writings on architecture, design and cultural studies (incl. cedric price, gordon pask and many other stuff)
6/23/23
Escola do Porto: Notas dispersas _ VIII (por Gonçalo Futado
4 - Escritos fora da pandemia (2023).
4.2 – Sota Fernando Távora e Siza. /
“Continuidade e ruptura na arquitectura de Távora e Siza”,
Gonçalo Furtado, Escola do Porto, 1995-1998, (trabalho académicos). /
Muitos são os que têm divagado sobre uma alegada identidade da arquitectura portuguesa. A arquitectura portuguesa é historicamente, uma sequência de continuidades e rupturas. Incuso no que tange à sua primeira modernidade, interrompida e reiteradamente retomada. Já a internacionalização da arquitectura portuguesa é fenómeno parco. No século XX, só pontualmente se projectara em algumas exposições internacionais e apenas ocorrera divulgação de alguns arquitectos durante o Estado novo após 1933. /
Os princípios da arquitectura do movimento moderno foram em determinado momento postos em causa. Mesmo dentro do próprio CIAM, onde se reivindicou uma reaproximação à realidade, com a criação do Team X e um reorientação dos mestres do movimento moderno racional, que foi igualmente responsável pela ultrapassagem do mesmo. /
Para isso contribuíram diversos fenómenos. A influência do neorealismo italiano (que procurava, de certa forma, determinado contextualismo) e uma nova concepção do espaço (como produto dos contributos de Zevi, Bachellard etc), a perplexidade perante a obra fundamentalmente de Wright e Aalto, mas principalmente a realização do “Inquérito à arquitectura popular” com que se ganha consciência/admiração pela realidade portuguesa. Sendo que é a problemática dual moderno/tradicional, no seio do campo da arquitectura, prolongar-se-á até aos finais dos anos 60. /
A procura de uma terceira via, reflectiu-se nas intervenções, algo híbridas e revolucionárias para então, de Fernando Távora. Em grande medida, a “casa de ofir” sintetizou as incertezas e preocupações de então: funcionalista na clareza das funções, orgânica na relação com o terreno, o betão de Corbusier com a cobertura de Wright, e a forte determinação pela arquitectura popular. As obras seguintes, embora igualmente modestas, continuaram a possuir este significado - a difícil tentativa de síntese de diversos e opostos. Um impasse só resolvido eventualmente pela “escola do cedro” de 1958. Sendo que Távora possuía uma vontade verdadeiramente integradora, que reconhecera a condição diversa da disciplina. /
Também no nosso entendimento, estas obras são o ponto de partida para a investigação exaustiva que realizará o então colaborador de Távora, Álvaro Siza Vieira. Na sua primeira obra - um conjunto de 4 habitações - tal como nas que se seguem, é bastante clara a influência do percurso traçado por Távora. O arquitecto Siza Vieira parte da consciência da especificidade portuguesa conquistada por esse. E assim age, esclarecendo que uma aparente diminuição/deficiência tecnológica pode ser elevada a um desenho rigoroso. /
É assim, que se origina uma arquitectura de linguagem mimética, de grande sobriedade e economia de meios, mas que no essencial torna-se possível, com o seu descomplexamento, definir um novo método projectual para a arquitectura do norte e portugal. Podemos dizer que o caminho de Távora e Siza justificam uma maneira de pensar e fazer arquitectura, um método e uma produção. A produção arquitectónica do porto, frequentemente tida como “marginal” ou “periférica” - ideia em que não concorremos - embora enraizada profundamente na prática da arquitectura moderna, parte do entendimento dos seus recursos e reconhecimento da sua tradição e, por isso mesmo, fundamenta-se numa atitude de contenção, economia, integração e de rupturas em continuidade. /
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