Gonçalo Furtado, Compondo a FAUP, in: AAVV, MA, N.3, AEFAUP, Porto, p.64-66.
"O termo “composição” integra o léxico de varias disciplinas, da Arte e Arquitectura à Música.
Juan Corral alude ao termo num
pequeno “Manual de crítica da
Arquitectura”. Sem nos estendermos, podemos sintetizar que para aquele, a “Crítica é uma poética, uma nova criação”
(p.207). “Propõe uma crítica como poética, i.e. como
busca de palavras que estabeleçam com a obra e o autor de arquitectura um
diálogo inerente a toda a criação” [p.contracapa]. A seu ver, a critica sucede a teoria: “A crítica fala-se fundamentada também pela
teoria, de que recebe a sua razão interpretativa, seu critério, diz Morales”.(p.36) Defende “fazer crítica e não teoria” (p.39), deixando nós para outra
oportunidade a distinção entre dessa dualidade, tanto mais pela proximidade que
existe no ensino da FAUP entre as duas.
Mais importante para o que agora
nos prende, é o facto de Corral nos recordar a importância da composição em Música,
exercício difícil e exigente, consignado ao final dos estudos nessa disciplina,
reclamando domínio dos instrumentos e linguagens.
(Faça-se um aparte para referir
que no ensino de teoria na FAUP, podemos dizer que TGOE providencia uma
familiarização introdutória a elementos/vocabulário da arquitectura. Mas já Teoria 1, entende-se enquanto contacto
com as ideias/linguagens de Arquitectura).
Não é aqui o momento propício
para nos estendermos relativamente a nossa ideia de pós-modernidade que inclui
o neo-moderno.
Certo é que o posterior avanço
para além da dualidade e do triádico, defronta-se com dificuldades mais
complexas. Em grande sentido, Álvaro Siza ou a ambiguamente apelidada Escola do
Porto, veio exemplarmente optar por equilíbrios de composição mais complexos,
num deliberado artístico e político forçar das leis da composição formal e da
mais fácil apreensão.
...
Para mim, é relevante não deixar
de atender que o Regionalismo Crítico muitas vezes mal entendido, seja
contemporâneo à denominada estratégia conceptual da Desconstrução (i.e. o
projecto construir desconstruindo significados). Tornando-se produtivo
ensinar-se hoje para lá dos valores tanto antigos como comuns da composição.
Deve também “ensinar-se de imediato essa
decomposição que constrói desconstruindo”. (p.)
...
Porque o propósito de uma
escola que se quer teoricamente forte, não é só para saber onde estamos. Mas
para o distinto entendimento de uma arquitectura enquanto proposição
permanentemente reflexiva. Um “projecto
crítico” (Furtado, 2004),
onde a Teoria mais que promover esta ou aquela prática, problematiza a sua
historicidade, condições e propósitos para a prática lhe contemporânea, e fins
sociais.
Não se podendo pois considerar
como ingénuo, a ainda crença no benefício de providenciar via “Teoria” ferramentas para a crítica,
projectual. Ou dito de outra forma, de se propiciar um conhecimento de linguagens
do pensamento arquitectónico (i.e.
Teoria tout court e distinta da História),
propiciando a construção de uma “caixa de
ferramentas” (definição dada à Teoria por Neil Leach) por parte de cada
aprendiz a futuro arquitecto. Por uma criticidade que só pode surgir do
conhecimento da Teoria, nascendo dela, sem sobreposição com a necessária História.
Uma crítica que longe da “peste de vocábulos vazios” que contemporaneamente
também indigna a personagens como Corral, emane da “teoria que propunha Morales, como fundamentadora do fazer”. (p.20)
E na nossa Escola do Porto, temos pelo menos continuado a tentar saber pensar como fazer."
...
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