writings on architecture, design and cultural studies (incl. cedric price, gordon pask and many other stuff)
5/30/24
O DESENHO NA FAUP (por Joaquim Pinto Vieira)
"O DESENHO NA FAUP (por Joaquim Pinto Vieira)
Foi há 50 anos que o mundo mudou. O do Desenho. Entrar na ESBAP, para ser arquiteto, e descobrir na primeira aula de Desenho, coisa que a maioria dos 30 alunos desse tempo e dos outros 200, dos anos seguintes nunca tinham feito, e que tinham medo de fazer, em 12 horas por semana, 4 horas por dia, era temerário e leva-me a perguntar. E se se tivessem recusado a fazer a disciplina e o nosso mando a desenhar essas coisas que nos rodeiam por todo o lado. Como iriamos, o José Grade e eu ganhar o pão nosso? Na venda a retalho, na restauração ou no serviço porta-a-aporta? Mas foi pela mão do sábio Arquiteto Fernando Távora que se fez essa ordem, esse estar que também é, ser, conhecer e sentir. Ao fim do ano, depois de 80 aulas tinhamos perante nós dezenas e depois centenas de pastas A2, com centenas de desenhos. E se eles se tivessem revoltado e recusado a fazê-lo? Távora seguiu o velho mito da representação que desde as cavernas até aos iPads parece ser para nós uma necessidade e uma urgência. Ter presente perante nós a imagem, feita por nós, daquilo que está diante de nós ou que nem sequer está presente. Representar é apropriar e fazer de nosso o que nos é estranho. Não me esquecerei a “maldade” e o “fascínio” de na 1º aula, em que se sentavam um diante um do outro, os imberbes estudantes, e nós lhes pedíamos para fazerem o retrato do colega, numa folha A3. Eram longos minutos de barafunda, gargalhada, susto, gozo, deceção, descoberta, fascínio. Para quem vinha para uma Escola de Arquitetura fazer arquitetura, ter de desenhar era uma coisa algo estranha! A ideia/imagem de desenho do secundário que traziam era indigesta. Mas em 35 anos de docência o que me ficou, foi que, na quase totalidade dos alunos, eles tinham ganho uma visão do mundo e de si própros que só o Desenho pode ajudar a conferir, se for orientado pelo rigor, pelo critério, pela perceção, pela sensibilidade plástica. Ao José Grade, e à Luísa Brandão que não podem subscrever este texto, deixo as palavras da saudade e amor que o tempo manterá, enquanto puder, na memória dos docentes e alunos futuros! A todos os docentes que hoje fazem esse caminho, consta-me que mais estreito e desapaixonado, devem lembrar-se que podem vir a ser dispensados de ensinar a desenhar. Nessa altura usem a mesma convicção e paixão que Fernando Távora me ensinou, se quiserem ganhar o “pão nosso”!
Estas palavras breves foram-me solicitadas pelo Gonçalo Furtado, a propósito da exposição dos seus desenhos escolares feitos em 1993, que expõe na RISCOTUDO".
Joaquim Pinto Vieira, 2024
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment