NOTAS A PROPÓSITO DE NUNO PORTAS, BEM
COMO DA ESCOLA DO PORTO (EM TEMPOS DE COVIDIS)
Gonçalo
Furtado, Dezembro 2020
i.
Entre as primeiras construções de
arquietctura modernas encontra-se o IST de Pardal Monteiro (30/40s),
notável centro da engenharia portuguesa, como cresci a ouvir o meu pai dizer. É
no mesmo contexto Lisboeta, que operava o LNEC - Laboratório Nacional de
Engenharia Civil - um dos centros cruciais da ciência nacional, ainda que tenha
surgido polo no Porto. LNEC e IST estes que refletirão, entre o pós-guerra e os
anos 60/70 avanço rumo á integração do novo mundo da computação, e sua história
que deambulará entre o que podemos denominar por IA e SOC.
ii.
Já no dominio da crítica de Arquietctura, Nuno
Portas emerge como figura crucial; e nos 60s, as problemáticas teórico-criticas
nacionais recentraram-se nas metodologias de projecto, respondem às necessidades habitacionais etc,
Salientar que Portas viria
a ser acolhido como investigador "oficial" do LNEC, ainda que fosse
uma figura proveniente da arquitectura (área então sem grande reputação em
termos de investigação "cientifica"), numa altura em que o próprio
detinha já protagonismo como professor bem como crítico de arquitectura e
outras áreas em publicações da especialidade.
Portas integrará ainda o 1º
governo provisório, e conceptualizará o SAAL - Sistema ambulatório de apoio
local - como programa de habitação social visando resposta à carência no
período pós-democrático (No LNEC saliente-se ainda a contribuição do então
estagiário arquitecto Alexandre Alves Costa, que viria a assumir na Porto
também papel no seio do SAAL). SAAL cuja importância de resto, diga-se em
conjunto com a singularidade do portuense Alvaro Siza Veira, seria motor
crucial também para a visibilidade internacional que a arquitectura portuguesa
hoje possui internacionalmente'.
iii.
Já o relevo da investigação
de Portas dos anos 60/70, esse centra-se no original cruzamento na cultura
arquitetónica (pelo menos) nacional, isto é, de uma linha de pensamento marcada
pelo reforço do papel do arquitecto desde a resposta a habitação do pós-guerra,
e as preocupações sociais dos anos 60/70 (recordando que Portas contactava com
o círculo da nova 'sociologia' nacional de então); com os enfoque na metodologia de projecto (os “design methods” do
mundo anglo-saxónico etc) e das promessas da computação. Protagonismo que
se ampliou ao longo da vida, numa multiplicidade de enfoques rumo a uma maior
conceptualização/desmaterialização/despersonalização - que vão da crítica de
arquietctura e promoção de arquitectos singulares desde os 50s; à habitação evolutiva
e métodos/metaprojecto dos 60/70s; ao urbanismo e regulamentação entre os anos
70/90s; até à condução do conselho científico da Escola do Porto, onde, até à
sua jubilação, nao deixou de também revelar a sua inteligência (veja-se a
sequência de planos de estudos...).
iv.
Podemos dizer
que hoje a pandemia/confinamento, implicou uma reconfiguração espaço-funcional
do doméstico que justifica investigação. O pretexto não será hoje perseguir
low-cost-housing, mas antes reconfigured housing interiores'. Numa altura em
que nos afastámos da carência dos anos 60/70, da especulação pós-moderna das
décadas seguintes, urgem agora reflexão sobre a domesticidade contemporânea e
novos modos de habitar.
Já no que á
Escola do Porto se refere, o confinamento, simultaneamente legitima um certo
vazio do silêncio, quiçá o reivindicar de algum impulso transformador (após uma
antecedente década de ascetismo branco), mas seguramente a necessidade de uma
re-credibilização em tempos congelamentos de progressão, obrigatoriedade de avaliações
anuais, repartições de poder, acenar de desconhecidos, e um futuro incerto.
Acrescendo a
4 pequenos textos escritos durante a Pandemia - sobre Alexandre Alves Costa,
Manuel Correia Fernandes, Domingos Tavares e Francisco Barata - cumpria-me
agora (com o presente inicio da "vacinação") o presente apontamento
sobre o protagonista Nuno Portas.
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