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4.01.2025 - por Telmo Castro, Professor de desenho ESAP

APONTAMENTOS ESCRITOS E DESENHADOS - MESA REDONDA - 4.01.2025 Telmo Castro, Professor de desenho ESAP “ O desenho, pai das nossas três artes, arquitectura, escultura e pintura, procedem do intelecto, extraem da pluralidade dos aspectos as coisas num juízo universal, semelhante a uma forma ou ideia de tudo o que existe na natureza, a qual é perfeita nas suas medidas.” (Giorgio Vasari(. / Desenho liquido, imediatez; corolário que permitiu evocar a interioridade pessoal e partilhável na fragilidade do desenho momento, do mínimo ou do intenso, uma interrogação do que é e, o modo do que são desenhados os apontamentos. / Somos deste modo, arrastados pela indumentária da profissão de arquitecto, na acepção convencional em observar o que nos ocorre quotidianamente como desígnio ou acto de pensar. —o esquisso ou o esboço mais ou menos detalhado— Algo que se estabelece pela diferenciada configuração expressa e, o singular processo de coordenação: mente, olho e mão. Tudo isto, claro está, integrado por uma praxis enraizada pelas lições dos mestres, pela História dos Homens ou pelas profícuas mãos dos incontornaveis “Davinci ´s” em todos os tempos e lugares. / De certo modo, os desenhos de Gonçalo Furtado encontram-se, ou melhor encontram um “Lugar”. O intrínseco e o fragmento acompanhados de uma imediatez intuída e de observação condensada, trazem uma espécie de transpiração envolta na verocidade e velocidade do registo —não há dia seguinte— desenhos que, como Frederico Zuccari em 1607 nos descreveria; “O que aparece circunscrito de forma mas sem substancia de corpo. O simples delinear, a circunscrição, a medida e a figura de qualquer coisa imaginada ou real”. / É neste ambiente que se encontram as essências expressas do múltiplo e do autor, na domesticidade cristalizada em segundos. Na vida das coisas. Um desenho que representa cenários e espaços, personagens ambíguos e distorcidos. —É tocar e fugir o mais rápido possível. É ser “felinamente” aguçado para que as presas não escapem à necessária sobrevivência. / São per se diagramas na razão de se transformarem na verdadeira causa da sua existência. Diagramáticos que se definem pela possibilidade, investigativos e analíticos, revelam a escala geral, a localização espacial, a natureza estrutural das formas no espaço. Como tal, são essencialmente julgamentos espaciais ou, decisões sobre a localização e condição estrutural da representação, na essência ou no impulso entre a duvida e a necessidade como artefacto na proximidade imediata. São a construção de um lugar existencial. / Por outro lado, são também o exercício do real, frente ao real onde cada desenho prefigura um novo elemento no real percepcionável e problematizável: aquele que o objecto produzido impõe. De meios técnicos pobres, mas simultaneamente o bastante para arrancar grandeza ao seu aparecimento, são pela capacidade radical de realizar, admitir no gesto, formas distinguíveis de densidades, fruíveis no deleite e no artificio, sobressaindo na inesgotável presença dum mundo exterior, globalmente percepcionado. / Exercício dum desenho axioma, de finalidade representativa que obriga a uma dinâmica analítica de maxima radicalidade e de maxima segurança: partindo da fixação do outro representável, escolhendo-o, separando-o, eventualmente articulando-o com quanto o rodeia ou o caracteriza. Cada desenho realiza deste modo, um processo de abstração determinante; o que na forma se consubstancia a e se liberta. / Podemos no entanto distinguir o sentido estético da forma e do conteúdo como estrutura essencial em relacionar figura e fundo, onde a forma surge como aparência e o fundo expressa a mensagem carregada por essa forma. Uma construção dialética onde o autor se passeia: contorno e superfície, interior e exterior, regendo ritmos e organizações, dispondo volumes ou texturas, configurando hierarquicamente os pontos de referencia perceptiva. / Um desenho preparatório e medular ultrapassando o estatuto do exercício de liberdade, de actuação acrescida num espaço reacção e refugio. / Talvez por isso e para minha própria segurança, traga uma citação das lições de Ítalo Calvino: Começar e acabar. “(…)Terei de continuar a seguir o fio da memoria de leitor?” Biografia Jorge Telmo Rodrigues de Castro nasceu no Porto em 1962. Estudou com os Mestres Sá Nogueira, Henrique Silva e José Rodrigues na Cooperativa Árvore entre 1981 e 1983, Licenciou-se em Arquitectura na Escola Superior Artística do Porto em 1990, Pós-graduação na Universidade de Sevilha em Reabilitação Arquitectónica e Urbana em 2000, Doutorado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 2020, desenvolve a actividade de Arquitecto e docência na ESAP. Foi premiado em vários concursos públicos em Portugal, tendo obtido os prémios internacionais: “Palmarés Ibérico Tecnhal” 2018, Menção Honrosa “Architecture Master Prize” 2018, World Architecture Tecnhal Awards WATA 2019. Participou em varias Exposições e Conferências no Porto, Matosinhos, Sintra, Trienal de Lisboa, Museu Nacional Soares dos Reis, Igreja de Santa Clara-a-Velha, ESAP, UBI, FBAUP, Reitoria da Universidade do Porto e O lugar do Desenho - Fundação Julio Resende.

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