Gonçalo Furtado e Josep Montaner [entrevistado], “Josep Maria Montaner: O mistério do silêncio da Arquitectura”, in: Arq/a,Janeiro 2009, p.74-76.
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[GF] A historiografia crítica de Tafuri debate a arquitectura como uma disciplina “muda”, a falência das vanguardas e a questão da autonomia. Paralelamente recordo toda uma escola Italiana Veneziana e Milaneza proto pós-moderna (que colapsará mais tarde com o pós-estruturalismo), que pega nesse manancial da memória, da linguagem e cultura arquitectónica, com vista a procurar um vocabulário que permitisse à arquitectura poder voltar a comunicar com a sociedade após a abstracção da linguagem moderna. Acreditava-se assegurar por essa via uma possibilidade de actuação na sociedade pelo arquitecto…
[JM] Sim, o que tu dizes levanta muitas questões. Desde logo, a questão da arquitectura como linguagem e com capacidade comunicativa (via semiótica e estruturalismo). Manfredo Tafuri parte da problematização desta possibilidade e Peter Eisenman completa-a negando tal possibilidade. A Itália aglutinou a evolução teórica deste projecto crítico, detrás da forte cultura italiana dos anos 1950-70s que inclui Ernesto Nathan Rogers e seus discípulos (Aldo Rossi, Manfredo Tafuri, Giancarlo de Carlo, Giorgio Grassi, Carlo Aymonino, etc); e houve esta confiança (ex: Rossi ou Grassi) de que haveria esta linguagem e vocabulário. (Neste nó da cultura Italiana, há ainda toda uma linha de evolução Romana e mais internacional com Bruno Zevi e o Organicismo, que possuiu uma influência transcendente como por ex: Lina Bo Bardi). Voltando à crítica tipológica, houve confiança de que se projectava desde este caudal de saber, a arquitectura redimira-se porque comunicava com a colectividade que identificaria esta linguagem. Na verdade, Rossi terminará auto-repetindo uma linguagem muito formalista, que trairá a sua teoria e que vai tirar força à sua aproximação nas últimas décadas. Grassi defenderá quase a arquitectura enquanto “natureza morta”, algo fechado em si mesmo, e que tudo já foi dito.
[GF] Após um século XX que indagou acerca de uma linguagem universal, concentrando-se em determinado momento nos problemas e possibilidades de comunicação da arquitectura, assistimos ao colapso com a Desconstrução (tanto carregada de niilismo como dos benefícios de reflectir sobre o papel da arquitectura na sociedade e status do arquitecto). Referias Eisenman que, no limite da crítica de Tafuri, negou essa possibilidade. Tratou-se de um abalo problemático e que comporta a necessidade de uma reflexão acerca do papel social da disciplina. Continuou-se a experimentar novas linguagens. Parece-me curioso que tal niilismo também coincida com uma tendência para o chamado “super-modernismo” das caixas de inspiração minimalista dos anos 1980s (ainda que não necessariamente neutras e silenciosas), para algum apogeu do high-tech, e para a disseminação da arquitectura da “big orange” em prole da globalização da esfera económico-cultural.
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