coisa da comunicação, da coisa mais pública.
[JV] - Sim. E ele era presidente da Ordem dos arquitetos na altura.
[GF] - E agora quiçá terá continuidade essa linha.
[JV] - Com o professor João Pedro Xavier na mesma linha... Até porque é mais novo, não está tão habituado. Vai tentando levar as coisas, e acho que a faculdade funciona. Ele foi aprendendo com o Carlos Guimarães. Passou de vice-presidente a presidente./
Tem uma equipa que o vai ajudando... A professora Teresa Cálix e a professora Raquel Paulino vão ajudando, pois já trabalharam em várias fases, com outros presidentes.
[GF] - Embora sejam novas.
[JV] - Sim, sim. Embora sejam mais novas./
Têm arcaboiço, e acho que ajudam muito o professor João Pedro Xavier./
Acho que ele também ficou no cargo a contar, se calhar, com a ajuda da malta que está à volta dele. E escolheram-no a ele, porque tem uma forma de ser especial.
[GF] - É afável.
[JV] - Há pessoas que têm habilidade para algumas coisas.
/XII/
[GF] - Dizia antes que houve um período em que o Carlos Guimarães estava na Ordem dos arquitetos./
Por outro lado, também penso que houve cursos ao longo do tempo que foram abrindo. Tornou-se mais complexo.
[JV] - Cada vez mais cursos. Eu acho que isto é uma forma das faculdades simultaneamente angariarem fundos e tentarem espalhar mais conhecimento.
[GF] - Nem sempre captam uma quantidade viável de inscrições...
[JV] - Dá trabalho.../
Nós tivemos aqui um curso que, acho, até tinha bastantes candidatos. O de “Planeamento e projeto do ambiente urbano”, que depois passou para a faculdade de engenharia.
[GF] - Mas o Sr Jorge só esteve sempre no Miarq.
[JV] - Eu estive sempre ligado mais à arquitetura, à base.
[GF] - Portanto, a Mariana e o Valentim estiveram mais ligados aos mestrados antigos e aos doutoramentos./
Penso que quando o Nuno Portas esteve cá, o mestrado de Planeamento urbano era importante, e grande parte dos professores frequentaram-no.
[JV] - Sim, sim. Toda a gente gostava.
[GF] - A faculdade mais recentemente, se permanecer envolvida, penso que será apenas com alguma cadeira.
[JV] - Os diplomas são passados na Faculdade de engenharia.
[GF] - Mas há cursos de formação continua, ou de pós-graduação. Penso que incluso em projeto./
Por outro lado, não esquecer o curso de Património, que também foi frequentado por alguns professores. E que envolveu entre outros, o Rui Póvoas. Acho que abria de 2 em 2 anos.
[JV] - Esse vai havendo. Vão tendo alguma procura./
Parece mais para contar no currículo. Toda a gente quer abrir um curso. Mas, abrir um curso ainda dá trabalho, com candidaturas, pagamentos, etc...
[GF] - Mas também é bom... Para desenvolver várias áreas que integram dentro da arquitetura.
[JV] - E, portanto, tudo serve para o desenvolvimento da arquitetura.../
Quem está agora com isto é o Pedro França. A Dra Susana esteve a restruturar um pouco os serviços. Estou eu e o Valentim ali no atendimento e está o Pedro França com a abertura de cursos e outros serviços.
[GF] - A partir de determinado momento foram aumentando o leque de UC optativas disponibilizadas.
[JV] - E funcionam.
[GF] - A revisão dos Planos de estudos foi aumentando...
[JV] - Foram aumentando. E agora todos os anos aparecem mais unidades opcionais novas.
[GF] - O estudante tem de fazer uma cadeira opcional no 4º e no 5º ano./
No 2° ano tem de fazer duas. Mas, há cadeiras opcionais em cada semestre: Geografia, Introdução ao paisagismo, e havia a de Grandes projetos urbanos.
[JV] - Havia Grandes projetos urbanos, mas o Rui Braz foi embora./
Os estudantes têm de fazer duas UC’s opcionais no 2° ano e só têm 3 para escolher.
[GF] - No 3°ano tem de fazer duas. Podem escolher CAAD, Desenho de Figura humana, etc, em quatro.
[JV] - Duas em quatro.
[GF] - E no 4° e 5° ano têm de fazer um. E, neste momento, tem para escolher muitas.
[JV] - Para aí algumas 15, não estou certo.
[GF] - Se calhar há algumas que em alguns anos não funcionam.
[JV] - Pois não.../
Há critérios de seriação que são criados em algumas. No conjunto do 4° e do 5°ano, devemos ter à volta de 220/230 estudantes… Se se dividir esse número por 15 cadeiras, dá cerca de 17 estudantes por cadeira, mas nem todos querem as mesmas. Há cadeiras que quase só funcionam com Erasmus. Por exemplo, na História da cidade do Porto, do professor Rui Tavares, a maior parte é Erasmus./
XIII./
[GF] - Mas retomando ou rematando. Você entrou e passaram tantos anos...
[JV] - Eu estou aqui há 33/35 anos./
Eu adapto-me a tudo e a toda a gente./
Sempre fui uma pessoa que gostei dos outros. Aprendi muito e mudei muito a minha maneira de ser desde que vim trabalhar para a faculdade. Era muito introvertido. O convívio com a malta nova ajudou-me imenso./
Portanto é o que tiro. Eu era tímido e ajudou-me muito conviver com esta malta nova...
[GF] - Profissionalmente, foi feliz na Faup. E reforma-se daqui a 4 anos.
[JV] - Fui e sou feliz./
Estou num sítio espetacular. A minha cadeira de sonho.../
Nunca gostei de… Quando comecei a estudar, na altura para uma criança em Angola o estudo era mais complicado do que é agora. Com os professores. Ainda havia as réguas... Ainda cheguei a levar umas palmadas, e nunca gostei muito de estudar./
Depois vim, a seguir ao 25 de abril, para aqui. Vim do calor, de onde não chovia, para este clima e esta terra estranha. Cheguei aqui em dezembro 1974 e, em janeiro, estava a estudar na escola Infante Dom Henrique. Chuva, frio, professores diferentes./
Não me adaptei, perdi um pouco a vontade de estudar, mas estava destinado a passar o resto dos meus dias numa Escola. E que Escola!/
Adoro estar cá. Adoro toda a malta.
[GF] - Mas Sr Jorge.../
Você sabe que não é qualquer pessoa que tem os estudantes de há 25 ou 30 anos atrás de si... O Sr Jorge foi sempre um facilitador, e para muitas gerações de estudantes.../
Agora há horários para entrar na secretaria... (Risos)
[JV] - Antigamente entravam pela porta do bar. A Maria Luísa ficava brava comigo. (Risos)
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