writings on architecture, design and cultural studies (incl. cedric price, gordon pask and many other stuff)
6/23/23
Escola do Porto: Notas dispersas _ VII (por Gonçalo Furtado)
3 - Escritos durante o 2º confinamento (2020). /
3.1. – Breve nota sobre Nuno Portas (2020). /
Notas a propósito de Nuno Portas, bem como da Escola do Porto” (em tempos de Covidis)
Gonçalo Furtado, Escola do Porto, Dezembro 2020. /
i.
Entre as primeiras construções de arquitectura modernas encontra-se o IST de Pardal Monteiro (30/40s), notável centro da engenharia portuguesa, como cresci a ouvir o meu pai dizer. É no mesmo contexto Lisboeta, que operava o LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil - um dos centros cruciais da ciência nacional, ainda que tenha surgido polo no Porto. LNEC e IST estes que refletirão, entre o pós-guerra e os anos 60/70 avanço rumo á integração do novo mundo da computação, e sua história que deambulará entre o que podemos denominar por IA e SOC./
ii.
Já no domínio da crítica de Arquiectura, Nuno Portas emerge como figura crucial; e nos 60s, as problemáticas teórico-críticas nacionais recentraram-se nas metodologias de projecto, respondem às necessidades habitacionais etc. /
Salientar que Portas viria a ser acolhido como investigador "oficial" do LNEC, ainda que fosse uma figura proveniente da arquitectura (área então sem grande reputação em termos de investigação "cientifica"), numa altura em que o próprio detinha já protagonismo como professor bem como crítico de arquitectura e outras áreas em publicações da especialidade. /
Portas integrará ainda o 1º governo provisório, e conceptualizará o SAAL - Sistema ambulatório de apoio local - como programa de habitação social visando resposta à carência no período pós-democrático (No LNEC saliente-se ainda a contribuição do então estagiário arquitecto Alexandre Alves Costa, que viria a assumir na Porto também papel no seio do SAAL). SAAL cuja importância de resto, diga-se em conjunto com a singularidade do portuense Álvaro Siza Vieira, seria motor crucial também para a visibilidade internacional que a arquitectura portuguesa hoje possui internacionalmente'. /
iii.
Já o relevo da investigação de Portas dos anos 60/70, esse centra-se no original cruzamento na cultura arquitetónica (pelo menos) nacional, isto é, de uma linha de pensamento marcada pelo reforço do papel do arquitecto desde a resposta a habitação do pós-guerra, e as preocupações sociais dos anos 60/70 (recordando que Portas contactava com o círculo da nova 'sociologia' nacional de então); com os enfoque na metodologia de projecto (os “design methods” do mundo anglo-saxónico etc) e das promessas da computação. Protagonismo que se ampliou ao longo da vida, numa multiplicidade de enfoques rumo a uma maior conceptualização/desmaterialização/despersonalização - que vão da crítica de arquitectura e promoção de arquitectos singulares desde os 50s; à habitação evolutiva e métodos/metaprojecto dos 60/70s; ao urbanismo e regulamentação entre os anos 70/90s; até à condução do conselho científico da Escola do Porto, onde, até à sua jubilação, não deixou de também revelar a sua inteligência (veja-se a sequência de planos de estudos...). /
iv.
Podemos dizer que hoje a pandemia/confinamento, implicou uma reconfiguração espaço-funcional do doméstico que justifica investigação. O pretexto não será hoje perseguir low-costhousing, mas antes reconfigured housing interiores'. Numa altura em que nos afastámos da carência dos anos 60/70, da especulação pós-moderna das décadas seguintes, urgem agora reflexão sobre a domesticidade contemporânea e novos modos de habitar. Já no que á Escola do Porto se refere, o confinamento, simultaneamente legitima um certo vazio do silêncio, quiçá o reivindicar de algum impulso transformador (após uma antecedente década de ascetismo branco), mas seguramente a necessidade de uma re-credibilização em tempos congelamentos de progressão, obrigatoriedade de avaliações anuais, repartições de poder, acenar de desconhecidos, e um futuro incerto. Acrescendo a 4 pequenos textos escritos durante a Pandemia - sobre Alexandre Alves Costa, Manuel Correia Fernandes, Domingos Tavares e Francisco Barata - cumpria-me agora (com o presente início da "vacinação") o presente apontamento sobre o protagonista Nuno Portas. /
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