2/3/09

A IDEIA DE UM FORUM DIGITAL: Resposta a Fernando Lisboa.

IDEIA DE UMA FÓRUM DIGITAL SOBRE PROJECTO
(Gonçalo Furtado a Fernando Lisboa, Outubro de 2000)
LISBOA
“(…) Em resposta ao seu e-mail e em relação à conceptualização de um ‘Fórum digital’,
a nossa conversa ao jantar clarificou a sequência de e-mails que trocámos.
TEMÁTICA
O fórum parece-me neste momento claro como um local de reflexão em volta do ‘Projecto’. Projecto em sentido lato, (…) dado que o sistema ‘arquitectura’ é já imperativamente um território por definição elástico e permeável, à semelhança de qualquer pensamento coerente com a sua condição pós-moderna, isto é, não linear (…).
ANTE - PROGRAMA
O fórum seria pois um lugar trans-diciplinar ‘em construção’; mas este, na sua base (e de forma a assegurar a sua vitalidade-sustentabilidade futura), não pode prescindir de uma definição clara do seu pressuposto - uma espécie de ‘Ante-programa’. (Ou seja, a meu ver, enunciar o conceito de ‘projecto’, por si só, não colmata esta necessidade. (…) Elaborar um discurso ainda que sumário acerca da temática, dos pressupostos, e dos propósitos do fórum, torna-se desde já necessário (…) ).
Parece-me ainda que uma sub-organização em “Projecto” e “Objecto” era produtiva para o estabelecimento de uma base.
ANTE - ORGANIGRAMA
Se um fórum na rede se define enquanto lugar de pensamento colectivo, (um “cérebro colectivo” para Kerckove), tal não prescinde da definição de uma estrutura base, ainda que permanentemente aberta, sobre o qual o edificar. Leia-se, e como discutimos no jantar, uma estrutura aberta incluso do ponto de vista técnico. Isto é, que se socorra de um sistema técnico (equipamento, programação, etc) não necessariamente complexo, e cuja gestão-control-manutenção prescinda do nosso envolvimento, em prole de uma participação sinergética em equipa. Utilizar o Laboratório por si dirigido, parece como sugeriu resolver desde logo esta questão técnica. Mas, como aludi, nenhuma instalação se constrói sem um projecto. E antes de um projecto, um programa (questão para que espontaneamente a nossa conversa a-sincrónica se tem dirigido). E se um dos conteúdos de um programa é a definição precisa das suas áreas / actividades; eu imaginaria um organigrama, em que núcleos e ligações pouco significassem; senão um estado preciso de re-organização temporariamente estável em dado momento.
(No entanto, como o momento zero do fórum ainda não ocorreu, podemos então realizar o exercício de definir o estado em que arrancará; e, pelo menos o imaginar. Projectar.)
A estrutura de qualquer fórum, como bem defende, deveria basear-se em suportes (fomentos?) da reflexão - a actividade é o debate. Portanto poder-se-ia ter um fórum propriamente dito, por ‘e-mail’ a-sincrónico, mas igualmente um ‘chat’ sincrónico. (O desenvolvimento de actividades de grupo propriamente ditas - supostamente qualquer que fosse - poderia suscitar o encontro em locais físicos.)
Paralelamente ao desenvolvimento de uma (por vezes várias) discussão colectiva e plural no fórum; qualquer dos membros poderia aprofundar posições-linhas variadas, redigindo papers (sobre a temática precisa em discussão ou outras), os quais seriam canalizados para uma espécie de ‘memória’. Um banco de bases de dados, contendo colecções de papers significativos, mas também bibliografias, o arquivo da vida do fórum, etc.
No seguimento do exposto, penso ainda que algumas zonas do fórum poderiam se orientar para o suporte á realização de investigações-actividades delimitadas (enfatizando a ideia de ‘collaborative work’); contrariando uma das suas expressões - i.e. “que o importante seja o problema , não a resposta, nem a aplicação prática ou solução definitiva”. Se está em causa o estauto do conhecer, também está a sua operatividade. (Teorias que não superam o desejo de se confrontar com as questões em que se movem, ainda provisionalmente, não correm por vezes o risco de se reduzir a uma espiral de redundância e vazio?). A referida zona de biblioteca de papers, e local de projecto (enquanto trabalho-praxis-uso das teorias), parece produtiva; pelo que se deve procurar que o projecto enuncie igualmente a sua concretização de uma forma precisa e rigorosa. (É pertinente igualmente a sua ideia de existir um local de exposição de trabalhos ditos ‘prácticos’).
Em suma: como e com o que é que acha que deveria arrancar um fórum (isto é pelo que é que começaria a ficar definido o seu projecto)?

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