Sistematizei nos idos 90s no texto “continuidade e ruptura na arquitectura de Távora e Siza”:
Os princípios
do movimento moderno foram postos em causa, mesmo dentro do próprio CIAM, onde
se reivindicava uma reaproximação à realidade, coma criação do TAM X e um reorientamento dos mestres
do movimento Moderno Nacional, é igualmente responsável pela ultrapassagem do
mesmo. Para isso contribuíram diversos fenómenos. A influência do neorealismo
italiano, que procurava de certa forma determinado contextualismo e uma nova
concepção do espaço como produto dos contributos de Zevi, Bachelard etc, a perplexidade perante a obra
(fundamentalmente) de Wroght e Aalto, mas principalmente a realização do Inqérito
à Arquitectura Popular com que se ganha consciência/admiração pela realidade
portuguesa. A problemática dual Moderno/tradicional no seio do campo da arquitectura
prolongar-se-á até aos finais dos anos 60.
A procura de uma terceira via reflecte-se nas intervenções, algo híbridas
e revolucionárias para então, de Fernando Távora. EM grande medida, a “Casa de
Ofir” sintetiza as incertezas e preocupações de então: Funcionalista na clareza
das funções, orgânica na relação com o terreno, o betão de Corbusier com a
cobertura de Wright, e fortemente determinada pela arquitectura popular. As
obras seguintes, embora igualmente modestas, continuam a possuir este significado
– a difícil tentativa de síntese de diversos e opostos. Impasse só resolvido eventualmente
pela “Escola do Cedro” de 1958. Távora possui uma vontade verdadeiramente
integradora para reconhecer a condição diversa da disciplina.
Estas obras são o ponto de partida para a investigação exaustiva
que realizará o então colaborador de Távora, Álvaro Siza Vieira. Na sua
primeira obra – um conjunto e 4 divisões - , tal como nas que se seguem, é
bastante clara a influência do percurso traçado por Távora. Siza parte da consciência da especificidade portuguesa conquistada
por este. Assim, Siza age esclarecendo no que nesta aparente diminuição/deficiência
tecnológica ode ser elevada a um desenho
rigoroso. Origina-se
assim uma Arquitectura de linguagem mimética, grande sobriedade e economia de
meios, mas essencialmente torna-se possível, neste ddescomplexamento, definir
um novo método projectual.
O caminho de Távora e Siza justificam uma maneira de pensar e
fazer arquitectura, um método e uma produção. A produção arquitectónica do Porto
- frequentemente tida como alegadamente marginal – embora enraizada
profundamente na prática da arquitectura moderna, parte do entendimento dos
seus recursos e reconhecimento da sua tradição e, por isso mesmo, fundamenta-se
numa atitude de contenção, economia, integração e (de rupturas em) continuidade.
Gonçalo Furtado, ca. 1994-1999
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