1/6/21

Compndo a FAUP

 Gonçalo Furtado, Compondo a FAUP, in: AAVV, MA, N.3, AEFAUP, Porto, p.64-66.


"O termo “composição” integra o léxico de varias disciplinas, da Arte e Arquitectura à Música.

Juan Corral alude ao termo num pequeno “Manual de crítica da Arquitectura”. Sem nos estendermos, podemos sintetizar que para aquele, a “Crítica é uma poética, uma nova criação” (p.207).Propõe uma crítica como poética, i.e. como busca de palavras que estabeleçam com a obra e o autor de arquitectura um diálogo inerente a toda a criação[p.contracapa]. A seu ver, a critica sucede a teoria: “A crítica fala-se fundamentada também pela teoria, de que recebe a sua razão interpretativa, seu critério, diz Morales”.(p.36) Defende “fazer crítica e não teoria(p.39), deixando nós para outra oportunidade a distinção entre dessa dualidade, tanto mais pela proximidade que existe no ensino da FAUP entre as duas.

Mais importante para o que agora nos prende, é o facto de Corral nos recordar a importância da composição em Música, exercício difícil e exigente, consignado ao final dos estudos nessa disciplina, reclamando domínio dos instrumentos e linguagens.

(Faça-se um aparte para referir que no ensino de teoria na FAUP, podemos dizer que TGOE providencia uma familiarização introdutória a elementos/vocabulário da arquitectura. Mas já Teoria 1, entende-se enquanto contacto com as ideias/linguagens de Arquitectura).

Não é aqui o momento propício para nos estendermos relativamente a nossa ideia de pós-modernidade que inclui o neo-moderno.

Certo é que o posterior avanço para além da dualidade e do triádico, defronta-se com dificuldades mais complexas. Em grande sentido, Álvaro Siza ou a ambiguamente apelidada Escola do Porto, veio exemplarmente optar por equilíbrios de composição mais complexos, num deliberado artístico e político forçar das leis da composição formal e da mais fácil apreensão.

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Para mim, é relevante não deixar de atender que o Regionalismo Crítico muitas vezes mal entendido, seja contemporâneo à denominada estratégia conceptual da Desconstrução (i.e. o projecto construir desconstruindo significados). Tornando-se produtivo ensinar-se hoje para lá dos valores tanto antigos como comuns da composição. Deve também “ensinar-se de imediato essa decomposição que constrói desconstruindo”. (p.)

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 Porque o propósito de uma escola que se quer teoricamente forte, não é só para saber onde estamos. Mas para o distinto entendimento de uma arquitectura enquanto proposição permanentemente reflexiva. Um “projecto crítico(Furtado, 2004), onde a Teoria mais que promover esta ou aquela prática, problematiza a sua historicidade, condições e propósitos para a prática lhe contemporânea, e fins sociais.

Não se podendo pois considerar como ingénuo, a ainda crença no benefício de providenciar via “Teoria” ferramentas para a crítica, projectual. Ou dito de outra forma, de se propiciar um conhecimento de linguagens do pensamento arquitectónico  (i.e. Teoria tout court e distinta da História), propiciando a construção de uma “caixa de ferramentas” (definição dada à Teoria por Neil Leach) por parte de cada aprendiz a futuro arquitecto. Por uma criticidade que só pode surgir do conhecimento da Teoria, nascendo dela, sem sobreposição com a necessária História.  Uma crítica que longe da “peste de vocábulos vazios” que contemporaneamente também indigna a personagens como Corral, emane da “teoria que propunha Morales, como fundamentadora do fazer”. (p.20)

E na nossa Escola do Porto, temos pelo menos continuado a tentar saber pensar como fazer."

 

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