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6/19/23
"A vertiginosa torrente de imagens de Filomena Molder"
"A vertiginosa torrente de imagens de Filomena Molder
Há uma forma própria de falar em Filomena Molder, uma cadência encantatória para quem a ouve. Parte de si, da sua própria experiência, da condição de quem observa e pensa, mas enquanto ato coletivo, na medida em que a sua leitura do mundo é polifónica. Nela, cruzam-se e dialogam os seus autores de eleição, aqueles que sempre persegue ou que a perseguem, os que vai descobrindo ou com quem se vai cruzando. E nesta rede de constelações, não como Sibila, mas como Ariadne, demonstrou as inesgotáveis possibilidades de aproximação ao tema que lhe tinha sido proposto para encerramento do ciclo Espaço, Escrita e Pensamento: O espaço da imagem.
Encadeando diferentes pontos de vista, Filomena Molder foi desenhando, formando, sugerindo, determinando, expandindo e diluindo o espaço físico, mental e afetivo de quem acompanhou, no passado sábado, na Fundação Marques da Silva, os seus deslumbramentos e contínuos desdobramentos. Foi uma torrente vertiginosa de imagens onde ecoaram as vozes de artistas, filósofos, poetas, historiadores, antropólogos ou até psicólogos e pediatras. E basta citar alguns destes nomes. Sim, lá estiveram Kant, Goethe, Wittgenstein e Benjamin, mas também Santo Agostinho, Johann Georg von Hamann e Hermann Broch. E porque o corpo, que ocupa e transforma o espaço, foi a casa de partida para um estimulante jogo de reflexão e questionamento, recorreu a Ushio Amagatsu e Herberto Helder, e passou pela rima de Dante, por Italo Calvino ou pelos coros das tragédias de Ésquilo e de Sófocles. Com a consciência desperta para a importância do pé na libertação da mão e do olhar, ou seja, na disponibilidade para a imaginação, defendendo o mistério inerente à aprendizagem da linguagem, evocou a condição de comunidade e as condições temporais onde se desenvolve a nossa vida, individual e humana, fazendo emergir as vozes de Óssip Mandelstam, de Michel de Certeau ou André Leroi-Dourhan e a mais imprevista voz de Julianna Vamos. Ao passar da gravidade para a profundidade, porque o espaço, como diria Bob Dylan, 'contains multitudes', explorou as relações do espaço com a arte e regressou a Eduardo Chillida e a Alberto Giacometti, rememorando Rembrandt e o território das Musas. Filomena Molder falou, em suma, da inevitabilidade da imagem, da impossibilidade de fuga a um jogo que é também a história da nossa vida, o das imagens que nos rodeiam, as que a nossa linguagem cria, as imagens fundantes, isto é, as do teatro da nossa vida, com a casa a ocupar o lugar mais íntimo. Imagens dialéticas e de onde não se pode retirar o presente, já que é no presente que se vive. Por isso, deixou também imagens para o espaço, a do 'labirinto', 'ponte' e de 'poço', casas, afinal, do Jogo da Glória.
Este ciclo, que contou com o apoio da Fundação Marques da Silva e da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, foi uma iniciativa de Gonçalo Furtado e António Oliveira, que asseguraram a moderação das 4 sessões que o constituiram".
(Texto de FIMS/Paula Abrunhosa, in: https://fims.up.pt/index.php?cat=6)
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