10/29/07

PROJECTO, May 07, 2005

Podemos servirnos de la noción de “proyecto”, entendido como núcleo de la praxis arquitectónica, y que consiste básicamente en el proceso conceptualizador de la arquitectura. El prefijo “pro” que compone el término italiano “progetto” refleja la idea de proyección, de anticipación de “algo” que es anterior a su actualización “construtiva”. Con base en esta idea, creemos que es posible ver en la arquitectura algo subliminar, subyacente a la construcción, que a nustra forma de ver lleva esencialmente a imaginar “formas de vivir”
modernity vs postmodernity, May 05, 2005
The “Post” syndrome (and the Fukuyamist intention of departing from history) can only be understood , paradoxically, within the rereading of the historical continuity, as way of overcoming the projectual inconsistence that exists.
In this context debates emerge about the utopian component and the question of sustainability of the modern project, and about society as a platform for communication .
It must be said that the post-modern debate (Vattimo, Lyotard, etc) was conformed by some gaps opened by modernity itself (as the conscience of a difficulty in the articulation between the aesthetic and the politic, the resistances existing on the relationship between form-use, the difficulty in really controlling aesthetically the relationship between production-consuption, etc.).At the limit, we could conceive that post-modernity could even be a short expression in the historical manifestation of modernity (“large” and “inconclusive”) and that its archaeology point to the re-reading of modernity. In this perspective our exposition feels no need to understand the post-Modern as it is frequently seen, that is as a contra-project of Modernity

CRITICAL ARTEFACT, MAY 01, 2005

The project developed by Goncalo Furtado, was centered on the idea of designing a “Critical Artefact” (2004) in the complex context of the post-modern city.

The author belive that, beyond the converncional practices there must be critical acts to the productive surroundings.
They insert themselves in a practice, that does not distinguish cultural production from social intervention.
It´s a practice that avoids being mere instrument of it´s reproduction, of the degrading status quo focusing initially on the auto-critic of the Architecture-instituion itself, conceiving “other” culturally critical artefacts present on the “borders”, that ambitionate to produce a post-modern interventive disciplinary body.

The poststructural speech infiltrates the institutional speech to discipline, wich we inherit...

AUTONOMIA, APRIL 25, 2005

Se as condições da modernidade não foram as do imediato pós-guerra, em que o problema do indíviduo se tornou vigente para lá das classes; as condições que conformaram o debate dos anos 60 também obviamente não são os que se nos apresentam contemporaneamente. Mas quando vivemos numa realidade cultural tão difusa quanto difícil de apreender, perante uma aceleração tão experiencial quanto material, em que próprio individual ameaça socumbir na ameaça niilista, que experiências produtivas podemos desenvolver desde a práctica de representação do projecto - um dos últimos resticíos de reflexão sobre a disciplina e o arquitecto?

THE CONSTRUCTION OF THE CRITICAL PROJECT,APRIL 25, 2005

"On defining “Architecture”, a connotation of spatial organization always emerges

The concept of “space” originally meant “an infinite extension where body-objects float” and, although it later became more complex, more often than not it was only shy and circumstantially broaden the understanding of Architecture to that of an idea of a lived space, that is to constituted by a fourth dimension (time) apprehended through the subjective body.

We can also attest that the current discourse of Architecture remains intrinsically closed to the physicality of space and its phenomenological appropriation. For the rest, if we look up the term “Architecture” in a dictionary, we immediately come upon the reductive idea of “art of building”, and furthermore, the specialized critic stipulates validity mainly on the logics of “actual” construction.
The Architect is then seen as he who conceives the organization and supports the constructions of such spaces for life, provided with individual creativity, when not presuming a disciplinary authority conferred by tradition.

Nevertheless, from our point of view, the architect’s “autonomous-criticism”, that is, the possibility of him and of Architecture “speaking” is very residual.
Both definitions and aspects referred to Architecture, very often present themselves as obvious, but rarely do we ask ourselves if the obviousness implies a conceptual atrophy.
Actually, this implies a certain hierarchy between construction, project and theory that might have been working as motor on the instrumentalisation of the discipline.
In front of this eventuality, it is suggested that the discipline should develop also (among others), a kind of “Critical Project”, destined to continue the never-ending debate on its social role, before a simulacrum of the discipline takes place. Maybe we are already living it, a simulacrum in which theory and project are instrumentialised to serve the world of construction “tout court” (and the spectacular objectives of control, mercantile speculation, etc, which it have sadly assumed) and where any social interventionism fades away in its own institutional ritualisation". (Gonçalo Furtado, THE CONSTRUCTION OF THE CRITICAL PROJECT, 2003)

METODO


METODO, April 24, 2005
Em arquitectura penso que o que se constata em várias plataformas é por vezes ainda alguma dificuldade em ver um lugar-método que se foi denominando por “projecto” (da arquitectura neste caso, mas que de facto se verifica em muitas áreas) como investigação. Calculo que a argumentação contra a saudável hibridez metodológica do dito projecto por parte dessas plataformas advenha do previlégio mais exclusivo e excluente da “autoridade” de um “modelo” que frequentemente definem por “científico” (isto é, uma espécie de “objectivar” “verdades” demonstráveis pela reprodução de “experiências”, etc.); apesar da debilidade de qualquer das noções assinaladas (e da debelidade das respectivas oposições que inscrevem e persupõem). Como corolário, o quotidiano fica também ele marcado pela convivência com muitas outras assumpções redutoras, como por exemplo a dialética entre teoria-prática, que superficialmente vê a segunda como exprimindo a primeira e a primeira como explicação ou descrição da segunda, etc., impondo a homogenização de qualquer específico, diferente ou complexo “outro” .

10/26/07


PORÉTICA, May 07, 2005
Caro amigo escrivinhador peretico Silva Carvalho
Disfrutei muito a tarde de ontem em redor da tua obra. Queria telefonar-te a desejar-te boa viagem de regresso a Sintra, mas só tenho o teu telefone fixo. Espero que meus comentarios de ontem para os 20 minutos que sugeriras tenham correspondido ao pretendido, apesar do meu cansaço e de que nao previa nem pretendi encaixar-me de forma academica.
Aproveito para te escrever um comentario que pensava agora... gostei mesmo muito da comunicacao do Frias Martins que me pareceu a mais inteligentemente focada na tua obra (penso que algumas abordagens pecavam por focarem a tua obra demasiado sobre as filiacoes-matrizes de cada critico, frequentemente alheias as referencias pos-modernas em que tu proprio incluis o teu trabalho) e tambem a mais honestada e generosamente propositiva. Penso que os comentarios finais que emitiu sobre o futuro da tua obra, reflectiam atender ´com acutilancia a´ espeficidade da tua obra-vida, as caracteristicas do teu acto enquanto escritor-homem e do tenso relacionamento que deverias presistir em manter com a instituicao literaria. Como ele, tambem penso que nao há nada de paradoxal na tua massiva e anti antologica producao, na tua paradoxal dialetica de afrontamento e reclamo de prestigio, etc Essas sao precisamente algumas das caracteristicas motrizes daquilo que escreves e que tenho tido o previlegio de constatar em cada livro que me envias: um problematizar esteticamente conceptual e complexo da vida que ocorre no literario e do literario que te marca a vida.
Deixo um grande abraco amigo, cumprimentos teus, e ficarei sempre aguardado noticias tuas
Gonçalo Furtado

ENTREVISTA: CRITICO REFLEXIVO, APRIL 25, 2005


Em 1999, Neil Leach desenhou sobre a tradição intelectual francesa uma das mais fascinantes críticas à tendência imagética que então se verificava na cidade, arquitectura e design. Parecia claro que essa obsessão minava “totalmente” qualquer restício sócio-político. Mais tarde, olhando para lá da superfície sobreestetizada, supera o impasse Baudriallardiano, complementando o seu próprio discurso com a perspectiva Jamesoniana. Os argumentos da psicanálise sugerem-lhe agora que a produção arquitectónica e sua mediatização possa assumir potencialmente um papel identificador num mundo urbano wallpaper.
Entre Porto e Londres fala’mos e pensa'mos com reflectividade crítica, só interrompidos pelas “natas” portuguesas (sem canela) que se nos apresentam na A.A. de Londres.

Gonçalo Furtado, [Interview to Nei Leach], in: Coimbra: Universidade0 Vasco da Gama, Pendente

planeamento e tempo, 24-8-2005

Deveria-se analizar de um forma verdadeiramente multidisciplinar a cultura urbana das ultimas decadas, com vista a melhor posicionar o debate sobre o presente e futuro das cidades. ENtedner como longe do plano congelado e do zoonamento prescrito pelo moderno, se estruturou o planeamento mais com base no tempo-incerteza, inventando novos sistemas reguladores de planeamento
Como o processo de transformacao urbana pos-industrial, e novas espacialidades hibridas de expansao territorial são reflexos da experiencia do tempo e mobilidade.

10/24/07

dinner with kasha from Lus. University, June or July 2007

fetish design, May 29, 2005


1 - Fetish Design and Urban seduction 1.1 - Analysis of the "fetish" notion: from its historical negative connotation to its operative application by social and cultural critics (Marx, Freund and Adorno - Frankfurt school) 1.2 - Analogies between the process of "fetishization" and the Design’s dynamic between visual culture and spectator (GF) 2.1 - Contemporary Urban Culture and Architectural "Anesthetics" (Simmel, Benjamim, Debord, Baudrillard, Proust cit: Leach) 2.2 - Theme parks and other urban enclaves of the urban spectacle (Soja and Davis) 3.1 - Post-structural criticism (mainly Derrida) and the strategy of "urban camouflage" as a way to develop a more positive role to Design (Leach) and to understanding visual culture and aesthetic practice as a way to provide identity in the post-global world of the Multinationals (Jameson vs Schmidt)

Pancho Guedes


Lecture by Pancho Guedes.

17-10-2007

PSIAX II - SISTEMA E AUTORIA, SUNDAY, MAY 01, 2005

Entre a paleta de fenómenos que tiveram lugar na década de 60 identifica-se uma exponencial influência do foco cibernético (não confundir com computadores, robots, e afins), cujo impacto se fez sentir também na Arquitectura.
Algumas experiências arquitectónicas muito precisas então realizadas nesse domínio, reflectiram a oscilação em curso no pensamento projectual, o qual buscava flexibilidade (espacial e ideológica) e por vezes chegava mesmo a reconhecer o benefício de uma indeterminação dinâmica que permitisse lidar com o tempo e a incerteza .
O processo de notação gráfica associado, expressou um desafio á natureza da representação em Arquitectura – muito frequentemente associada a projecções fixas de espaços estáticos para vidas defeníveis - e um questionamento da vigente autoridade e status autoral do arquitecto moderno.
Uma abordagem a esta engrenagem tecnologia-imagética-política comporta dois aspectos: por um lado permite reflectir sobre o significado das inciais apropriações do pensamento cibernético pelo projecto de arquitectura, por outro lado permite enriquecer o debate actual sobre o envolvimento da cultura arquitectónica com o contemporâneo quadro tecno-cultural.
Avancemos desde já, que a nosso ver, para lá de prescrever que se determine ou que se indetermine, interessa-nos-ia focar o significado de experiências que procuram lidar com a incerteza, e, em paralelo, fazer referência a alguns dos pressupostos subjacentes.

P.F. Champanhe, 18-10-2007


Tomando champanhe por altura da conslução da licenciatura em Arquitectura de ex-aluno, ex-colaborador e actualmente grande amigo.
Parabens D.M.

10/22/07

PF 22-10-2007

Prova final para Licenciatura em Arquitectura

Pedro Oliveira, "Centralidades Periféricas: O caso da Arrábida", FAUP, 22-10-2007.

Juri: Prof. Rui Afonso (presidente juti), Prof. Alvaro Domingues (orientador) e Prof. Gonçalo Furtado (arguente).

Some notes on the SPECTACLE

It´s necessary to introduce the topic "Spectacle", trying to expalin properly the historical context when in which it emerged and stablished relations with other previous aspects as
the Metropolization, Modernization, Mechanization, and manly the increase development of “Post-industry”, “Consume” and “Mass–mediatization” in the post-war period.
One should make reference to some "Creative strategies in the metropolis" (i.e. Dada, Surrealism, etc.) and to practices of detorunement (in literature, graphic design and cinema).
One must also explain the situationist concepts of society of the spectacle, Psychogeography", the derive, detournement; and after explain the logic of the Megastructural Trend approach Constant´s New Babylon.
Could be interesting to notice the British protagonism, and mainly the history of emergence and development of the British Punk Movement.
In fact, one could present the Punk attitude as a very specific "creative strategy" among a range of more conventional urban "nomadic attitudes".
To conclude, one woudl like to direct all this narrative to debate the contemporary role of Design, using Frankfurt and Pos-structural analysis. In a certain way, one could say that after the Utopian Design of the 60s, and the Radical Nihilistic destruction of the 70-80s, we began to develop more productive appropriations of the “mediatization” to challenge the intitucional organization of the Design praxis.

10/21/07

consumo, May 11, 2005

Vivemos num mundo desenhado pelo mercado capital global segundo o interesse do lucro máximo, considerando tudo (do produto á pessoa) como entidade abstracta e quantificável...redutivel ao simulacro. .
Este consumismo globalizado coexiste paralelamente uma diversidade de novas concepções espaço-temporais, originadas pelas vias e meios de comunicação (da linha férrea de alta velocidade ao avião), a instauração de uma ambivalência físico-virtual suscitada pela convergência das tecnologias da informação e comunicação digitais nas redes telemáticas, as quais suportam uma sociedade que começa a dispensar a presença e minimizar a relevância da conformação física para os seus relacionamentos e actividades.
Tudo é sujeito á lógica dinâmcia da mutação e do trânsito, ainda que por vezes tal redução a fluxo meramente vise a sua aptencia para inclusao na lógica "m"?

Panóptico, May 11, 2005

Deleuze, numa descrição da história do controle em termos arquitectónicos, descreve a passagem na vida dos indivíduos por arquitecturas onde o denominador comum é o controle.
“O indivíduo nunca cessa de passar de um ambiente condicionado para outro, com as suas leis específicas: primeiro a família; depois a escola (“tu já não estás na tua família”); depois as barracks (“tu já não estás na escola”); depois a fábrica; de quando em quando o hospital, possivelmente a prisão, a instância preeminente do ambiente de condicionamento”.
Deleuze descreve Foucault como “tendo brilhantemente analisado o projecto ideal desses ambientes de condicionamento, particularmente visível com a fábrica: para concentrar, para distribuir no espaço; para ordenar no tempo; para compor uma força produtiva dentro da dimensão espaço-tempo com melhor efeito que a soma das suas forças componentes.” (Deleuze, 1992)
Para Foucault, filósofo que justapõe as histórias do espaços e do poderes, a arquitectura tem a função de controlar os indivíduos e por vezes os castigar, e serve como instrumento que possibilita o controle. No seu trabalho dá especial atenção à topologia do panóptico, sistema de controle carcerário idealizado por Bentham em finais do século XVIII, um edifício circular com uma torre no centro, com fenestrações coincidentes com as das celas, onde está o vigilante.
Hoje, depois das antigas estratégias de controle da Era mecânica (como a sombra no panóptico), assistimos à progressiva omnipresença de artefactos de vigilância à distância. De câmaras e demais sensores presentes nos equipamentos públicos, as camars de trafego, registo de operacoes VISA, Escgchelon rasteia as redes de comunicacoes, a ideia de cosnumo produtivo de Echeverria (que estabelece uma articulaçao enre indices de audiencia e sondagem em merdacoria produzida).
Se o pensamos viver num ambiente libertario esse é tambem um circuito de sondagens e visitas rasteadas constantemete pelo que denominaram por controle
contemporaneidade.
A construçao da figura do observador, May 11, 2005
Jonanthan Crary, em “Techniques of the Observer”, realiza uma abordagem original à cultura visual novecentista, que contribui para uma historiografia da formação do observador e é passível de ser vista como a pré-história da “sociedade do espectáculo” identificada por Guy Debord.

O ensaio de Crary debruça-se sobre uma parte da história de abstratizaçao da visao, nomeadamente sobre uma reconfiguração da visão ocorrida na década de 20 e 30 do século XIX, a qual redefiniu o status do observador estabelecendo pré-condições para a abstracção da visão.
O autor mostra como uma série de práticas e dispositivos permitiram obter conhecimentos para racionalizar e controlar o sujeito humano em termos de eficácia e produtividade para as técnicas de consumo espectacular.
Como nessa altura, toda a problemática actual sonre novos imaginarios virtuais continua a remeter para o corpo e para a operação do poder social.











Notes on the spae of digital technique, 2002


Notas sobre o espaço da técnica digital

"Este texto é um esforço ambicioso para sumarizar e fazer avançar o debate que se tem desenvolvido recentemente acerca da influência mútua entre a arquitectura e as tecnologias emergentes. Uma das propostas mais úteis contida neste ensaio sugere que na condição actual devia haver uma apropriação activa da tecnologia pela arquitectura. Esta proposta contrasta com a visão mais comum da nossa cultura arquitectónica como sendo agressivamente colonizada por uma crescente, num entanto estranha, realidade tecnológica, com a consequência que os arquitectos frequentemente só reagem quando os factos já aconteceram."
(Xavier Costa, Perfacio, in: GONÇALO FURTADO, NOTAS SOBRE O ESAPAÇO DA TÉCNICA DIGITAL, MIMESIS, Porto, 2002)

10/20/07


morning,

near the beach.

a beautiful sun

“rise”.

an-architecture,

and space.

“love”,

the space of emptiness.

10/19/07

Novos modelos comunicacionais e mobilidade urbana, 2004



Reflexão sobre novos modelos comunicacionais de mobilidade urbana
Arq Gonçalo Furtado (Universidade do Porto) e Eng. Miguel Oliveira (Universidade de Aveiro)
In: Razón y palavra, Mexico, N41, Outubro Novembro 2004.

"Relação entre modos de Espaço urbano, Comunicação e Pensamento


O homem é homem por possuir uma determinada comunicabilidade, mas tal pode ser complexificado contemplando as relações espaço urbano – comunicação - pensamento.

Atenda-se que a sedentarização foi tão crucial para o desenvolvimento da espécie humana como a Linguagem, e a constituição da cultura urbana foi algo construído ao longo de séculos.

A cidade surgiu como espaço circunscrito e delimitado em relação à tenebrosa imensidão do que estava para lá das muralhas onde habitava o “outro” selvagem. Não por acaso, o outro selvagem era frequentemente apenas o “estrangeiro” que não partilhava uma mesma linguagem ou o nómada que se movia fisicamente.

Durante séculos, o homem confinado a um espaço fechado tradicionalmente chamado cidade, onde ocorria um tipo de mobilidade circunscrita e um modo de comunicação e pensamento linear e hierárquico, tinha nesses três aspectos reflectida a sua essência.

Mas a cidade por si própria, enquanto expressão material de humanidade, teve historicamente várias caracterizações: do assentamento pré-industrial, á grande cidade industrial, à Metrópole moderna com subúrbios, até a grande Metapolis policentrica e dinâmica actual.

A cidade sempre foi um artefacto cultural que representou a ideia que o homem faz do mundo e de si próprio. Essa ideia era também unificada por um tipo de pensamento e linguagem determinado inicialmente pela razão teológica e posteriormente humanista e, até muito recentemente, de característica una, hierárquica e linear. Por isso a cidade se definia e correspondia à imagem de um espaço concentrado, limitado, por contraste ao espaço natural para lá das muralhas da cidade. Uma das mais sintomáticas expressões desta realidade é que quando o homem tinha de representar a cidade, sempre o fazia mediante uma representação estática e circunscrevível (mediante uma planta ou um desenho “perspectivado”). Também o pensamento era uno, linear e hierárquico.

Que potencialidades aportam as recentes tecnologias da comunicação?

Parece de facto, que muitos tem associado a emergência de novos modos de comunicação interactiva e móvel na ultima metade do século, aquilo que os filósofos chamam de Pós-modernismo – um modo de pensamento não marcado pelo determinismo uno, linear e hierárquico.

Tal é expresso por analogia na História da Arte da ultima metade do século, que fazendo uso de novos media, tem contornado a figura do público enquanto mero espectador (as performances, happenings, e agora net art, etc.). A obra de arte não possui já uma verdade e é apropriada por qualquer pessoa em interactividade.

Mas também nas comunicações quotidianas. Se os mass media houveram imposto, sobretudo desde o pós-guerra, a conformação de uma sociedade homogeneizada de consumo, em que a verdade e razão se criava por aquilo que a rádio, a televisão, etc. ditava; o desenvolvimento de formas de interferência pelo publico nos media, expressa um dos grandes benefícios que as novas tecnologias de comunicação permitirão á sociedade

Neste sentido, é também interessante que as tecnologias media Modernistas (TV, cinema, etc.) tenham começado a permitir uma representação dinâmica da cidade quando ela sofria uma grande mutação.

Se espaço, pensamento e comunicação se transformavam no pós-guerra, é porque toda a essência do homem por eles definido estava em transformação..

A história urbana do último século, mais precisamente desde a industrialização, é de ampliação e depois desfragmentação. A cidade moderna prognosticado desde o inicio do século, deu génese aquilo a que podemos chamar estilo de vida urbano. Tal processo de mutação acelera-se no pós-guerra, socorrendo-se de múltiplas tecnologias de mobilidade, como o carro que permitiu à comunidade viver para lá do anel suburbano, etc.

Progressivamente, com tamanha disseminação e complexificação, surge paralelamente um, crise incluso conceptual.

Quando a cidade perde a sua limitação e contraste com o território envolvente, que até então a definia enquanto tal, podemos continuar a falar de cidade?

A resposta é afirmativa. Webber há muitas décadas começara a definir uma cidade mais pelas dinâmicas e relacionamentos que estabelecia do que pela sua fisicidade. Hoje, autores como Ascher falam numa Metapolis, um cidade feita de relacionamentos dispersos pelo território.

Neste realidade, os estilos de vida ficaram bastante dependente da mobilidade, da mobilidade física como tinham na cidade industrial que referimos, mas também da virtual pelos meios de representação telemáticos á distancia. Passámos de seres estáticos a ser móveis. Incluso, em termos de pensamento, em que começamos a privilegiar um modos de pensamento já não encerrado e hierárquicos mas aberta e rizomaticamente pós-modernos para usar o chavão do filósofo Deleuze.

Neste sentido é interessante, que a cidade, agora em mutação física e desfragmentação em dinâmicas múltiplas, se torne também complexa e imaterial na hora de ser representada numa imagem. A cidade afronta uma certa impossibilidade de representação que não seja múltipla. É neste sentido que se compreende o aporte dos novos Sistemas de Informação Geográfica (SIG’s) por exemplo.

Quanto ás tecnologias que permitem o estilo de vida numa "Meta"polis, já não é o carro da cidade industrial, ou mesmo os mass media tradicionais da grande metrópole do pós-guerra. O novo meio de deslocamento é o artefacto computacional de comunicação conectado a redes de cabo e alambicas que permitem a inevitabilidade de um estilo de vida nomádico na Metapolis contemporânea.

A Sociedade da Informação
A actual condição pós-moderna de mobilidade, de pensamento, de representatividade e interactividade, vem-se expressando metaforicamente na cidade e dentro da cidade numa edificação geometricamente instável que tende para uma condição imagética e de desmaterialização.

A pergunta será que significam estes espaços que vem emergindo com o aflorar da Sociedade da informação?

A resposta é o desejo cultural de um novo modelo de comunicação para a cidade.

Atenda-se agora um pouco mais no que é a sociedade da informação, como se conformou, em que tipo de tecnologias se baseia, a sua presença no quotidiano das actividades da sociedade, e também como tem sido implementada na Europa, os seus benefícios e perversões.

Começando por definir SI: vemos que tal modelo social surge por oposição à agrícola ou industrial, onde a informação se tornou em algo crucial, por exemplo para a cooperação, competitividade e produtividade empresarial. (De facto, constatamos que os serviços atingiram os 50% da actividade humana, revelando desde a crise energética do pós-guerra um novo paradigma económico). Vivemos a realidade da globalização que salienta aspecto extensível de todas as actividades humanas do local, (por exemplo da economia), a uma escala supranacional e planetária .

Por outro lado, tudo está marcado pela “imediaticidade” actual e a “mediatização” da relação com o real, em que a actividade humana tende a ser independente da condição fisica-material (podendo assim falar-se numa nova concepção espaço-temporal – o ciberespaço) .

O referido só é possível, pela convergência da Informática e Telecomunicações, que conduziram ao referido modelo social, adjectivável como SI, e que deveríamos contemplar mesmo que sumariamente.

O desejo de comunicação à distância (que conduz à concentração do mundo), é histórico e remete obviamente para descobertas desde o século XIX (com o telégrafo, o telefone, e depois a TV e os actuais computadores) que significaram uma ampliação comunicacional.

No que se refere à informática, é visível a progressiva omnipresença.

Por exemplo pela progressiva miniturização dos computadores de válvulas da segunda guerra, passamos a mainframes de transístores do meio científico e á associação de transístores à placa de circuito impresso que permitiram os PC os microprocessadores abrindo caminho para PC dos anos 70.

Por outro lado ocorreu uma sua generalização devido à intuitividade de uso, pelos novos interfaces gráficos e lógica plug and play que substitui a figura do programador pelo utilizador.

Mais recentemente , prevêem-se mesmo já interfaces de lógica vaga, delegação PDA, e RV multisensorial imersiva.

Em suma, vemos que por vários aspectos se verifica uma omnipresença destes meios em todos sectores humanos, e para além disso, também as suas capacidades (de armazenamento e velocidade segundo a lei de Moore) ) exponenciam-se desde anos 70.

Um passo decisivo nas últimas décadas refere-se obviamente às telecomunicações. Os anos 90 marcam uma articulação do computador com as telecomunicações, surgindo novos aparatos, o Network Computer e a TV digital com as suas promessas de oferta de serviços (já prognosticados por coisas como pela Full Service Network da Time Warner Cable que levou serviços ao domicilio).

Tal convergência conforma em sentido metafórico num novo sistema nervoso para a sociedade (composto por diferentes tecnologias de cabo, satélite, terminais, midleware services de segurança, dinheiro electrónico, etc.).

A actual Internet especificamente, é vista como um protótipo de tal, tendo-se tornado um fenómeno social, com aplicações múltiplas. Entre elas o e-comércio é importante dado que é o privado que tem promovido a SI, e a maioria dos conteúdos ser comercial, (se se preveja pagar por bits e não por tempo). Hoje, empresas virtuais competem com as suas gémeas físicas (ex. Amazon de Jeff Bezzos que foi o homem de 1999 pela Times), ainda que nos últimos anos tenham amainado tal euforia, e o êxtase das capitalizações bolsistas e fusões (tipo AOL), tenham diminuído o interesse por parte do capital de risco.

A importância da SI é tal que se tornou num projecto político.

NA CEE a implementação do modelo da SI (que seguiu o plano tecnológico americano de 1993) deu-se com o plano Delors e Relatorio Bangman (1994) e mais recentemente com o programa e-europe. A estratégia vem-se tornando visível com a liberalização das telecomunicações, o privilegio de serviços e acesso à Net. etc

Mas também é certo que se verifica um atraso mesmo da Europa relativamente à dinâmica americana, por exemplo no referente a n.º PC, acesso Net, e valores envolvidos no e-comerce, etc.

Mas que Benefícios e prejuízos comporta a SI?

Ainda que o titulo de curiosidade, é necessário consciencializar a ferocidade com que operam os novos media sobre a colectividade de acordo com os interesses Multinacionais. Pode mesmo ocorrer uma mutação cultural que conduza a colapsos (como refere o filosofo da comunicação Virilio) nos Estados, na identidade, na subjectividade, etc..

Existem outras consequências já visíveis, como por exemplo as desigualdades (entre info-excluídos e incluídos); as estandardizações culturais pela estratégia das multinacionais de propagar o imaginário de consumo (Schiller), pelo uso principal do inglês, pela ausência de conteúdos de culturas minoritárias, etc..

Os actuais fundamentalismos que se vem expressando podem ser também vistos como reacção a uma globalização desigualitária em curso, a perca de identidade de muitas culturas e a falência do Estado na regulação dos excessos da globalização.

Outro problema é a propagação do “controle” que o filosofo Faucault analisou quanto á anterior sociedade industrial. Na actual sociedade pós-industrial da informação (com a realidade de mecanismos como o GPS, sistema monetário internacional tipo VISA, Echellon, etc.) conforma um panóptico digital e uma forma de “consumo produtivo” (como refere o filosofo Echeverria) que recorre também ás as novas tecnologias da comunicação.

Surgem problemas como a intimidade e propriedade que põe o problema da encriptação e legislação, que obviamente interferirá a liberdade comunicacional original da Net.

Relação da SI com o espaço arquitectónico

Após esta sintética caracterização da SI, pense-se agora não só na cidade que já abordada mas também na Arquitectura que nos é mais próxima.

Como dissemos, a cidade contemporânea adquiriu novas formas e dinâmicas numa nova geografia global que especializa a organização económica pós-industrial. Soja fala de um post-metropole e outros de "Meta"polis.

As Novas Tecnologias são o que possibilitam a vida na metrópole difusa, respondendo ao imperativo de mobilidade, e conformando território híbrido fisico-virtual (Granham). Na Teoria de Arquitectura salienta-se como principais autores Echeverria e Mitchell, que usam metáfora da polis para entender esta sobreposição fisico-virtual, e a descentralização da produção –consumo. Para Mitchell do MIT estamos perante uma uma nova E-topia em termos urbanos.

Mas como já denotámos, a montante da reformulação da cidade é necessário reinventar os espaços da Arquitectura.

A actual produção arquitectónica prenuncia já a transitoriedade e hibridez cultural, em formas flexíveis, imagéticas, efémeras e desmaterializadas, tal como já referimos.

Mas a um nível mais concreto, prevêem-se o que chamamos smart-spaces , espaços tecnologicamente ricos, inteligentes e interactivos, que asseguram a conexão real-virtual.

Numa Arquitectura do futuro, a informação será um atributo, permitindo performances independentes da localização, mas também requererá novos espaços marcados pela flexibilidade e versatilidade de usos.

Segundo o teórico de arquitectura Vidler, um dia o corpo-cyborg, expandido pelo seu desejo de mobilidade, poderá mesmo prescindir da Arquitectura.

Mais que utopicamente falamos num ser humano que progressivamente foi reformulando e ampliando as suas relações com o espaço da cidade e arquitectura em que actua, reformulando os seus modos de comunicação e pensamento, que em grande parte contribuem na definição da sua própria essência.

Parece que com as Novas Tecnologias voltamos realmente ao modelo ancestral do homem nómada. Todos somos nómadas, habitando cartografias múltiplas, simultaneamente distantes e próximas, etc.

As Novas Tecnologias surgem sempre são próteses, no sentido em que ampliam a capacidade do homem, mas também profundos reformuladores da sua essência. As tecnologias da comunicação física (como o carro) ou móvel (como o telemóvel) tem reformulado a essência do homem e o estilo de vida urbano, e a montante a evolução de novos modos de cidade e das relações humanas no território.

...
Nota conclusiva
Como conclusão, cremos que percorrendo este conjuntos de relações e modelos de novas tecnologias móveis, podemos conceber um novo modelo de comunicação móvel que esteja mais de acordo com o tipo de espaço urbano que historicamente se vem confirmando com os estilos de vida urbana emergentes contemporâneos, e incluso metaforicamente com o tipo de pensamento rizomático que a Filosofia hoje ambiciona.”

See: http://www.cem.itesm.mx/dacs/publicaciones/logos/anteriores/n41/furoli.html#au

Concert with Margarida, Oct 2007

10/18/07

Generator, Japan Net and Other Responsive and Evolving Environments, 24-9-2007

Gonçalo M. Furtado C. Lopes, "The JN Experience / "Cedric Price, Gordon Pask and John Frazer: Generator, Japan Net and Other Responsive and Evolving Environments” (Part A), in: Luis Borges Gouveia (ed.), Acts-International Colloquium "Digital Cities Summit: From Virtual World to Human World", (Forthcoming).



" 1.1 - Introduction - My presentation for the international colloquium 'Digital Cities Summit: From Virtual World to Human World' (ISCSP-Lisbon, 2007) is titled 'Cedric Price, Gordon Pask and John Frazer: Generator, Japan Net and other responsive and evolving environments.' It is based on research conducted throughout several years in Oporto University and at the Bartlett’s PhD Program; from 2005 onwards it was financially supported by FCT and resulted in my PhD dissertation which was supervised by Neil Spiller. In order to explain the content of the research and of this presentation, an extract from the text is printed below:
'[The research]… focuses on the encounters between three pre-eminent British professionals - Gordon Pask, Cedric Price and John Frazer - and provides an… account of… outstanding… projects related to systems and computation…. In the post-war era, cybernetics and the systems approach have shown new means of dealing with complexity and organization, which possessed broad application. This was paralleled by developments in computation and artificial intelligence. …Cyberneticist and experimental psychologist, Gordon Pask, the crucial figure of second-order-cybernetics who was awarded the Wiener gold medal, is identified as a seminal promoter of cybernetics in the fields of art and architecture…. An overview of his career indicates a sequence of seminal moments that give a clear sense of the development of cybernetics and its exchanges with architecture. … Pask understood computation as something interactive and conversation as the basis of meaning exchange. The …projects focused …pertain, not coincidently, to Price. This maverick of British avant-garde architecture was a tireless promoter of flexible impermanent architecture open to users’ participation…. From 1976 onwards, Cedric Price worked on a project engaged with systems and computers - the Generator. This envisioned a flexible architectural complex…. …Price’s aim of a ‘responsive architecture’ was furthered by John and Julia Frazer’s systems consultancy. The Frazers’ up-to-date research provided a system that enabled and stimulated the regeneration of the complex, and, furthermore, they envisioned Generator as possessing its own life and mind - a proactive rather than reactive structure. …Pask also reencountered Price in 1986 [i.e. decades after the Fun Palace] for a …project engaged with cybernetics - Japan Net. Here, Pask gave a unique expression to Price’s premises of change and permanent information exchange, envisioning Kawasaki as an ample evolving system, and expressing his own second-order-cybernetics’ interests. …Gordon Pask died in 1996; Cedric Price died in 2003 and John Frazer currently resides in Australia. They have had long lasting influences and retain contemporary relevance… [T]hey provide us with a seminal foundation for speculation about architecture’s future development, by suggesting a more evolving environment that cherishes architecture’s creative and responsive role in humanity’s cultural oscillations.' [See: Gonçalo Furtado, 'Envisioning and Evolving Environment: The Encounters of Gordon Pask, Cedric Price and John Frazer', PhD Dissertation, supported by FCT and supervised by Neil Spiller and Iain Borden, Bartlett-University College of London, London, 2007. / Gonçalo Furtado, 'Envisioning and Evolving Environment: The Encounters of Gordon Pask, Cedric Price and John Frazer', Report-FAUP/ supported by FCT, 2007.]
... [T]he presentation is very long and that several of its aspects were already covered in other presentations and papers submitted ... . The account of this project is based on primary sources examined in the course of my research of the Cedric Price Archives held at the Canadian Centre for Architecture (2005). I want to take this opportunity to publicly express my gratitude to the following people: Neil Spiller, Iain Borden, John Frazer, Julia Frazer, Nick Bailey, Stephen Mullin, Howard Shubert, Anne-Marie Sigouin, Juan Herreros, Josep Maria Montaner, Xavier Costa, and Ranulph Glanville; and to dedicate this paper to Amanda Heitler and her family.
..."

Espacialidades hibridas comunicantes, April 30, 2005

Urge analizar a conformacao de um novo paradigma urbano-comunicacional movida pelos impactos das Novas TIC (redes alambricas e inalambricas, artefactos moveis, softwares e protocolos, etc), cujo resultado e' tanto fisico como experiencial.

Especial atencao sera' dada a' fase contemporanea que denominamos por “second order cyberculture”, onde se comeca a tornar tangivel a realidade de uma “cyber-cidade” relacionada com a mobilidade e globalizacao, de “cyber-arquitecturas” ligadas a espacos inteligentes e RV, de cyber-vidas socio-culturais hibridas entre a virtualidade-fisicidade, e de um “cyber-corpo” ampliado por proteses tecnologicas mas tambem pela biotecnlogia.

Avancamos sobre um cenário futuro, simultamente aliciante e cruel, em que teremos o corpo hibridado, os espaços virtualizados, e qualquer interfaces prostetico diluido enquanto mediacao bio-tecnologica.
Argumentamos que as novas TIC se tornaram numa entidade mediadora da nossa relacao com o mundo real e como corolario defenderemos um programa pós-moderno de hibridação com elas capaz de fornecer uma matriz de conceitos que suportem a construção do novo espaço de interacção humana e das novas formas de habitar (percepcao e ser) que tal suscita.

holloway Road, London, May 2007.

10/17/07

Digital Urbanity, 2006

Gonçalo Furtado, "Urbanidade Digital", in: Borges Gouveia (ed.), Acts Proceedings: International Coloquium on Digital Cities, Oporto: University Fernando Pessoa, 2007 (forthcoming)


ABSTRACT
Este texto, intitulado “URBNANIDADE DIGITAL”, centra-se nas interferências que o paradigma tecno-cultural da S.I. acarreta no ambiente urbano e arquitectónico e no papel civilizacional que o digital assumirá.
Num primeiro momento aborda-se a cidade na sua situação contemporânea, o que pressupõe a existência de novas formas urbano-territoriais e a consolidação de uma cultura movida pelo imperativo da mobilidade dos fluxos e redes. Num segundo momento, aborda-se como desde o campo da teoria autores como Javier Echeverria e William Mitchell vem reflectindo acerca da concepção e realidade da cidade digital.

Design de interface, 2004

"O número de fevereiro da 404 aborda a questão do design de interface num artigo intrigante do professor da Universidade do Porto, Gonçalo Furtado. Discutindo conceitos como técnica, multimídia, interfaces e interatividade o autor aporta uma contribuição ao campo da cibercultura. Furtado é licenciado em Arquitectura pela Universidade do Porto,; Mestre em Teoria de Arquitectura pela Universidade da Catalunha, e actualmente em desenvolvimento do seu doutoramento"
>(in. André Lemos e Cláudio Manoel eds), in: 404nOtF0und (Publicação do Ciberpesquisa - Centro de Estudos e Pesquisas em Cibercultura), V.1,N.37, Fevereiro 2004
http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/404nOtF0und





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"...
O Design deve estar em interacção com esta sociedade e atento ao desenvolvimento tecno-cultural contemporâneo. O Design deve responder às expectativas que lhe são depositadas, entre as quais, a necessidade de idealizar e conceber os dispositivos ideológicos e físicos necessários à habitação do “Tecnocosmos” que suporta a realidade contemporânea. Em suma, e no âmbito da temática aflorada neste artigo, investir teórica e praticamente na área do “Design de Interface”. Esse ambiciona desaparecer recorrendo às tecnologias que abordámos. Obviamente que outras existem e, sobretudo, virão. Mas estará o Design atento a emergência de novos objectos disciplinares, em prole do serviço ético e da democratização que possa advir do seu programa e propostas?"

See: Gonçalo Furtado, Notas sobre o “Design de Interface” – designar a simbiose bio-técnica ou o desejo de desaparecimento, in: (in. André Lemos e Cláudio Manoel eds), in: 404nOtF0und (Publicação do Ciberpesquisa - Centro de Estudos e Pesquisas em Cibercultura), V.1,N.37, Fevereiro 2004.

10/14/07

water

Lisbon, 2007

PhD program, Lusiada University
Lecture - 12-10-2007
Duration: 3 hours

Topics:
- Research methodologies
- Cedric Price's Generator
- The encounters of price, Pask and Frazer.

In between, 2005 (Spanish)

Gonçalo Furtado, In between - Proyecto, Teoria y Construcción (2005) ,
in: Carlos Hernandez (ed.), PEI Express, Bogota: PEI, publicação pendente

I
“A nuestro modo de ver, la autónomia-teorica del Arquitecto, es dicir, la posibilidad de que el y su Arquitectura hablen algo de nuevo hoy, es bastante residual.
Esto inscribe una cierta jerarquía, entre la Construcción, el Proyecto y la Teoría, que puede que haya estado sirviendo como motor de la instrumentalización de la disciplina.
Frente a esta eventualidad se sugeriría que la disciplina desarrollase también, además de otros, un tipo de “proyectos te’orico”, destinados a continuar el debate interminable sobre su papel cultural, antes de que tuviera lugar un qualquer simulacro. Tal vez ya lo estemos viviendo, un simulacro en el que se instrumentaliza la teoría y el proyecto para simplesmente servir al mundo de la construcción, y donde cualquier contributo cultural se desvanece en su propia ritualización.
II
Se proponeria aqui debatir (más allá de la simples deconstrucción de definiciones) el enclausuramiento que la Arquitectura ha estado asumiendo en sus versiones moderna o posmoderna iniciales más ‘mainstream’. Se terminararia proponiendo la posibilidad de un Proyecto Crítico que medie la teoría y la construcción, y contemple un papel que la primera puede asumir en la práctica proyectual de la Arquitectura Posmoderna - un motor que permanentemente problematice el potencial proyectual y asegure una dinámica de autocrítica disciplinar.
Para llevar a cabo esto, se poderia hacer un recuento del siglo XX... que resaltaria el desvío necesario de una Teoría de “prescripción” para la práctica de la construcción a una “dinámica autocrítica” del Sistema Arquitectónico en sí mismo. Una narrativa que podría empezar en las complejidades Modernas, en dónde la Teoría operaba hacia la legitimización de una proyectación y práctica constructiva genérica, pasando a la duda y la incredulidad, que desde la cultura del criticismo de los 60 problematizó el propósito de la práctica arquitectónica, enfocándose en la conceptualización de formas de habitar que esta inscribe.
III
De hecho, a nuestro modo de ver, las proprias definiciones de “Arquitectura” convencionalizadas, pueden también inscribir un atrofiamiento conceptual, tanto por lo que enfatizan como por lo que excluyen, y por eso deben motivar una discusión.
Arquitectura? Proyecto? Teoria? Cosntruccion?
La práctica de la arquitectura a la que nos referiremos ahora y propomos no está restringida a una simple organización de espacios, bla, bla, bla...; supone una redefinición disciplinar que reubica el papel de la teoría y el propósito de la construcción, y se opera mediante aquello que denominamos “Proyecto Crítico”, proyecto que es Arquitectura, que puede ser realizable constructivamente o no y cuya esencia es la discusión teórica al interior de la disciplina con el propósito de enriquecer la disciplina misma y sus ‘proyecciones’.
A decir verdad, creemos que el contexto contemporáneo que confina la práctica de la arquitectura no sólo suscita sino que hace urgente la construcción de esos proyectos críticos —disciplinar y culturalmente pertinentes— para afrontar el futuros atendiendo las potencialidades del presente (‘virtus’).
Tal esperanza es necesaria sobre todo cuando se constata, en muchas de las prácticas proyectuales y de la crítica de la disciplina, un distanciamiento entre producción e contributo cultural.
VI
En resumen, la práctica de la arquitectura debería evitar el hecho de convertirse en un instrumento de simples reproduccione de convenciones. Volver a debates individuales criticos, asumiendo el progresismo de toda la producción cultural, manejando cautelosamente un programa de multiplicidade.
Claro que el éxito de estos proyectos críticos en el mainstream profesional (mas interessado en el espectaculo pop) está castrado desde el comienzo por su invisibilidad. Los proyectos resultantes algunas veces surgen imbuidos de una abstracción no representativa dictada por el discurso interno de la auto-referencialidad disciplinar. Ellos son movidos por una teoría de reflexion-crítica mas que por una de prescripción.
Muchos critican este deseo de autonomía proyectual (que es algo distinto a una autonomía discursiva disciplinar), argumentando que ella dificulta el desarrollo de una base profesional que permita involucrar y comunicar a la arquitectura con la sociedad o cliente. Esto casi pareciera un eco de llamado por la recuperación de un papel quasi-heroico que se perdió con los pressumidos senores “genios” de la arquitectura moderna...(risas)
VII
La realidad es que la arquitectura en general ya demonstra hoy haber perdido la capacidad de asumir cualquier papel distinto a reproducir el status quo. En suma, está a su servicio mis senores! Desafurtunadamente! En razón a esto ¿no debería la arquitectura contemporánea, antes que tener un propósito misionero, criticarse a sí misma primero que todo? Construir un espacio en el interior para la re-problematización sobre el sistema-Arquitectura y el papel y propósito contemporáneo de la Arquitectura, y con ésto tornarse mas operativa en el ‘ambito cultural.
Se trata de una elección válida que no ambiciona difusión hegemónica ni que tampoco defiende el hiperindividualismo actual, sino que observa el simples consenso-servico como algo problemático frente al legado historico disciplinar y su resultado contemporáneo. Tampoco defiende la exclusión nihilista, porque está a favor de la idea de que las transfromaciones se hacen dentro de la academia, del mundo de la construcción, etc..
VIII
Es cierto que la excesiva reclusión en una supuesta independencia puede a veces conducir a una responsabilidad cultural débil. Pero esa responsabilidad debe precisamente ser reconstruída hoy también (y desde luego) desde el interior de la disciplina. (Y es por esto que necesitamos de la presencia más fuerte de una teoría relfexiva postestructuralista en la práctica proyectual).
IX
Asi, más allá de las formas intrascendentes contemporáneas, el proyecto crítico, autónomo o constructivamente actualizado, debe cuestionar el mundo de la construcción, los efectos de la negligente construcción moderna y posmoderna inicial, los resultados inscritos en las convenciones teoricas, encargos y aquelo a que da expresión física.
Parece urgente hoy diseñar estos proyectos como construcciones que sean disciplinarmente críticas mediante lecturas subjetivas y “otras historias”, que pongan en relieve la necesidad de revalidar la intervención cultural de la disciplina. Especulaciones heterogéneas que se resistan a cualquier totalización de ideas-convenciones y que muestren perspectivas marginalizadas por el Aequitectura mas mainstream.
X
La Arquitectura debe permanecer simpre auto-crítica. Y projectos Críticos en nuestra postmodernidad o post-modernidad-post deben asumir la duda en la prescripción y privilegiar el papel de la teória en la práctica del projecto, como un motor permanente de auto-reflexino crítica y beneficio disciplinar.
Ellos buscan, desde detrás del lápiz, incubar-originar otros proyectos posibles para la disciplina de la arquitectura en tanto creación de formas de vivir y alternativas culturales. Mas que prescrebir o meramente reproducir, ellos simplemente pretenden contribuir a un debate que nunca debería estancarse: sobre lo que ha venido siendo el papel y propósito cultural de la arquitectura.”
In: Gonçalo Furtado, In between - Proyecto, Teoria y Construcción, in: Carlos Hernandez (ed.), PEI Express, Bogota: PEI, publicação pendente

HISTORIA, MAY 09, 2005

No que respeita á incurção critica na história e na teoria, progressivamente se tende a uma história próxima mas em mutação redefenindo os seus limites em paralelo com os da teorização do contemporâneo.
Recordando a exposição Foucaltiana sobre práticas discursivas, não se esquece que o “Arquiivo” é ele próprio repesentação, do nosso conhecimento e do processo de formação desse. Por isso (muitas vezes) precede a nossa descrição.
O que necessitariamos então desde logo seriam “outras histórias”. Enriquecer a narrativa histórica quanto a´ transformação cultral do moderno para o pós-moderno, é repensar um debate com que reincidentemente a Arquitectura se deparou ao longo do século, isto é: qual o propósito da Arquitectura e quais as formas de desempenhar um papel e estabelecer um relacionamento com a sociedade a cada momento.
Se as condições da modernidade não foram as do imediato pós-guerra (em que o problema do indíviduo se tornou central para lá do das classes; as condições que conformaram o debate dos anos 60 também obviamente não são as que se nos apresentam contemporaneamente.
Quando vivemos numa realidade cultural tão difusa quanto difícil de apreender, perante uma aceleração tão experiencial quanto material, em que próprio individual ameaça socumbir na ameaça niilista do pós-estruturalismo, que experiências produtivas podemos desenvolver desde a práctica de representação do projecto - um dos últimos resticíos de reflexão sobre a disciplina e o arquitecto?
Interessar-nos-ia sim protelar um debate disciplinar.

10/10/07

OBRA DE ARTE DIGITAL. May 11, 2005

Desde há decadas que as tendencias artisticas vem caracterizadas pela Obra Aberta e participativa (happening, performance e instalação) e centradas na conceptualização (privilégio da valorização do conceito), estratégia e comunicação artísticas relativamente ao objecto (conceptual, minimal).
Tal abalou pressupostos artísticos como a unicidade da obra concluída, a autoria, o papel e a interferência do receptor (à semelhança do que Eco referia em Obra Aberta1 de 1962 acerca da participação do público na finalização da obra).
A interactividade começava a aproximar o momento de produção-recepção e a arte da vida.
Mas a obra de arte virtual é participativa noutro sentido, e encontra-se em metamorfose expressando a multiplicidade da experiencia. A sua essência fundamenta-se na ideia contida no metamodelo, e, no mínimo, numa história dos desenvolvimentos potenciais do algoritmo.

CECL on spaces, May 07, 2005

Gonçlao Furtado, CRITICAL PROJECT - A role for theory in the practice of contemporary architecture, in: CECL, N 34 - Spaces December, José Bragança de Miranda and Eduardo Prado Coelho (Orgs), Lisboa, 2004

SINOPSE:
"If we conceive architecture not as merely the «art of organizing and constructing spaces» but rather as the conceptualization and sharing of «life-forms», we are forced to reevaluate the relation between theory and practice in this realm of knowledge. It is thus crucial to understand the transition from modernity to post-modernity, since, as much as in modernity architecture was conformed to a totalitarian language, with post-modernism arose a complex process that triggered deep cultural effects. Among these, we highlight the new perception of architecture as a cultural artifact able to articulate auto-reflexively a theory from its practices, and not reduced to the expression of a technique aimed at accomplishing a function."

10/6/07

Mr Zão , Set 2007



“Processo Criativo e a Estruturação em Computador”: Intreview with Gonçalo Furtado
Bruno Zão
25 September 2007

1ª PARTE:
Bruno Zão: ]Mostra Draft da sua investigação sobre o processo criativo a Furtado]
G. Furtado: Parece interessante o título-tema e estrutura do trabalho [sobre a Prova Final para Licenciatura em Arquitectura]. Os casos de estudo também parecem bem seleccionados. Em suma fazer-se uma revisão dos estados da personalidade e psicológicos, e depois procurar aplicá-lo [capítulo 03] a uma cartografia de exemplos arquitectónicos precisos. Mas estender a paleta não só a edifícios mas a processos projectuais também me parece plausível.
Levantam-se outras questões-hipóteses. Primeiro a escolha do estado “limiar”, acho que assenta a análise no momento neutra Quando os estados psicológicos oscilam entre uma dimensão mais benéfica ou patológica, e essa gama pode ser tida em conta. A psique pode comportar vários estados; eu acho que as análises mais recentes até dizem que tudo coexiste simultaneamente mas em graus variados.
B. Zão: No livro “Como Tornar-se Doente Mental”, o autor diz que todos são potenciais neuróticos. Depende sempre do ambiente e do campo genético. Simplesmente alguns dependem mesmo daquele estado farmacológico. Por isso é que eu falo das neuroses e depois do caso psicótico. Esse já não está no estado limiar, já ultrapassou. Fala-se sobre a disfuncionalidade. A Arquitectura tem um lado característico que é cumprir programas e necessidades. Na Arte recorre-se a elementos psicotrópicos. Muita gente não percebe mas gosta. Na Arquitectura não pode acontecer, pois não se pode fazer “o que nos dá na veneta”. Tem que ter um aspecto muito concreto, muito real. [sobre este tema] Não consigo dar nenhum exemplo em concreto. Mas é possível de encontrar.
G. Furtado: Então podem cartografar-se na dimensão da arquitectura vários estados psicológicos, e que podem oscilar dentro de uma gama. Ou como tu referias, já de limite; e então precisa de uma correcção... seja por psicoterapia, psicotrópicos, etc. Mas pode remeter no que á Arquitectura diz respeito para vários momentos – das fases do processo criativo até ao edifício.
Devo alertar que relativamente à premissa do trabalho, pode ser uma atitude muito “moderna”, que alguém se coloque numa posição de analisador e terapeuta. Um arquitecto terapeuta de outro arquitecto? Mas acredito que este cruzamento da arquitectura como outras áreas, como a psicologia, pode ser produtivo.
Então teríamos os do tipo naturalistas, os não sei quantos, enfim varias distinções como entre Psicologia, Psiquiatria, Neurologia... e entre atitude paternalista de operar sobre o outro, apoiar a que o outro opere, recusar operar […]
Em resumo, seja ao nível do indivíduo ou do arquitecto-arquitectura, parece-me que esses estados encontram-se em várias gradações e em variadas dimensões. Sendo que alguns deles podem estar mais presentes e mais visíveis,
B. Zão: Normalmente, o arquitecto consegue usar a Atitude Criativa noutros projectos.
G. Furtado: Se calhar não tem nada a ver com o teu trabalho, mas estas manifestações revelam-se desde logo no processo criativo durante o acto projectual; ainda que também na concretização material do edifício.
B. Zão: Eu já acabei o da Casa da Música [capítulo], e agora estou a começar o da Faculdade [de Arquitectura]. Há imensos desenhos do Siza, imensas hipóteses. Hipóteses que não faziam sentido nenhum, que o conselho não concordava e então foram abandonadas, em que depois foi criada esta [a construída]. Houve uma intensidade enorme ao nível do envolvimento com o projecto. Uma obsessão, um desenho obsessivo, sempre a trabalhar, sempre a produzir, sempre a controlar.
G. Furtado: Eu ainda estendia isso mais. Do objecto á performance do objecto... como é que estes estados psicológicos se continuam a manifestar na vida do edifício.
B. Zão: Obsessivo-Compulsivo é um critério. O arquitecto [Siza] é um pedagogo e quer incutir nos outros a sua ideia. E consegue isso.
G. Furtado: Exactamente. Claramente. Mas pronto, avancei que duas coisas. Uma era a gama dos estados, a segunda, é a sua presença - do arquitecto até à performance do objecto. Uma terceira coisa que eu identifico é que tens uma tipificação do processo em Arquitectura muito convencional. Em que há a aproximação ao terreno, o projecto, a construção, o edifício; e paralelamente a identificação do esquiços, a maquete etc. Parece-me tudo muito encadeado, sequencial.
B. Zão: Quero encarar isto como “fases”, ou como o professor propôs, “componentes”.
G. Furtado: Se calhar fará mais sentido.
B. Zão: Claro que esta será sempre a primeira [Conhecimento empírico] e esta a última [Decisão em obra], pois vão haver sempre problemas para resolver na altura da construção.
G. Furtado: Será sempre difícil para mim pensar relativamente a indagações tuas baseadas nesta estruturação hierárquica. Por outro lado as minhas respostas são obviamente opiniões pessoais e parciais,
B. Zão: A ordem está relacionada com o ensino aqui [FAUP]. Começamos com o nosso conhecimento, passamos para o desenho, depois a materialização trabalhando com as mãos [maqueta] e o uso do computador quando necessário.
G. Furtado: Outras coisas. Estavas a dizer que não existe precedentes de interesse arquitectónico nesta área. Vê por exemplo toda a análise do Rem Koolhaas, no “Delirious New York”. o êxtase etc.
B. Zão: Sim, sim. Eu estava a falar sobre as Atitudes Criativas Neuróticas.
G. Furtado: Isso; e esta ideia da obsessão, no desenho, é conversa comum.
B. Zão: E das mais respeitadas.
G. Furtado: É produzida, reproduzida e fomentada ao nível quase patológico. Reconheço que tem resultados reconhecidos e de grande qualidade. Por outro lado, no caso do Rem Koolhaas de que falava, ainda que distinto, também é ao nível promocional - mediático, de grande pujança. É interessante que os dois casos [Rem Koolhaas e Álvaro Siza] tenham uma presença tão forte na Cidade do Porto neste momento. Por isso, parecem-me a selecção dos casos de estudo interessante.
Calculo que haja uma consciência, talvez de ambos, da sua entrega incondicional ao projecto. Por exemplo no caso do Rem Koolhaas, penso que há uma consciência, sobretudo revelada pelos escritos dele, sobre este carácter histriónico na arquitectura dele. Portanto eu contradizia-te que [sobre a “inovação” total do teu interesse], que, no seguimento do que estamos a falar, referimo-nos a algo conhecido. Aliás, há “escritos” por ambos, de uma forma mais suave ou menos, onde tal é claro.
B. Zão: Uma das coisas que dita este tipo de manifesto é a consciência. Já existe desde sempre, mas era como o “oxigénio” quando não tinha nome, porém sempre existiu.
G. Furtado: Eu agora dava-te outra deixa. Eu estava a olhar aqui para o teu “Teorias e Manifestos” [o livro de Jencks e Kropf, pousado na mesa]... Há mais compêndios deste género. Eu diria o Leach, o Haus, a Ockman [ao nível da história, da cultura arquitectónica até 68], e depois pós 68. E depois há o da Nesbit até 99 ou coisa do género. Trata-se de readers-compêndios que revelam uma selecção das correntes, os acontecimentos, os textos mais importantes do período. Também revelam quais foram as linhas de pensamento que marcaram os vários momentos. Depois há o “Rethinking Architecture” do Neil Leach, que pega nos “cultural studies” para entender e repensar a Arquitectura. Eu diria que este conjunto, são os compêndios panorama gerais. Posso-te falar um pouco mais sobre o último autor, o Leach. No livro ele define várias linhas, autores de correntes de pensamento influentes que em algum momento escreveram sobre Arquitectura. Vai desde perspectivas marxistas, perspectivas fenomenológicas, perspectivas estruturalistas, até outras correntes. Uma das grandes ausências que constatávamos numa conversa que vai ser publicada era a psicanálise. Não há grandes autores desta que tenham escrito textos sobre Arquitectura. Mas veja-se ao contrário... muitos teóricos da arquitectura, na contemporaneidade em geral, viram essa área como promissora.
Vidler, Anthony Vidler, interesse na poética do Unheimlich não anda muito longe...termo germânico, que refere um estado simultâneo de familiarização e tremor. Vê também o conceito de sublime...e a deambulação entre a obsessão da ornamentação e a grandeza imensa da paisagem. […]
Também olhando para as tuas referências, há outros autores, tanto no campo teórico como projectual que estão marcados por este interesse.
B. Zão: Mas que influenciam?
G. Furtado: Influenciam pouco. Diria que se constituem como alternativas potentes. Parece-me que tens um corpo de trabalho excessivo; é importante que de alicerces para ao nível da introdução e conclusões, como da tua introdução. Se jogue mais...
Podia ser mais produtivo academicamente, eu acho que devias dar uma olhada a estes nomes etc. que te comento e desenvolver os teus temas com mais integração no corpus disciplinar que existe. Achei o título-tema interessante porque se encaixa numa linha de pensamento aonde há muito para explorar. Isto não trata da área psicanálise que falava, mas de qualquer maneira da área da Psicologia. […]
Há um impasse enorme no pensamento teórico em arquitectura, e por isso é que eu acho que como outras áreas essa se candidata como uma das potenciais correntes de pensamento. Depois da desconstrução, [recorda que em termos da critica pós-moderna, as correntes da superação do modernismo em Arquitectura, existiu não só o estruturalismo, mas subsequentemente correntes específicas pós-estruturalistas que estão já ao nível, não da distinção entre tipos de estrutura etc. ... Basicamente a desconstrução foi uma das última corrente, que levou ao “Digital Architecture”, etc. […]. Mas a desconstrução põe um problema... recorde-se que ela centra-se já não na anterior mera distinção significados significantes, mas no shifting signifier... Isto tem de certa forma também, algo a ver com aquela correcção que psicóloga que te esta ajudar a apoiar te fez privilegiando a ideia de percepção, pois as coisas não são codificadas rigidamente.
Na Arquitectura, o pós-estruturalismo vem de certa forma demonstrar... E mete muito em causa...
Também foi neste sentido que te fiz uns olhares quando falaste na questão da originalidade... Porque é que se trata de um termo discutível? Porque toda a autoria se relaciona como o status do arquitecto, apenas o reforço de um determinado entendimento do seu papel social... podemos significar a dialéctica, autoria, autoridade, tal como se ainda faz sentido falar nesses termos.
Na verdade, no caso da arquitectura, o desconstrutivismo foi algo “bluff”, pois raros dos autores contactaram realmente com as coisas do Derrida. Um formalismo tenso e ex Há aqui um termo qualquer que tu usavas que estava bastante forte - o “formalismo excessivo”. […] Há claro pelo menos alguns autores desta situação, que estavam a par das correntes pós-estruturalistas e que as usavam para superar a discursividade modernista, hierárquica, e questionar a reprodução do saber arquitectónico, da prática arquitectónica, da presença e da sua performance no campo social. No entanto, isto cria um impasse, toda esta ideia de um discurso sobre o discurso, do metadiscurso...cai frequentemente num nihilista. Relaciona-se um bocado como o que alertava mais atrás quanto a cartografia psicológica-tipo em Arquitectura. Metemos a Arquitectura na cama do psicanalista, e o psicanalista no armário... agora estende isto à questão de uma prática arquitectónica. Tinha de se declarar como doente e requisitar ajuda, e eventualmente, teria incapacidade ou revelaria consciência etc. Depois um psicanalista-arquitecto operava sobre a Arquitectura. […] É cíclico e é por isso que temos de fazer outro tipo de discursividade.
É no entanto certo que uma das ausências da teoria a explorar é a psicanálise. E isto pressupõe um outro tipo de território mas com consciência daquele que estou a alertar eventualmente. No teu caso concreto, estas a contactar com pessoas das outras áreas, tentar aprender os conceitos chave e adaptar o discurso para a Arquitectura. […]
Por outro lado, parece-me que no caso do estruturalismo [via linguística] muitos autores escreveram sobre arquitectura e estavam a marcar a produção cultural em geral, [nas letras, nas ciências sociais etc.] por isso nós estávamos em contacto de certa forma com essa forma de pensamento. No campo da psicanálise, parece-me que isso não acontece... embora como é sabido, os arquitectos são uma das classes que mais recorre a eles [risos].
B. Zão: Por detrás de um bom arquitecto está sempre um grande psicólogo.
G. Furtado: Possivelmente. Digamos então que se isso se verifica que estamos em permanente contacto com eles como estávamos com os estruturalistas que marcaram a Arquitectura até há uma década ou coisa do género [risos].
Quando o discurso das pessoas dentro da área coincide com a corrente de pensamento, deixamos a maior parte das vezes de sentar a arquitectura na tal cadeira de psicólogo, e tentamos é pegar nesse discurso para curar a Arquitectura. [risos] Provavelmente funciona, não sei. Mas é uma hipótese difícil de explorar.
Em resumo, partilhei-te na minha opinião algumas coisas que podes explorar na tua prova. Os graus entre estas coisas, i.e. a gradação e o nível entre as várias estados e não só o estado limiar, os vários módulos que tu tens no capítulo 03. O segundo aspecto é o faseamento do processo criativo. O terceiro é concentrares-te em objectos e não estender as práticas projectuais dos arquitectos [Álvaro Siza e Rem Koolhaas] à performance dos edifícios etc. A quarta é parecer que enunciavas que não existe, embora pense que existe tanto ao nível de projecto como da teoria, antecedentes. Os casos de estudo têm mais ou menos isso aludido, e no discurso corrente.
E depois estava aqui a tentar encaixar a minha investigação com o teu trabalho. O que é que isto significa? Há a consciência de certos produtores do discurso de Arquitectura e que este é caminhos a explorar. Estou a partilhar-te um entendimento que se calhar não tens consciência para entenderes melhor do que estas a tratar
B. Zão: Eu também tinha essa dúvida, sobre falar com o professor sobre a parte dos computadores. O que eu conhecia [do Arq.to Gonçalo Furtado] era teórico, mas pensei, vou tentar pois não é preciso uma resposta de um prático. Na prática, por exemplo a arquitectura do Gehry ao usar o computador no processo criativo para corrigir, para ver como é. No da Zaha Hadid também acaba por acontecer. E por isso é que era bom ter o outro lado do discurso.
G. Furtado: Estou aqui a ver algo... Estás em contacto com o Koolhaas?
B. Zão: Entrei em contacto com o relações-públicas [Ian Knikker] e deu-me uma resposta possível. Só que ele [Rem Koolhaas] como está numa fase a trabalhar na China…
G. Furtado: … e no Dubai.
B. Zão: Principalmente na Ásia.
G. Furtado: Entraste em contacto?
B. Zão: Arranjaram-me o material todo da Casa da Música. Foram impecáveis. Ele tentou [com Rem Koolhaas e com a Ellen van Loon], mas têm quarenta e tal projectos.
[interrupção da entrevista] [total: 32 minutos e 46 segundos]

2ª PARTE:

B. Zão: [sobre o uso do desenho e a maqueta no processo criativo] Essas são as mais pacíficas. A parte do computador é que eu estou mesmo com dificuldade. Por isso é que eu precisava da sua ajuda sobre o processo criativo.
G. Furtado: No que respeita às fases de arranque do projecto identificam-se vários tipos de projectistas. Um dos tipos é o dos “idiotas”, que são tipos que se centram logo em “ideias” que tinham vindo a alimentar. Há a projecção de ideias que se aplicarão e motorizarão todo o projecto, por vezes esquecendo as referências e situações específicas da própria encomenda. A projectação/criatividade é reduzida a uma sobre-expressão individual, imediata e impositiva, mal percebida, no sentido em que vê a encomenda como um álibi para materializar ideias. Seja qual for a encomenda projectual desenvolve essa ideia. Como um idiota...
Por outro lado também temos muitos do tipo descoberta - os descobridores, muito ao jeito português. Desenhas, muito e a partir do exercício do desenho descobres a solução. Em determinada medida pressupõe a possibilidade e genialidade do indivíduo não só de descobrir como identificar a descoberta como solução. Temos os idiotas e os descobridores. Ambos os tipos podem também ser questionáveis em certos aspectos. Ambas as posições têm senãos.
Têm uma coisa boa que é operarem por vezes resistências contra ideias mais pragmáticas da Arquitectura como mero serviço.
Lembro-me do Siza uma vez numa entrevista, em que estávamos a discutir sobre o pós-modernismo [o Siza é uma pessoa muito culta e com conhecimento amplo que inclui a Arquitectura mais recente, o que às vezes não passa muito no discurso que fabricam sobre ele], e de como a conversa foi importante para mim e para perceber a sua arquitectura. Estávamos a indagar sobre a questão da autoria [que é uma problemática moderna e pós-moderna], e ele dizia-me que o culto da autoria tem um benefício, pois avança uma espécie de resistência a uma Arquitectura genérica mais facilmente tipificável e mercantilizada. Eu concordo quando temos a felicidade de serem autores como ele.
B. Zão: É uma garantia.
G. Furtado: Se te referes a uma garantia de qualidade, é uma garantia no sentido de que quem procura algo associado a um nome, porque sabe o que é que ele faz, recebe mais desse produto. Mas num sentido mais amplo o que te contava visava remeter para a questão do que é a prática da Arquitectura na sociedade e a sua relação com o mundo económico e político... Penso que pode, entre outras posições, existir claro este tipo mais “autoral” de práticas de resistência a uma generalização/banalização da Arquitectura [movidas pelas forças do capitalismo tardio]. Podemos então ver algo de bom, nesta ideia de prática/autoria. A ideia de autoria, claro também pode remeter algo para a vertente de que falava, dos idiotas que têm umas ideias a materializar e etc. Mas há para além desse redutorismo há processos projectuais como em Siza capazes de atender a complexidade dos fenómenos presentes - aí a resposta envolve a dinâmica da ponderação de uma complexidade de factores.
Por outro lado, e votando à ideia da descoberta, essa também me parece que pode ser fonte de questionamento. Tem por vezes um problema quanto às ideias. Mas o processo criativo, claro também tem que ver com os a prioris. É inevitável que nós quando começamos um exercício projectual, nos projectemos e há coisas que marcam a condução do projecto. Nós não somos um lápis que vai descobrir de forma neutra umas coisas que respondem com o máximo de eficácia ao problema. Nós também projectamos algo daquilo que somos, consciente e inconscientemente; às vezes impomos ideias, e ao projectar situações e formas conformamos certas formas de habitar. [Em resumo, não nos podemos livrar de todo das nossas crenças por mais que queiramos. É mais ou menos inevitável que haja a prioris no nosso inconsciente, que sejam projectados quando conscientes de um processo criativo.]
Por outro lado, e para além da inevitabilidade da existência destes a prioris, também me parece que por vezes se associa e legitima a criação com um certo culto da genialidade do arquitecto. Há um grande equívoco dado que nós não deixamos de projectar aquilo que é cultural. Servimos frequentemente como instrumentos de reprodução daquilo que aprendemos na normalização académica, daquilo que vivemos e daquilo que nos chega pelos “média”. Portanto, por vezes mesmo esses arquitectos que tomados como únicos, excepcionais e geniais, não deixam de estar a revelar nada de original. Muitas vezes estão a reproduzir muitas coisas.
Enquanto os saltos da Arquitectura, os saltos epistemológicos especialmente, têm a ver com novos modos de pensar, fazer e criar. Penso que a palavra “criação” tem sentido aqui e mais a ver com isso. Não se trata de dizer que toda a criação do nada surge, mas penso eu que se avança algo inexistente. Frequentemente temos de socorrer-nos e basearmo-nos em coisas que existem, mas criar penso que não é meramente produzir e gerar coisas. Quando se olha para muitos desses arquitectos “excepcionais”, que se acha que estão realmente a avançar e a fazer coisas únicas e novas. Está-se muitas vezes equivocado. Temos de ter noção que é muito raro haver estes saltos epistemológicos e de que a criação é tanto um exercício exigente como um fenómeno complexo.
B. Zão: A proposta do Gehry foi anulada [para o Parque Meyer], lá está. Cativa mas não adianta nada [à Arquitectura].
G. Furtado: Aliás, naquele ensaio de que eu te falava, escrito há alguns anos sobre o que está por detrás do lápis [“behind the pencil”] abordo estas coisas que estamos a falar. Esse lápis não é um lápis completamente autónomo, e de resto a verdadeira capacidade da Arquitectura e do arquitecto falar [no sentido de afirmar coisas] é muito residual e circunstancial.
Em resumo, sobre o acto criativo no projecto de Arquitectura, sobre o que me questionavas começava logo por referir que é um acto raro, o de criar. Existem vários paradigmas, os idiotas, os descobridores e etc. Se falamos de criação temos logo de ponderar o que é que se quer dizer com criação e por outro lado o que é que envolve e está envolvido nessa criação. Por um lado não há uma solução encontrada projectualmente neutra, de formas; por outro lado esta projectação tem tanto de pessoal como de inscrição colectiva. […] Estás a ver... Estamos a falar de Psicologia...
B. Zão: Eu com esta resposta estava tentado a colocar um asterisco aqui na prova. É uma abordagem que ainda não tinha pensado para os meus desenvolvimentos.
G. Furtado: Espero não te estar a destabilizar.
B. Zão: Não. Está-me a clarificar [risos].
G. Furtado: Bem, e mais? Estávamos a falar de criação. Da transdisciplinaridade que é inevitável!
B. Zão: Das ferramentas. Do uso da experiência, pois é uma ferramenta virtual, mas depois há outras ferramentas como o desenho. Outra ferramenta é a maqueta, digamos novamente os AR.X, depois as ferramentas como o computador. Se podem influenciar o processo criativo como um desenho ou uma maqueta, mas que depois testam e inovam a partir no computador. Eu diria que os exemplos são o Gehry, o miolo do desenho dele costuma ser muito rigoroso e muito certinho e depois aquela festividade toda com os revestimentos e os materiais. Mas esse, essa casca depende muito do computador, só funciona a partir dessas novas tecnologias, só consegue pensar [com rigor, pré-visualizando] enquanto está a modelar no computador, por exemplo. Na Zaha Hadid também acho que acontece um bocado, faz os estudos em maqueta e as pinturas, mas é tudo posto à prova no computador. É o último teste, tal como a decisão em obra. Há sempre circunstâncias diferentes – ai as pendentes eram diferentes, vamos ter de resolver isto de outra forma, as cofragens não bateram certo, temos de fazer aqui qualquer coisa. E o computador também entra como um último recurso, como uma última ajuda. Eu acredito que há gabinetes que usam a ferramenta computador do princípio até ao fim, mas devem ser muito poucos. Sobre esse aspecto não tenho muito conhecimento. Para a realidade digamos, porque os utópicos usavam muito.
G. Furtado: O que é que eles te falaram sobre as maquetes, etc.
B. Zão: Tinha uma ideia, o atelier de santos, falei com o Pedro Machado Costa, tinha pensado que eles experimentavam bastante com maquetas, até porque eles têm uma série de projectos que sem a maqueta não conseguem comunicar. A maqueta tem dois pontos, um é o estudo e outro é a comunicação. A Arquitectura sem comunicar com o promotor não funciona. Então, fazer um esquiço que não é comunicável, obrigatoriamente parte-se para a maqueta para comunicar. Eu parti desse princípio que eles trabalhariam a maqueta como experimentação, mas ele disse que não, que usavam todas as ferramentas desde o desenho, maqueta e computador de igual forma, uniam tudo. No Siza vê-se que ele se dedica mais ao desenho, até porque as maquetas são mais de exposição, finais. […]
G. Furtado: O desenho e a maquete servem ou serviram para projectar e para representar. O acto de projectar é uma representação de várias ordens. […] O projecto desde logo é uma nebulosa que vai ganhando forma, e que está sempre a representar o próprio acto do projecto enquanto definição de uma resposta, formal ou outra. O projecto representa-se a si mesmo. Se se usa maquetes, ou não sei quê, não é tão relevante. No entanto não deixa de ser significativo que faças essa distinção. A discussão dos meios usados para representar é, em Arquitectura, histórica. Havia arquitectos que diziam que a maquete era uma manifestação enganosa. A questão remete para a verosimilhança presente na representação de realidade.
B. Zão: A maqueta mostra a forma mas não corresponde à estrutura. Não podemos cair nos erros da experimentação em maqueta. É fantástico, muito expressivo, mas depois a estrutura não funciona – a forma como o papel se cola, no betão já não funciona, por exemplo. Há discrepância entre as duas técnicas, as duas ferramentas. Há arquitectos que podem ter mais medo da maqueta por causa dessa situação.
G. Furtado: Depois há aquela coisa, que também é problemática... […] O Gombriche fala da forma como se vê a escultura.
B. Zão: Temos de nos movimentar para empreender a escultura toda.
G. Furtado: Sim. Vais apreendendo-a com a prioris, percepções parciais, criando uma imagem. Nesse sentido a discussão entre o 2D ou o 3D torna-a irrelevante e histórica. A discussão mais ampla do real vs virtual, etc., também é histórica. Eu acho que todos os meios são viáveis, e que há muitos mais para além desses. […] Que não é na questão do grau de verosimilhança figurativa que está a questão. Acredito que nós não vemos as representações, todos, da mesma maneira. Há uma tendência para a adjectivação e sofisticação das formas de representar. […] No entanto, há muitos equívocos e subjectividade quando estamos defronte a formas de representação dos objectos, e não é só pela ausência de informação. […]
B. Zão: Conseguimos construir um modelo tridimensional na cabeça.
G. Furtado: Eu iria mais longe. Será que construímos, todos, o modelo da mesma forma? Será que a nossa construção mental de um espaço é assim tão objectivável? […] Nós aprendemos de formas diferentes, e até o próprio tempo interfere. Eu acho que a representação é complexa. […] Não se trata só de reflectir sobre o desenho, eu acho que o projecto também se representa a si mesmo, e aí por diante.
B. Zão: A última fase, então, é o utilizador. É o cliente estar a usá-lo.
G. Furtado: Eu acho que as novas tecnologias colocam algumas questões, quanto ao utilizador. […] E então agora, passando para os instrumentos CAAD [“computational added architectural design”] de que te interessa que fale, claro que são uma ferramenta, mas muito provavelmente mais do que isso. Pegando na óptica de ferramenta, recordo como Butler falava da ideia de prótese, que eu acho que é produtiva para entender o que é a ferramenta. A ideia de prótese é a ideia de extensão das tuas capacidades, sejam elas físicas, mentais, etc. [é nesse sentido que as utilizas, que te estendes]. Uma régua estende as tuas capacidades de desenhar a direito. […] No sentido da ferramenta que estende as capacidades mentais, devemos buscar ferramentas que permitam compreender o projecto como um todo [superar a maquete]. […]
Façamos um parêntesis para pensar sobre o acto de criação... que restícios mantém de originalidade tal como de aleatoriedade. Como é que surge a criação e onde é que surge. Na criação há muitos elementos permanentemente em definição, diferenciação... competição, emergência... Muitos criadores no acto criativo estão a promover projecções. Interessaria mais a dinâmica de geração de resultados, sejam com desenhos, maquetes, esquiços, ou o que seja. De resto, relativamente por exemplo quanto ao desenho, há vários tipos e que são diferentes por várias razões. Vê também como se tem disseminado muito na última década uma ideia de projecto com parâmetros gráficos, etc.
B. Zão: Os diagramas.
G. Furtado: A ideia de projectar com números, vectores, quantidades. Estabelecer mais com o diagrama a performance, do que com a forma. E esta ideia do diagrama, não querer ser telegráfica, é mais de uma essência diferente. […] Assim, quando falávamos em trabalhar com maquetes, estamos a reduzir-nos a maquetes tradicionais muito concretas. As novas maquetes são disformes, no sentido em que a maquete não tem uma forma que possamos representar estaticamente. Com novas tecnologias de desenho e maquete, a forma vem de acordo com o projecto, etc. Neste suporte de projecto, nós estamos sempre a pensar/projectar uma solução que inclusive pode deixar de ser única e determinista. Não ser um momento estático, como acontecia muito no desenho e maquete.
É possível pensar em elementos de representação dinâmicos, um diagrama ou então uma maquete dinâmica - absorvendo todos os aspectos possíveis. Por exemplo, numa Arquitectura indeterminada, informal, podem-se incluir várias dimensões: programática, tipológica, estrutural, construtiva, etc. Com o apoio das tecnologias da informação e comunicação. Como é óbvio, trata-se também de novos modos de expressar e exponenciar um paradigma de incerteza. Já não estamos a expressar uma coisa fechada, concreta - tendemos a projectar possibilidades. Interessa-me sobretudo esquemas, diagramas, que incluam parâmetros de real impacto como o cliente poder intervir constantemente, ou a ponderação de sustentabilidade e ecologia. Falo de uma Arquitectura reactiva capaz de se adaptar em qualquer momento. Trata-se de algo que questiona a nossa ideia normalizada de ordem e a nossa forma de pensar/comunicar, de criar.
Começamos com a discussão do que é uma ferramenta e o que é representar, das incursões/implicações históricas da maquete e do desenho. Na Arquitectura privilegiam alguns instrumentos porque têm de “representar” uma determinada “lógica”. Se a “lógica” variar, os processos também variam e vice-versa. Recordo por exemplo que o instrumento do desenho tem significado na ascensão social do arquitecto. Trata-se da relação entre o arquitecto e o mestre da obra, e que toca toda a comunidade envolvida na edificação. […] Os arquitectos possuíam os moldes e escondiam dos outros...
B. Zão: Tinham erros. O Leonardo da Vinci representava com erros para que quem o roubasse não percebesse, e para si depois corrigia.
G. Furtado: Quando alguém dentro da obra centra o domínio deste processo chave – o desenho – e que confere a capacidade de ver a priori, como o edifício será e pode ser feito, ele passa a dominar a construção. Consegue representá-lo, mostrá-lo ao cliente e assegurar a sua execução. […] Recentemente está a pôr-se a questão sobre o que acontecerá ao arquitecto. A figura do arquitecto, definida historicamente, nesta relação entre o projecto e a construção continuará a diferenciar-se com os instrumentos intelectuais que ele detém. Eu acho que também te pode interessar, mais do que saber como é que é usado [desenho e maquete], quando é que é usado, é o facto de estarmos a falar de meios que possibilitam extensões e que se circunscrevem dentro de uma realidade histórica.
Será que daqui a uns anos vamos trabalhar sobre uma projecção [holografia, etc.]? Eu acho que o arquitecto não desaparece, mas que os novos meios nos enriquecem, e de certa forma nos estão a estender para outros campos [infelizmente estes meios são percepcionados e usados de outra forma].
Quais foram as respostas que te deram outros? [perguntas a arquitectos sobre o processo criativo]
B. Zão: Pois, as respostas. Comuniquei com três arquitectos: o Brandão [Nuno Brandão Costa] foi para fora durante um mês – tinha a pergunta sobre o desenho. Sobre as maquetas tenho a do AR.X [Nuno Mateus] e depois mandei a mesma questão ao Pedro Costa [a.s* atelier de santos]. Ele foi muito directo [Pedro Costa], há imensas ferramentas e ele usa todas por igual, pois para ele não depende disso.
G. Furtado: Eu acho que é frequente encontrarmos pessoas que usam mais o desenho do que uma maquete, porque as suas naturezas são diferentes. Mesmo no que respeita ao grau de figurabilidade, ou de ser mais ou menos conceptual, eles variam. Relativamente ao meu desenho consegues ver a matéria e a forma caótica simultaneamente tal como as problemáticas a responder. E o mesmo acontece com as maquetes tridimensionais. Há maquetes feitas quando não há forma, que procuram expressar problemáticas, etc.
B. Zão: O desenho e a maqueta são aqueles mais imediatos. Desenhar o contorno do terreno, construir o terreno, pegar numa plasticina ou meter cubinhos de esferovite é completamente diferente. Tem a ver com a atitude para cada um dos casos. Não sei se com o computador se consegue fazer isso. Se consegue colocar um terreno no computador e depois começar a levantar linhas livremente.
G. Furtado: É mais do que isso...
B. Zão: Eu ainda não consegui assegurar bem esta parte do computador.
G. Furtado: Uma coisa é a ideia de projecto assistido por computador, mais reduzida a mera ideia de ferramenta. […] Outra ideia é a metodológica que mais me interessa. Há aqui um novo paradigma, ou pelo menos promete haver aqui um novo paradigma. […] A nova plataforma, com o CAD-CAM, determinados programas, determinados interfaces, tanto de input como de output, devem entender-se mais ao nível metodológico do que ao nível instrumental. Por várias razões. E que não têm nada a ver com o que normalmente se privilegia - isto é, normalmente usam-se computadores para ter mais eficácia, precisão de desenho ou serem mais rápidos e se poder reutilizar coisas, oferecendo mais rentabilidade. Será mais benéfico se forem entendidas metodologicamente. Elas oferecem de facto um conjunto de meios que podem ajudar em todo o processo criativo, a exteriorizar e a procriar rápido, etc. E alguns desses programas têm mesmo alguma autonomia/inteligência artificial [passo a “existência” dessa noção]. Mas eu falaria sobretudo em parceiros de projecto, do tipo: se usar estes componentes vai implicar que esta janela custe “x” e a manutenção e custo daqui a dez anos levará à falência do edifício. Ele pode-se lembrar de coisas que nos podem ajudar, e cruzá-las de acordo com a lógica geométrica ou outras [num contexto mais espanhol falariam em genética, num contexto mais anglo-saxónico em paramétrica]. Isso pressupõe um abandono da ideia de que te estão a pedir uma solução clínica, privilegiando a experimentação. Ou seja, abre-se a dinâmica de incluir inúmeros parâmetros e a possibilidades de cruzar alternativas. Por vezes pode contradizer-te e dizer quais são as consequências do que estás a criar. Tu vais operando sobre e de acordo com alguns parâmetros que delimitam a evolução do processo criativo e ele vai restringir o resultado de acordo com as condições que tu vais delimitando. O que se chama paramétrico é também muitas vezes entendido como: a possibilidade de oferecer enquanto está a desenhar, todos os outros elementos necessários ao projecto, como orçamentação, temporização da construção em obra, etc., permitindo que tu te concentres na própria criação [dá-te automaticamente as consequência das tuas escolhas, em termos de dinheiro, tempo, etc.]. Por exemplo relativamente ao dinheiro claro que sempre vais ponderando, mas normalmente delegas aos orçamentistas, ou então não te apercebes com exactidão no momento. Não quer dizer que agora não tenhas de te preocupar com essas coisas enquanto estás a desenhar, porque tens outros “agentes arquitectos digitais” a fazer o resto do trabalho. Quando estás a desenhar poderás de uma forma mais automática saber qual é a consequência da tal janela. É um parceiro de projecto, dentro da tua metodologia! Este é o entendimento mais pragmático de um dos benefícios por exemplo de um dos tipos de paramétrico. Um outro aspecto interessante das novas ferramentas e sistemas de projecto tem a ver com a indistinção entre a concepção, produção e experiência. Falávamos das novas tecnologias facilitando o pensamento e a aferição das suas consequências, mas podemos falar também da facilitação interacção do projecto com as próprias forças da produção e da experiência. Isto é, com os CAD-CAM, quando estás a desenhar estás também a desenhar os parâmetros de fabrico, transporte, montagem. Já vai codificado no próprio desenho. Isto parece-me interessante, pois demonstra que o CAD não fomenta só o formalismo de imagética computacional. Em oposição com essa crítica redutora, eu penso que o domínio de algumas destas ferramentas desprivilegia os interesses formalistas e permite o contacto com o mundo concreto da realidade arquitectónica.
Mais do que isso, é imprescindível dominar estas ferramentas. Falamos de uma realidade em que haverá uma espécie de meta modelo em que se incorpora tanto as dimensões do desenho, como da construção. Pode também ser experimentado multi-sensorialmente em realidade virtual. Portanto, há aqui um colapso temporal; tu estás a desenhar e também estás a experienciar. [No início do processo projectual tens uma coisa disforme e ao longo do projecto, algo mais definido.] Este colapso diz respeito tanto à aproximação do projecto à construção [com os CAD-CAM], como do projecto com a experiência [com os simuladores da realidade virtual]. Em suma: o colapso destas três fases aproxima a criação da produção, da experiência. Por outro lado, como referi, contraria aquela crítica do uso do CAD privilegiar a imagem e formalismo. De resto esquece-se como se vai trabalhar com essas e outras tecnologias, que estão a sustentar a vida da nossa sociedade da informação.
A produção da Arquitectura vai passar muito por essas ferramentas [de várias formas e suscitando várias abordagens], e ao passar muito por elas, o processo de projecto e construção [de que estava a falar] centra-se num modelo. Não se baseia na mera ideia de desenhos Autocad, impressos em folhas de papel e raramente destinados a construir ideias. O modelo incorpora não só a forma como quase todas as dimensões e elementos envolvidos no projecto e sua construção. Quem tiver capacidade para dominar esse modelo, [e eu tenho a certeza que esse modelo vai de encontro a muitas áreas – o cliente, o financiador, o arquitecto, os engenheiros, os construtores, as fiscalizações, os aspectos legais, tudo.] controla a qualidade da Arquitectura. Resta saber quem é que vai dominar esse modelo e, como corolário, o mundo do fazer Arquitectura. Se os arquitectos querem continuar a trabalhar exclusivamente como têm trabalhado até agora - fora dos sistemas de computação, dos fenómenos generativos paramétricos, etc. - arriscam-se a perder a possibilidade de ter algum controlo sobre o modelo para onde irá convergir uma grande parte do projecto. Estamos pois a falar de coisas muito sérias e não só da possibilidade de produzir formas e imagens. Estamos a falar do próprio status social e do papel do arquitecto em equipas transdisciplinares – um status e papel – que se tem envolvido historicamente na prática da construção e da Arquitectura em geral. Estás a ver a ideia do modelo? Eu não estou pois a falar de meramente imprimir desenhos CAD e de ser mais eficaz. Isso para mim não é o mais importante. Este sistema de projecto de Arquitectura promete colapsar fases do fazer e viver Arquitectura tal como muitas noções que subsistem do que é o arquitecto, na sua atitude e de que tipo de coordenadores será.
B. Zão: Eu acho que está respondido.
G. Furtado: Eu acho que a prática com este tipo de ferramentas e a ideia de modelo, tem pouco a ver com as comuns ideias redutoras de projecto, mas sim uma ideia mais densa de o que é que envolve um projecto. Isso não deixa de pressentir o culto de certos apogeus. Mas o apogeu de qualquer ferramenta favorecerá o discurso sobre novas outras. […]
Os parâmetros/ideias são catalogados e transferidos por alguém para esse modelo, e a criatividade nessa estrutura resulta na obra, ela própria não estática. Mas quem é que vai coordenar o modelo? O engenheiro de sistemas, ou o próprio cliente, ou o construtor, ou o arquitecto? É um sistema de muitos inputs e nós, arquitectos, devemos desde já trabalhar directamente com esse modelo, nunca perdendo a nossa especificidade de inclusive definir a forma. Se o fizermos mantemos alguma capacidade de influenciar o projecto e sua materialização e performance absorvendo o controlo de muitos aspectos e parâmetros que ficam sujeitos a poderes de decisão.
O domínio desse modelo é a capacidade de controlar a própria qualidade da Arquitectura. É isso que está em causa.
B. Zão: Esta resposta é tão deliciosa que eu nem tenho coragem de a usar. [risos]
G. Furtado: Eu acho que o que eu te queria partilhar com esta conversa é que eu acho que a ideia [o tema da tua dissertação] é muito interessante mas parece-me que em alguns aspectos da segunda parte estás a usar uma óptica convencional de prática de projecto pela prática do desenho, e acho que podemos ir além disso.
Começava logo por questionar o que é a representação. Constatas que há estes tipos de personalidade nos desenhos de projecto e nos edifícios resultantes. Mas o que é que significa falar disso? As consequências disso? Como é que o projecto acontece na sociedade e como é que a Arquitectura o opera. Há bocado estavas a dizer uma coisa que eu achei muito interessante, que é não haver esquizofrenia na prática da Arquitectura por ser psicótico/disfuncional, havendo no entanto muitos mais estados, mais viáveis – os neuróticos. Às vezes têm resultados muito interessantes, mas no caso da Arquitectura isso tem de ser controlado. Porque a Arquitectura tem uma presença social e tem consequências de grande seriedade.
B. Zão: A esquizofrenia é um caso autista. É um mundo paralelo, disfuncional.
G. Furtado: Mas partilhado colectivamente: não é fora do ambiente, porque, quem é que é o louco? São os que estão internados ou os que estão cá fora?
B. Zão: O Erasmo perguntava o mesmo. Dizia que o louco era o que tinha as respostas todas. [risos]
Mas isso já é outra prova.
G. Furtado: Acho que podes ainda avançar além daquilo que já está feito. Abrir e lançar hipóteses, ver como o teu modelo se pode desenvolver e protegê-lo contra críticas. Podias ter em conta estas opiniões que estávamos a discutir, relativamente a alguns momentos do teu trabalho em futuros desenvolvimentos. Estás a discutir representação dentro dos moldes como ela é tradicionalmente praticada no projecto de Arquitectura. Eu acho que a análise pode ser mais profunda e depois tornar-se também operativa, crítica, prepositiva, no sentido de: eu estou a analisar esta prática que é assim, as consequências desta prática são estas e de acordo com esta investigação as minhas propostas podem ser estas.
B. Zão: Faz todo o sentido. Eu estava-me a limitar imenso nessa parte [processo criativo], apesar de eu já estar cansado para manter os olhos abertos. [risos]
G. Furtado: Calculo que projectas e sabes que estas coisas não são assim. Discutir onde é que se usa o desenho ou a maquete parece-me redutor.
B. Zão: O meu objectivo inicial era a intensidade. Quais são aqueles que se dedicam mesmo ao desenho.
G. Furtado: Saber que percentagem de pessoas é que usam mais desenho ou maquete?
B. Zão: Era mais, quais as consequências, quase.
G. Furtado: O que é que interessa se algum usa mais a maquete?
B. Zão: Sim, por exemplo. Os AR.X usam e experimentam imenso na maquete. Se podemos ver nas obras deles um resultado final de acordo com isso e completamente diferente, por exemplo, das do Siza. Tentar distinguir uma e outra, os resultados.
As Atitudes Criativas, que se encontram fora do estado patológico e do normal, que estão no limiar, trazem resultados. Toda agente tem um lado obsessivo, histriónico, fóbico. Mas no final temos apenas dois, três parâmetros. Os casos patológicos já têm vários, oito, dez. Por isso, o resultado final é que divide e marca a demonstração desse estado.
No desenho também se distingue, acredito eu que poderá. Vendo os exercícios de uma pessoa que se dedica ao desenho, pode acabar por produzir uma obra diferente de uma que se dedica à maquete.
G. Furtado: Não acredito que seja assim tão linear.
B. Zão: Era esse estudo que eu queria fazer nessa parte, no início. Só que não sei.
G. Furtado: Toda a gente usa vários métodos. Tu também, pelo que sei, escreves romances e pretendes desenvolver um filme.
B. Zão: Eu desenho, mas se experimentasse muito em maquete não sei se chegaria àquela forma.
G. Furtado: Por exemplo no caso dos computadores há pessoas que chamam erradamente modelo ao mero desenho 3D. Quando falo de modelo estou a falar de coisas mais complexas. Está muita coisa lá dentro. Uma das possibilidades é claro experimentar em 3D. […]
A tua ideia de desenho e de maquete também se dilui, na ideia de modelo.
O que me parece é que há pessoal que tem mais afinidade para determinado tipo de representação, seja desenho ou maquete, etc., e o resultado pode ser mais ou menos afectado pela intensidade do uso. Por outro lado também acho que estás a associar muito directamente a ideia de projecto à ideia de processo criativo. O projecto é uma coisa mais ampla e dentro dela há uma dimensão criativa, mas o projecto envolve um monte de coisas, não envolve só criação. A tua questão centra-se se dentro do projecto utilizar determinados tipos de representação pode condicionar um resultado. Na análise da tua dissertação, penso que tens de trabalhar como um cientista. Tens de criar uma premissa para fazer uma experiência, mas a premissa parece-me ainda que tem de ser fortalecida. [risos] O facto de ires perguntar a alguém se ele usa mais ou menos, não te dá um universo de análise de onde possas tirar conclusões.
Numa conclusão, terias de dizer: parece-me que, dentro do universo dos arquitectos que analiso como casos de estudo, eles gostam mais de utilizar maquetes. Em alguns desses casos, o uso privilegiado de maquetes tem algum reflexo na construção, mas há uma excepção em que há um tipo que nem sequer usa maquete e cujos edifícios são de grande complexidade. [risos] Agora, extrapolar e dizer: a criação em Arquitectura com o uso do desenho e da maquete, etc., leva a “x” fora do universo de casos de estudo, parece-me muito arriscado.
Sobre esta segunda parte, em suma, eu acho a primeira parte da dissertação interessante, mas sobre esta segunda podias alterar e enriquecer alguns aspectos. Potencia e enriquece, mas a que grau? Depende de o que é que estamos a falar. O computador na prática do processo. Mas que computador? Quais programas?
A minha opinião é que há um entendimento redutor da sua dimensão epistemológica. Não são ferramentas e levantam questões que estão para além das questões comezinhas que normalmente as pessoas insistem em referir. Estamos a falar da prática da Arquitectura e estamos a falar da prática do projecto em si, para além da prática da criação. Estamos a falar de como é que a Arquitectura opera na sociedade e talvez da oportunidade de ela continuar a ser relevante. Tentei dar algumas ideias de que há um colapso, realmente, de o que é um projecto, a construção, a experiência. Tentei também dar alguns exemplos usando vocabulário usado, etc.
B. Zão: E foi uma excelente ajuda.
G. Furtado: Espero que sim, mas isto é só mais uma opinião. Parabéns pela tua investigação.
B. Zão: Muito obrigado, pelo tempo e disponibilidade.

[total: 67 minutos e 15 segundos]


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