6/23/23

Escola do Porto: Nota dispersa _ IV (por Gonçalo Furtado)

2.3 - Sobre Manuel Correria Fernandes (Director da Escola do Porto entre 1994 e 1998)./ “Desenhar a FAUP na transição do século, entre a escola de “tendência” e o apelo das massas: Faz sentido reler a “ESBAP: arquitectura anos 60-70” de Manuel Correia Fernandes?” Gonçalo Furtado, Escola do Porto, 12 de Abril de 2020./ Em anteriores sugestões (de leitura de livros de Sergio Fernandez, Domingos Tavares e Francisco Barata) referi-me à escola do Porto dos anos 40-50 e, um pouco, à de final dos anos 90 e final da década de 2000. Neste texto gostaria de sugerir-vos uma leitura concernente aos anos 60-70, publicado na década de 80, por uma arquitecto que dirigiu a escola em meados da década de 90 - Manuel Correia Fernandes. Sobre os anos 60 a 80 encontro-me ainda a reflectir e escrever-vos, aproveitando a presente “quarentena”. Mas sobre a década de 30 e 80, posso já remeter-vos para um quinto texto que estou a submeter a uma revista da UP chamada PSIAX. / i. A construída escola de “tendência”, baseada no desenho, ver-se-ia na transição de finais dos anos 80 e, sobretudo, a partir dos anos 90, perante o apelo das massas. Em termos de experiência e memória dos meus tempos de estudante, recordo-me das aulas, do bar e da secretaria ainda na casa cor de rosa. Dos incentivos do professor Alfredo Matos Ferreira no Pavilhão Carlos Ramos (1993), de visitar com Jos Bosman a Giudeca de Siza no âmbito do IIAS (1994), das apresentações de projectos do 2º ano na Universidade da Corunha (1994-95), bem como de viagens de estudo a Barcelona (1995) e à Holanda (1996?), das risotas com Skip Arnold em Nova Iorque e de ir buscar as provas da Unidade 5 á gráfica (1996?), de prémio em concurso promovido pela AEFAUP (1997?), da prova final com Manuel Mendes (1998-99), da bolsa “Prodep” (1998-99), do prémio Florêncio de Carvalho (1998-99), da experiência como monitor (1999?), dos jantares semanais com o genial docente de desenho assistido por computador Fernando Lisboa (desde 1999), etc. etc etc. Mas também das colaborações com arquitectos, para quem o desenho era fundamental, - como os Arquitectos da Beira (1995, 1998/99), João Francisco e Associados (1996), Álvaro Leite Siza Vieira (1997), João Luís Carrilho da Graça (1998), bem como o meu ex-professor de desenho em “Francisco Providência Designer Lda” (1997/98) - bem como dos debates com Alberto Carneiro no seu atelier (aquando do “Arquitectura prótese do corpo”, 2000), e dos primeiros textos que devo ter publicado em jornais com vista a defender uma obra moderna dos anos 50 de um arquitecto da escola no Porto (1999-2000?). E, desde então, como tem a escolar do Porto defendido o desenho? / Nos anos 90, o Porto tem o seu PDM desenhado pelo Arqº Duarte Castel-Branco 1927- 2015) [1], o qual foi revisto em 2005, numa sequência que nos é descrita no website da entidade municipal.[2] O PDM de 1993 tem por base um plano anterior[3], contem referência à VCI, assegura articulação com municípios envolventes e define 19 “Unidades” para PMOTs (Planos de Urbanização e de Pormenor), incluindo ainda regulamento. Em termos arquitectónicos, podemos salientar que em 1992 foi atribuído ao expoente, máximo da escola do Porto - Álvaro Siza Vieira - o “Pritzker Prize” da Fundação Hyatt, sobretudo pelo seu desenho de renovação do Chiado (incêndio de 1988). Os prémios continuaram, ao longo de toda a década, em 1993 com “Prémio Nacional de Arquitectura", em 1996 com o “Prémio Secil”; em 1998 com o “Prémio Príncipe de Gales da Universidade de Harvard” e em 1998 com o “Prémio Imperial” do Japão. No Porto, Siza já via finalmente alguns desenhos concretizados, como os do icónico edifício do Museu de arte contemporânea de Serralves. Já em Lisboa, que em 1994 fora “Capital Europeia da Cultura”, vir-se-ia a acolher a “Expo 98”, onde uma vez mais Siza desenha um edifício – o Pavilhão de Portugal – e se inicia todo um processo de regeneração urbana. Mas o Porto prepara-se então para ser “Capital Europeia” em 2001, o que viria a trazer toda uma nova dinâmica, física e cultural, à cidade. No que tange ao associativismo dos arquitectos, a AAP dura até 198, sendo que só em 2008 se obtém o actual estatuto de “Ordem dos Arquitectos”.[4] Os desenhos dos arquitectos surgiam sobretudo, ao longo dos anos 80 e 90, nas publicações “Jornal dos Arquitectos” (1981), revista “Arquitectos” (1988), “Boletim dos arquitectos” (1993), e “Architécti” (1989-2004). Em 1990, destaco ainda a publicação de “Architectures à Porto”, em 1992 a primeira edição de “Páginas Brancas”[5] e, nos 2000s, “um mapa crítico” da Escola do Porto, surge providenciado por Jorge Figueira. / Em termos de ensino na escola do Porto, destaca-se no que concerne à década de 90, o facto de em 1991/92 ter sido incluído estágio profissionalizante no 5º ano, se dedicando o 6º ano para o enfoque urbano, tendo ainda se incluído disciplinas opcionais como o desenho assistido por computador (CAAD). [6] Em 1993, Távora dá a sua última aula magistral [7], cujos desenhos são publicados com explícito título “A lição das constantes”. E tem conclusão o edifício da FAUP (1985-93)[8] que, espacialmente, expressa o propósito pedagógico de uma escola de “atelier” e não de massas. Em 1994, ocorre uma adaptação do plano estudos de licenciatura, que inclui estágio de 6 meses bem como “prova final” [9] e em 1995 ocorreram ainda umas “Jornadas Pedagógicas”. Ao longo deste período constata-se tanto o aumento de cursos privados como de profissionais, reclamando o associativismo a obrigatoriedade de “estágio”.[10] / Entre 1994 e 1998, protagonizou na escola um novo director - Manuel Correia Fernandes (n.1941). Correia Fernandes licenciou-se pela ESBAP em 1966, foi arquitecto militar em Angola (1969-71), teve prática liberal desde cedo, estabeleceu em 1999 "Manuel Correia Fernandes, arquitecto & associados, Lda.", trabalhando desde 2000 em associação com o seu filho (sugerindo-se uma visita ao seu website).[11] Como arquitecto, a sua competência, por exemplo em termos do progama da habitação colectiva etc, é atestada - para além do conjunto habitacional do Aldoar (que inclui 3 corporativas entre 1979-1996) - pelo “Prémio nacional de arquitectura” (AAP, 1987) e por vários prémios por conjuntos habitacionais que incluem o prémio anual do “INH” 2000 (Cooperativa de Habitação de Nova Ramalde onde habito no Porto; a menção honrosa no prémio anual do “INH” de 2003 (conjunto habitacional do Ilhéu - PER), o prémio anual do “INH” de 2004 (conjunto habitacional de Telheiras), o 1º prémio aexecuo “Fernando Belaúnde Terry” ( Bienal ibero-americana de arquitectura no Perú), pelo conjunto habitacional cooperativo de Aldoar). Sugerindo-se ainda um olhar sobre o livro recentemente publicado pelo meu colega Nuno Lacerda Lopes.[12] Segundo o website da UP[13], Correia Fernandes foi ainda dirigente da Associação e da Ordem dos Arquitectos Portugueses, vereador da CMP, e integrou a Sociedade Porto 2001 (até Novembro de 1999) onde foi responsável pelo “Programa de Revitalização e Requalificação Urbana da Baixa do Porto”. Em termos de ensino, saliento que leccionou na escola desde 1972. Em 1980, publicou o livro “ESBAP: arquitectura anos 60-70”, reeditado pela FAUP em 1988[14] e, em determinado momento, colaborou regularmente com o "Jornal de Notícias". Dirigiu o mestrado em “Metodologias de intervenção no património arquitectónico”, e jubilouse em 2009, intitulando a sua última aula de “Viagem” (2010). / ii. O livro cuja leitura aqui sugeriria, em tempos de quarentena, é o predito “ESBAP: arquitectura anos 60-70”. / Interessar-me-ia, no entanto, aqui também não deixar de salientar outros protagonistas da escola do Porto. Primeiro, Sergio Fernandez, que, tendo sido vice-director da escola até 1994, dirigiu o “Centro de Estudos” entre 1990-1997. Segundo, a AEFAUP que, nos anos 90s, editou tanto um número da revista Unidade centrando no debate da escola em torno do desenho, como a Unidade 5 cujo corpo editorial integrei. Terceiro, Domingos Tavares, que viria a protagonizar como director da escola a partir de 1998 e até 2006. Quarto, Francisco Barata que a esse sucederia, enfrentando já a árdua tarefa de assegurar condições pedagógicas a uma escola que se queria manter de tendência num novo contexto de ensino de massas. / Já em 1996, referia-se Barata à FAUP, que tanto amava, nos seguintes termos: “a História da FAUP (…) é a escola de uma Escola de Belas Artes”; que sempre lutou por uma abertura consequente e efectiva à sociedade em que estava integrada. Talvez nos falte acima de tudo encontrar alternativas pedagógicas ao que foi ficando para trás, mais do que ir absorvendo o formulário comum da jovem Faculdade do Porto. Concerteza que o património comum sairá mais enriquecido por esta via de eventuais convergências de contributos” diversificados, do que pela via cerimonial da homogeneização de procedimentos”.[15] / E, após Francisco Barata, como tem a escolar do Porto defendido o desenho? / Referências: [1] O PDM é o instrumento de gestão territorial, e os PMOT são instrumentos regulamentares vinculativos de público e privado. / [2]https://balcaovirtual.cmporto.pt/PT/cidadaos/guiatematico/PlaneamentoOrdenamento/Plano%20Diretor%20Municipal%20(PDM)/PDM%20%E2%80%93%20Em%20vigor/Paginas/default.aspx [3] DL 69/90, de 2 de Março (concernente ao regime jurídico dos PMOTs). / [4] DL 176/98, de 3 de Julho. / [5] Jaime Eusébio (cord.), Páginas brancas, Porto: UP, 1992. / [6] AAVV, Guia. Porto: FAUP, 1992-93, p.104-5. / [7] Fernando Távora, Teoria geral da organização do espaço: Arquitectura e urbanismo. A lição das constantes, Porto: FAUP, 1993. / [8] Álvaro Siza Vieira. O Edifício da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto: Percursos do projeto. Porto: FAUP, 2003. / [9] DR (2ª série) 224, de 27.9.1994. / [10] AAVV, Guia do estudante 1999-2000, Porto: FAUP, 1999. / [11] Vd. Website. / [12] Nuno Lacerda Lopes, Correia Fernandes: Arquitectura e modos de Habitar”, Porto: CIAMH, 2012, p.104. / [13] Universidade Digital (Gestão de Informação), 2010. / [14] Manuel Correia Fernandes ESBAP: arquitectura anos 60-70, Porto: FAUP, 1988. / [15] Francisco Barata Fernandes, Transformações e Permanências na Habitação Portuense: As formas da casa na forma da cidade, Porto: Faupublicações, 1999. / 

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