2/28/23

continuidade e ruptura na arquitectura de Távora e Siza

 

Sistematizei nos idos  90s  no texto “continuidade e ruptura na arquitectura de Távora e Siza”: 

Os princípios do movimento moderno foram postos em causa, mesmo dentro do próprio CIAM, onde se reivindicava uma reaproximação à realidade, coma  criação do TAM X e um reorientamento dos mestres do movimento Moderno Nacional, é igualmente responsável pela ultrapassagem do mesmo. Para isso contribuíram diversos fenómenos. A influência do neorealismo italiano, que procurava de certa forma determinado contextualismo e uma nova concepção do espaço como produto dos contributos de Zevi, Bachelard  etc, a perplexidade perante a obra (fundamentalmente) de Wroght e Aalto, mas principalmente a realização do Inqérito à Arquitectura Popular com que se ganha consciência/admiração pela realidade portuguesa. A problemática dual Moderno/tradicional no seio do campo da arquitectura prolongar-se-á até aos finais dos anos 60.

A procura de uma terceira via reflecte-se nas intervenções, algo híbridas e revolucionárias para então, de Fernando Távora. EM grande medida, a “Casa de Ofir” sintetiza as incertezas e preocupações de então: Funcionalista na clareza das funções, orgânica na relação com o terreno, o betão de Corbusier com a cobertura de Wright, e fortemente determinada pela arquitectura popular. As obras seguintes, embora igualmente modestas, continuam a possuir este significado – a difícil tentativa de síntese de diversos e opostos. Impasse só resolvido eventualmente pela “Escola do Cedro” de 1958. Távora possui uma vontade verdadeiramente integradora para reconhecer a condição diversa da disciplina.

Estas obras são o ponto de partida para a investigação exaustiva que realizará o então colaborador de Távora, Álvaro Siza Vieira. Na sua primeira obra – um conjunto e 4 divisões - , tal como nas que se seguem, é bastante clara a influência do percurso traçado por Távora. Siza parte da consciência da especificidade portuguesa conquistada por este. Assim, Siza age esclarecendo no que nesta aparente diminuição/deficiência tecnológica ode ser elevada a um  desenho rigoroso. Origina-se assim uma Arquitectura de linguagem mimética, grande sobriedade e economia de meios, mas essencialmente torna-se possível, neste ddescomplexamento, definir um novo método projectual.

O caminho de Távora e Siza justificam uma maneira de pensar e fazer arquitectura, um método e uma produção. A produção arquitectónica do Porto - frequentemente tida como alegadamente marginal – embora enraizada profundamente na prática da arquitectura moderna, parte do entendimento dos seus recursos e reconhecimento da sua tradição e, por isso mesmo, fundamenta-se numa atitude de contenção, economia, integração e (de rupturas em) continuidade.

Gonçalo Furtado, ca. 1994-1999

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