2/12/23

Figueira da Foz #1: Da apetência como estância balnear

 

Figueira da Foz #1: Da apetência como estância balnear

Gonçalo Furtado

 

Se olhamos representações panorâmicas antigas da Figueira da Foz, por exemplo em pinturas ou nas fotografias que existiam no Arquivo Municipal da Figueira da Foz, ali está o que a fez. O ponto de encontro de um rio com o mar, uma baía abraçada por uma Serra.

De facto, o povoamento da Figueira da Foz surgiu da costa e do rio Mondego e foi, depois e desde cedo, adquirindo um ambiente urbano caracterizado pela pesca e construção naval.

A excelência da “Praia da Claridade” e o reconhecimento da urbe como estância balnear veio já referenciado por Ramalho Ortigão em 1870s, denominando-a como a “mais linda praia de banhos de Portugal”. Na obra literária “As Farpas”, constam as palavras “Não tem outro remédio senão vir à Figueira quem quiser ver a mais linda praia de banhos de Portugal”. Tal já que “nenhuma outra praia em Portugal possui as condições desta para tornar agradável a estação de banhos”, como tal escritor deixou registado na edição de 1876 de “As praias de Portugal: Guia do banhista e do viajante   pela Livraria Universal de Magalhães e Moniz (p.107). Registo claro de um esplendor e protagonismo que se prolongaria pelas primeiras décadas do século XX.

A enseada, possui desenho sensual  entre a Figueira da Foz e Buarcos, como é visível na subtileza da curva presente no Plano hidrográfico entre Buarcos e Figueira da Foz. (Pode-se ver uma reprodução de fotográfica do MOP, por exemplo no livro “Figueira da Foz” de José P. de A. Borges, publicado pela Editorial Presença em 1991). [FIG2]

Foi um período único, aquele que  compreendeu os meados do século XIX e o início do século XX. E sobre tal, pode-se recorrer à historiografia local referente precisamente ao período entre 1860 e 1910 de Rui Cascão, intitulada “Figueira da Foz e Buarcos: permanência e mudança em duas comunidades do litoral: 1861-1910”, publicada em 1998 pelo Centro de estudos do mar e das navegações, a Câmara Municipal da Figueira da Foz e a Livraria Minerva.

É identificável (entre outros aspectos) o desenvolvimento paralelo de duas realidades: a urbana e dos transportes e a da indústria do turismo e do espetáculo. No que tange ao turismo Português, pode-se de uma forma expedita identificar 3 épocas. Uma primeira no fim do século XVIII ligado às termas. Um segundo nas últimas  décadas do século XIX, em que Portugal se apresenta em várias exposições internacionais (entre elas a de Paris) como um “Lugar onde há sempre um quarto no coração” - o que figura um texto de Ramalho Ortigão que Rafael Calado considera inaugurador do Turismo . E um terceiro verdadeiramente “moderno” em que a viagem  “cá dentro” se abre ao exterior em contemporaneidade com uma “modernização” do Estado Novo.

Sabe-se que o progresso da Figueira da Foz foi simultâneo à decadência de Buarcos desde o século XVII; existindo ainda a denominada “Povoação da Praia” pelo meio, que seria absorvida pela concretização de uma estrada municipal entre Figueira e Buarcos. Mas podemos constatar que, urbanisticamente, a mutação da fisionomia da vila setecentista ocorre ao longo da segunda metade do século XIX, a qual se renova e expande no sentido nascente e (retenha-se) do mar. Torna-se cidade em 1882 e, no início do século, constituía-se já como uma comunidade tipicamente urbana.

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