writings on architecture, design and cultural studies (incl. cedric price, gordon pask and many other stuff)
7/21/24
CONVERSA SOBRE ARQUITECTURA E ESCOLA DO PORTO (Pedro Santos com Gonçalo Furtado)
CONVERSA SOBRE ARQUITECTURA E ESCOLA DO PORTO _ MAIO 2020
(Pedro Santos com Gonçalo Furtado).
I.
[GF] - Estamos a 5 de maio. Pedro Flores, Assim, resumidamente: o teu ingresso, em graduações, pós-graduações…
[PF] - Então, entrei em 1995, terminei em 2000/2001. Em 1999/2000, Erasmus em Barcelona. Mais tarde, o Programa de Doutoramento, em 2008 que terminei em 2017.
[GF] - E por cá…
[PF] - Na faculdade, a dar aulas em 2020/2021.
[GF] - E a prática profissional?
[PF] - Comecei logo depois do estágio a minha praticamente sozinho. Sempre em sintonia com os meus colegas.
[GF] - E construíram?
[PF] - Essencialmente moradias, sempre pequenos programas.
[GF] - As casas da burguesia.
[PF] - Se ter uma casa é ser burguês? Se calhar agora… Construímos casas de 100.000 euros que, agora, já não se conseguem fazer.
[GF] - E eram publicadas.
[PF] - Publicávamos, a princípio outras coisas “esquisitas” que fazíamos.
[GF] - Muitas eram só publicação.
[PF] - Sim, mas funcionavam como exercício de grupo.
[GF] - Agora as revistas, quer dizer, quase que não as há… é mais um “chat” para mandar?
[PF] - Sim, é preciso uma certa disciplina que não temos e deixamos de acompanhar. Porque tudo fica mais saturado.
[GF] - Tudo coisas do digital, mesmo nas Câmaras.
[PF] - Sim, o arquivo deixou de ser em papel, mesmo nas câmaras. Chegas lá para ver o projeto e reparas que têm 32 entradas. Nem vais perder tempo para ver o que fizeste, também porque são, muitas vezes, meras tarefas burocráticas. Pedidos em que vais desbloqueando o andamento das obras e de que te vais esquecendo, mas em que vais gastando energia.
[GF] - E trabalho depois do trabalho?
[PF] - Sim, fazíamos concursos.
II.
[GF] - Olha, assim, resumidamente, tenta recordar o ambiente do que era a faculdade, portanto, o ano era de 1995.
[PF] - Eu acho que, naquela altura, nós tivemos uma boa experiência do grupo. Ou seja, trabalhar no Carlos Ramos, no primeiro ano, em Projeto.
[GF] - Já não é assim.
[PF] - No ano a seguir, duplicaram o número de alunos que entravam para o primeiro ano.
[GF] - Duplicar o número de alunos, isso é uma transformação… e o que causa?
[PF] - Essa quantidade permitia que nos conhecêssemos, sobretudo, eu sentia muito isso, que nos encontrássemos entre os deslocados, ou seja, quem não era do Porto.
[GF] - Os deslocados, ou seja, quem não era do Porto?
[PF] - No fim da aula, não vai para casa. Era quem ficava ali, os dos contingentes. Havia uma certa diferença entre as pessoas que eram mesmo da cidade do Porto, que se conheciam, porque; Tinha-se um ambiente trabalho, dentro do mesmo edifício, mesmo que tivéssemos professores diferentes. Comparávamos o que os outros diziam, mudávamos de sala.
[GF] - Logo ali.
[PF] - Logo ali, uma confrontação de propostas. Isso, ficava mais evidente, no segundo ano.
[GF] - No segundo ano.
[PF] - No primeiro ano, é muito difícil, dura, aquela aquisição de métodos. Gente de universos distintos numa adaptação à Universidade. Logo a seguir, no segundo ano, já experimentas esses instrumentos do projeto, do desenho com um mínimo de equivalência no discurso. E, depois, é trabalhar em equipa. Aquela coisa de fazer a maquete em grupo, trabalhar no mesmo sítio, debruçar-se sobre as mesmas questões.
[GF] - Com projectos diferentes, acaba-se por criar um bom confronto …
[PF] - E trabalhar em equipa, a partir dessas discussões, num ambiente de camaradagem.
[GF] - Camaradagem.
[PF] - Por isso, o segundo ano, correu muito bem. Projeto e tudo, o que se estendeu ao terceiro ano. Nessa altura, começava-se a introduzir em Projeto o CAD. Mas, os computadores ainda não eram portáteis. Continuava-se a trabalhar no estirador. Eu por acaso não, mas como as rendas eram baratas, juntavam-se à meia dúzia e tinham escritórios em comum…
[GF] - Trabalhavam à noite.
[PF] - Trabalhava-se muito à noite, no terceiro ano, em Projeto fazia-se experimentação. Não era um projecto, estava-se a ver avançar meia dúzia de projetos, ao mesmo tempo.
[GF] - Projetos ao mesmo tempo.
[PF] - Algo que só farias, num escritório normal, ao longo de muitos anos.
[GF] - Ou se tivesse num mega escritório.
[PF] - Algo que para nós não existia.
[GF] - Estar em muitos projetos simultaneamente, vendo os dos colegas.
[PF] - E os problemas dos outros, com muita proximidade. Vias o que corria bem e as más opções. É sempre melhor aprender com os erros dos outros. De facto, não estavas só a fazer o teu, era uma visão panorâmica sobre as questões, ao mesmo tempo. Algo difícil de se repetir, naquela quantidade. E que acredito que, ainda, existe.
[GF] - Acreditas que existe, ainda?
[PF] - Eu acho que sim.
[GF] - As pessoas agora estão nos computadores.
[PF] - Sim, mas, se na mesa está o desenho. O desenho estava lá, em cima do estirador. É para onde voltas no dia seguinte. E eram as mesmas pessoas, que já tinha chegado, desde o segundo ano. Portanto, havia ali muita coisa avançada em conjunto. E acreditas que as coisas se resolvem à volta do estirador, não é?
[GF] - Não se repetiria em casa. O ensino no sítio em que estás a trabalhar, mas, não sei, o computador.
[PF] - Sim, não sei. Ficar no computador a sobrepor os projetos. Podia ser um exercício para a disciplina, mas talvez não seja preciso abarcar todos e sistematizar uma turma. Isso fazia-se no princípio do ano, mas funcionava mesmo à parte, em grupo, sem muita interferência dos professores.
[GF] - No princípio do segundo ano, ver espécies de famílias de resposta ao problema.
[PF] - Perceber o seu projeto no que cada um propunha. Ver vantagens e desvantagens de cada opção.
[GF] - Substituiria uma avaliação.
[PF] - Era uma avaliação possível. Depois disso também, perde pertinência porque no quarto ano, como já se tinha uma aquisição dos métodos, cada um ganhava uma…
[GF] - Uma autonomia.
[PF] - Uma autonomia em que já só preciso, um bocadinho da ajuda dos outros.
[GF] - Mas, também dependia do professor.
[PF] - Sim, mas tinha a ver mais com o detalhe. Aí, talvez, se perguntasse a um colega. Já não estavas todo o ano a tratar da implantação, algo que na prática quase não existe, porque as opções estão muito mais determinadas.
[GF] - Era muito mais do falar com o professor e informar…
[PF] - A aprendizagem já não é tão pôr em causa. Já havia uma autonomia de cada um das autorias e, portanto, não se encontrava um ambiente tão propício ao trabalho conjunto.
[GF] - Referes-te a Projeto.
[PF] - Sim, Projeto foi sempre central.
II.
[GF] - Foi sempre central… e a transição para Barcelona.
[PF] - Percebias que dominavas as questões de projeto. De algum modo, a narrativa de que o Erasmus permite ter outras perspetivas, servia, seguramente, para compreender o que tinhas adquirido no percurso anterior.
[GF] - Supostamente iam adquirir outros métodos. Mas foi assim?
[PF] - Não, porque o que que aconteceu - eu já falei várias vezes com outros colegas - quando nos confrontávamos com outras cadeiras de projeto, era muito fácil.
[GF] - Era muito fácil no sentido em que…
[PF] - O domínio que nós tínhamos de projeto. De pragmaticamente tecer considerações sobre um sítio, com efetiva relevância para a proposta, fazendo tudo funcionar muito depressa. Os que vinham da escola eram, comparativamente, mais eficazes. Nem falo só em relação aos espanhóis. No caso de Barcelona, na Cátedra Mies, tendo em vista outras abordagens. Só se poderia comparar com o modo de propor dos holandeses e, ainda assim, eramos muito mais rápidos…
[GF] - Tinham feito a síntese das questões com menor esforço.
[PF] - Em algumas cadeiras, os professores ficavam maravilhados. Quase não tinham o que dizer. Era quase como se fosse um campeonato à parte. Não sei se, eventualmente, os outros alunos teriam mais cadeiras que nós ou a importância relativa que davam a outras disciplinas, mas, sentimos que era uma diferença abismal.
[GF] - Realmente havia uma diferença no esforço relativo.
[PF] - Vamos dizer que já tinhas trabalhado essas tensões, que se colocam no processo de desenvolvimento de uma proposta, previamente.
Atlético, e eu sei que estava isso, passava se igual e portanto, aquela que eu, que eu domínio do design, faxina, amor dos professores e, portanto, é, é o domínio do projeto.
[GF] - É o domínio do projeto..,
[PF] - Ou seja, essa assertividade, dava-nos mais tempo para outras disciplinas.
[GF] - Pois, não só projeto.
[PF] - Sim a universidade foi esse tempo único, para refletir sobre arquitetura…
[GF] - Ou seja, para falar de arquitetura…
[PF] - Dificilmente se encontra na vida a colocar o centro na arquitetura.
[GF] - E isso é muito notório na forma como se desenvolve projeto.
[PF] - Mas também é muito notório noutras áreas, mesmo mais teóricas. Essa discussão da arquitetura, desde que alguém chega vindo do secundário e quer aprender. A arquitetura ligava tudo, sendo o centro que influencia numa postura de projeto. E é por isso que na faculdade Projeto se torna essa cadeira central, para que todas contribuem. Uma prática que, no fundo, mostrar que o conhecimento tem consequências. A teoria está ali à frente.
[GF] - Informa um corpo de conhecimento que tu vais usar em projeto.
[PF] - Isso fascina, porque não é ter mais conhecimento é observar que alguma dessa informação gera produtivamente e começas a fazer o caminho inverso… do projeto para a teoria e da teoria para a proposta. Claro, tínhamos teoria desde o primeiro ano. O professor era o Siza e criava-se um fascínio por uma certa transmissão da maneira de fazer arquitetura.
[GF] - Aulas de duas horas com muito poucos slides?
[PF] - Meia dúzia de aulas por ano, com quatro ou cinco slides cada. Lembro de uma da viagem a Machu Picchu. Outra do Távora sobre a acrópole.
[GF] - O Távora que na punha um papel cenário e desenhava.
[PF] - Eu lembro-me perfeitamente da procissão de chegada…
[GF] - Eu lembro-me da aula da viagem a Machu Picchu, claramente.
[PF] - Sim, numa fotografias surgiu o Siza a desenhar. Um colega, não sei se numa atitude de provocar se na sua inocência, perguntava: Porque é que o Professor está a desenhar? Podia tirar fotografias. E seguia-se aquela conversa do desenho. Claro, que já podes ter lido tratados sobre a importância do desenho, teres em frente o exemplo dessa prática é capaz de ser uma presença bem mais significativa. Mesmo que fossem quatro aulas.
Muitos anos depois, em 2011 lembro-me de ver o Siza receber a medalha do UIA, em Tóquio e apresentar o projeto do concurso para Alhambra assentando nessa capacidade de observar o lugar. Em que as fotografias do existente explicam a proposta.
[GF] - Estavas lá?
[PF] - Sim, estava lá e do Siza, a Kazuyo Sejima esteve 45 minutos a fazer uma panorâmica da obra deles, depois veio o Siza e falou unicamente desse projeto nunca construído. A integridade do discurso era a mesma das aulas (não sei se não leu algo já escrito) o que obviamente, para aquela ampla plateia, recolheu uma séria ovação.
[GF] - Lembro-me dessas aulas das viagens… duma do Barragán.
[PF] - Sim.
[GF] - De dizer que antigamente usava menos materiais e tinha os carpinteiro da zona e agora…
[PF] - Podemos, o usar o mármore da Grécia.
[GF] - E frisava a panóplia do que se podia usar e quebrava uma questão regional do material que estava à mão.
[PF] - Sim, confrontávamo-nos com obras já não estão ligadas… ao sítio, ao lugar.
[GF] - Mas, como qualquer outro arquiteto que compartilhe esse discurso é já entrar no ensino.
III.
[PF] - O primeiro ano era muito marcado pelo Desenho, era traumático, mesmo. No meu caso, apesar de um bom domínio da expressão, porque tinha tido aulas no secundário e mesmo aulas no modelo, ficavas obrigado a fazer demasiada coisa. Muito forçado que me levaram a deixar de gostar de desenhar e à quase recusa do desenho, por ser obrigado a fazer. Não é uma situação normal. Tu devias fazer para projeto o que bastasse o resto era uma imposição muito grande.
[GF] - Na época era puxado.
[PF] - Desmedido.
[GF] - O trabalho que era pedido.
[PF] - Era muito complicado o primeiro ano e ainda tínhamos à sexta-feira de manhã teóricas, era difícil para chegar tanto.
[GF] - Mas isso reforçava o sentido de grupo, porque na altura também tinha aulas na casa cor de rosa.
[PF] - Sim, no primeiro ano foi quase tudo lá em cima, entrava-se por esse portão.
[GF] - Na casa cor de rosa, onde havia a biblioteca e o bar no rés-do-chão.
[PF] - E tinha Projeto no Carlos Ramos, só algumas aulas de Desenho no último piso da torre.
[GF] - Basicamente, do que eu me lembro é do jardim da casa cor de rosa.
[PF] - No segundo ano, havia Construção mas dava-se basicamente o sistema construtivo das casas do Porto. Isso parecia-nos sem interesse nenhum.
[GF] - Porque nós queríamos aprender…
[PF] - Naquela altura, queria aprender a fazer betão-à-vista como o Tadao Ando.
[GF] - Essa discussão dos conteúdos programáticos do plano de estudos…
[PF] - Pois, nesse caso prova-se que não eramos contemporâneos de nós próprios. Não tínhamos a mínima noção de que a reabilitação iria ser tão importante. Tenho colegas para quem aquelas aulas passaram a ser o que usam todos os dias. Mas, na altura, não estávamos estimulados para aquilo.
[GF] - Já no terceiro ano, a Construção.
[PF] - No terceiro ano a Construção não era assim. Tínhamos o Gigante e era professor de todos.
[GF] - Um professor para todas as turmas.
[PF] - Tínhamos de aplicar o conhecimento ao projeto, no fim do ano. Eu não, mas saíram pessoas de falar com o Gigante às duas da manhã.
[GF] - Ah.
[PF] - Com um professor e um ensino que se queria tutorial não era fácil, até pelas questões da construção variarem de caso para caso. Imagina-te no meio de 100 alunos que precisam do professor, mesmo que desse muito boas teóricas.
[GF] - Dava muito boas aos teóricas.
[PF] - No princípio do ano com conceitos de física e conceitos muito importantes. Ainda tenho essas fotocópias em duas capas com lombadas a dizer “edições gingante” e que ao mesmo tempo apresentavam exemplos de obras.
[GF] - Com exemplos da arquitetura, onde é aquela tectónica e os materiais já apareciam.
Ou seja, não só saber construir, mas saber dar uma expressão ou projeto conforme tu queres, com base na Construção.
[PF] - Depois, no ano seguinte, passou para Coimbra. Talvez pelo esforço, era impossível.
[GF] - Mas eram aulas.
[PF] - Eram aulas de construção, mas em que vias também projetos.
[GF] - Por exemplo, no quarto ano, esses conhecimentos já se poderiam usar projeto, não é?
[PF] - Sim mas também tinhas as cadeiras de redes que eram um bocado à parte, que se faziam por exame.
[GF] - O Póvoas em estruturas.
[PF] - No meu ano estava de sabática. Mas no quarto o meu professor de Projeto foi o João Álvaro Rocha.
[GF] - Como funcionou o projeto? A Construção, no quarto ano já se aplicava.
[PF] - Sim. É um bocado utópico querer pensar na construção em projetos que não foram desenvolvidos com o devido conhecimento desses elementos ou sistemas. Por natureza, transformam o projeto e ficavas com dois problemas.
[GF] - Quase que seria mais produtivo, usando em construção o projeto do ano anterior.
[PF] - Seria muito mais produtivo do que estarem a usar o do próprio ano, mas acima de tudo é um problema de avaliação da cadeira. No fundo, o que devemos avaliar é se, no futuro, houve apreensão de conteúdos e se estes vão ser manipulados coerentemente. A avaliação do primeiro é nos anos seguintes; no quarto, de todos os anteriores.
[GF] - Pois, a construção e o projeto, no quarto ano, surgiam naturalmente mais ligadas.
[PF] - Já havia mais conhecimento, é por isso que, como disse: o quarto ano já não era tanto assimilação de informação, era de confirmação de tudo que tinha aprendido.
IV.
[GF] - E História? Eu tive, no segundo ano, o Salgado.
[PF] - Vamos dizer assim: começavas por ganhar uma abrangência grande nas questões. Havia uma introdução mínima.
[GF] - Um mínimo de introdução de história.
[PF] - Depois, tinha no terceiro ano o Domingos Tavares dividindo tudo por autores.
[GF] - Um autor por aula.
[PF] - A seguir no quarto, eram as práticas.
[GF] - As teóricas de HAP pelo Alves Costa.
[PF] - Eu lembro que eram à quarta-feira, logo de manhã e era impressionante a quantidade de pessoas que vinham, mesmo, às aulas, era impressionante. Quer dizer, conseguia cativar num tema que nem seria o mais fascinante.
[GF] - E as práticas?
[PF] - Variavam muito conforme funcionassem os grupos.
[GF] - Não havia quinto ano…?
[PF] - Para a maioria era Erasmus. E a prática de outras escalas dava-se noutra escolas.
[GF] - Mas tinham Urbanismo com o Portas?
[PF] - Sim, eram aulas muito completas e fazia sempre questão de trazer livros. É que a biblioteca estava muito menos apetrechada do que hoje.
[GF] - Mas tinham também o Manuel Mendes a MLAC.
[PF] - Pois, mas o discurso não era propriamente…
[GF] - É, ele é aliciante para alguns, e para os outros era uma coisa que achavam incompreensível…
[PF] - Era isso.
[GF] - Ele tinha uma biografia que até era relativamente restrita. Estava muito ligado com alguns livros.
[PF] - Alguns livros que hoje nem serão tão relevantes: “De la Forme au Lieu”, de Pierre von Meiss ou “Constuir en lo Construído”, de Francisco de Gracia.
[GF] - Mas havia um exercício sobre casas e a aquisição de uma postura sobre o habitar.
[PF] - Lembro-me de fazer um mapa dos arquitetos e das suas relações.
[GF] - Tipo este foi mestre daquele?
[PF] - E escolher uns projetos. Não me recordo dos exercícios em si.
[GF] - Mas era grupo, também?
[PF] - Era em grupo e já se sabe essas aulas podem não funcionar muito bem.
[GF] - Mas era uma cadeira com muita informação.
[PF] - Sim, era o máximo que se tinha de mais teórico. No terceiro ano, não tínhamos praticamente teoria. No quarto um trabalho prático, em grupo, como o Soutinho.
[GF] - Muito mais trabalhos que frequências? E não era Bolonha…
[PF] - Sim muito poucos exames frequências. Nos trabalhos, muitas vezes não respondíamos ao formato pedido. Lembro-me no segundo ano a História, que num dos trabalhos fizemos algo diferente. Com uma caixa com fotografias montadas em que se espreitava por um monóculo da janela e em que se obtinha uma perspetiva tridimensional da igreja de S. Pedro de Rates e nas faces do cubo outras descrições da igreja. Não era mesmo nada do que era solicitado ou para o Manuel Mendes, fizemos uma espécie de fichas de leitura dos arquitetos e dos projetos, dentro de uma caixa de primeiros socorros. Era uma caixa antiga que tinha uma cruz vermelha. Eu lembro-me de entregar ao Sr. Jorge.
[GF] - Um trabalho de Método e Linguagens da Arquitetura…
[PF] - Se calhar aquilo podia ser mal interpretado… um estojo de primeiros socorros…
[GF] - Portanto, havia uma adaptação dos exercícios.
[PF] - Adaptávamos os trabalhos às condições. Eu diria que, tirando no primeiro ano, em que era mais difícil uma adaptação.
[GF] - No primeiro ano em era de adaptação.
[PF] - E era difícil ter-se boas notas. Mas, tirei 16 a TGOE e lembro-me do Manuel Mendes comentar que se tinha aquela nota… então devia perceber algo daquilo.
[GF] - No terceiro ano quem dava Teoria?
[PF] - Nesse ano era o Francisco Barata.
[GF] - As aulas seriam muito a base da tese dele?
[PF] - A falar dos diferentes conceitos de tipologia. Obviamente não, aliciava muito os alunos.
[GF] - Era um tema quase de tratadística?
[PF] - As próprias referências do Francisco Barata não eram muito estimulantes. Nisso o Manuel Mendes confrontava-nos com maior diversidade de posturas.
[GF] - Era mais crítico e aberto?
[PF] - Ao mesmo tempo que essa abertura era mais interessante, remetia-nos muito para o campo do projeto.
V.
[GF] - Conexões que são mais facilmente suscitadas com outras disciplinas.
[PF] - Sim abordagens que surgiam frequentemente nas propostas de Desenho, com o Alberto Carneiro.
[GF] - De desenho com projeto?
[PF] - Com o Carneiro havia essa ligação e embora tenha gostado de Desenho, no segundo ano, não chegou para o trauma do primeiro. Acredito que hoje seja diferente…
[GF] - Há questões que têm de ser enfrentadas num momento de formação, mesmo que não sejam tão centrais numa perspetiva cosmopolita da disciplina.
[PF] - Sim, penso havia que admitir o ambiente restrito da escola e a impossibilidade de fornecer toda a formação.
[GF] - Admitir isso, e criar uma boa base para fazer outras coisas.
[PF] - Passamos por isso e a experiência, depois do Erasmus, é que recebeste algo. Com, mais ou menos dificuldade, o ambiente era extremamente válido, colocando a operacionalidade da disciplina no centro, comparando com outros horizontes.
[GF] - Reforçaram que o que já tinham aprendido era importante.
[PF] - Sim, e não sei se passaria em todos os Campos. Digo isto, porque foi óbvio para quem foi para Itália.
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