Figueira da Foz #1: Da apetência
como estância balnear
Gonçalo Furtado
Se olhamos representações
panorâmicas antigas da Figueira da Foz, por exemplo em pinturas ou nas
fotografias que existiam no Arquivo Municipal da Figueira da Foz, ali está o
que a fez. O ponto de encontro de um rio com o mar, uma baía abraçada por uma
Serra.
De facto, o povoamento da
Figueira da Foz surgiu da costa e do rio Mondego e foi, depois e desde cedo, adquirindo
um ambiente urbano caracterizado pela pesca e construção naval.
A excelência da “Praia da
Claridade” e o reconhecimento da urbe como estância balnear veio já
referenciado por Ramalho Ortigão em 1870s, denominando-a como a “mais linda
praia de banhos de Portugal”. Na obra literária “As Farpas”, constam as
palavras “Não tem outro remédio senão vir à Figueira quem quiser ver a mais
linda praia de banhos de Portugal”. Tal já que “nenhuma outra praia em
Portugal possui as condições desta para tornar agradável a estação de banhos”,
como tal escritor deixou registado na edição de 1876 de “As praias de
Portugal: Guia do banhista e do viajante”
pela Livraria Universal de Magalhães e Moniz. Registo
claro de um esplendor e protagonismo que se prolongaria pelas primeiras décadas
do século XX.
A enseada, possui desenho sensual entre a Figueira da Foz e Buarcos, como é visível na subtileza da curva presente no Plano hidrográfico entre Buarcos e Figueira da Foz. (Pode-se ver uma reprodução de fotográfica do MOP, por exemplo no livro “Figueira da Foz” de José P. de A. Borges, publicado pela Editorial Presença em 1991).
Foi um período único, aquele que compreendeu os meados do século XIX e o início
do século XX. E sobre tal, pode-se recorrer à historiografia local referente
precisamente ao período entre 1860 e 1910 de Rui Cascão, intitulada “Figueira
da Foz e Buarcos: permanência e mudança em duas comunidades do litoral:
1861-1910”, publicada em 1998 pelo Centro de estudos do mar e das
navegações, a Câmara Municipal da Figueira da Foz e a Livraria Minerva.
É identificável (entre outros
aspectos) o desenvolvimento paralelo de duas realidades: a urbana e dos
transportes e a da indústria do turismo e do espetáculo. No que tange ao
turismo Português, pode-se de uma forma expedita identificar 3 épocas. Uma
primeira no fim do século XVIII ligado às termas. Um segundo nas últimas décadas do século XIX, em que Portugal se
apresenta em várias exposições internacionais (entre elas a de Paris) como um “Lugar onde há sempre um quarto no
coração” - o que figura um texto de Ramalho Ortigão que Rafael Calado considera inaugurador do Turismo . E um terceiro
verdadeiramente “moderno” em que a viagem
“cá dentro” se abre ao exterior em contemporaneidade com uma
“modernização” do Estado Novo.
Sabe-se que o progresso da
Figueira da Foz foi simultâneo à decadência de Buarcos desde o século XVII; existindo
ainda a denominada “Povoação da Praia” pelo meio, que seria absorvida pela
concretização de uma estrada municipal entre Figueira e Buarcos. Mas podemos
constatar que, urbanisticamente, a mutação da fisionomia da vila setecentista
ocorre ao longo da segunda metade do século XIX, a qual se renova e expande no
sentido nascente e (retenha-se) do mar. Torna-se cidade em 1882 e, no início do
século, constituía-se já como uma comunidade tipicamente urbana.
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