6/20/23

MARIA FIOMENA MOLDER E O ESPAÇO DA IMAGEM

MARIA FIOMENA MOLDER E O ESPAÇO DA IMAGEM / No concernente a “espaço/imagem”, interessa recordar a abordagem de Maria Filomena Molder no ciclo FIMS – onde foi palestrante convidada de uma quarta conversa ocorrida a 17 de Junho de 2023, intitulada “O Espaço da imagem”./ Como apontamento biográfico, sumariza-se: “ Professora Catedrática de Estética da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Doutorou-se em 1992 com a tese O Pensamento Morfológico de Goethe. Publicou recentemente: O Absoluto que pertence à Terra (Edições do Saguão, Lisboa, 2020) – Prémio de ensaio Jacinto do Prado Coelho 2021). Três Conferências I – Lança o teu Pão sobre as Águas (Edições do Saguão, Lisboa, 2021). Palavras Aladas. Conversas em torno do Desenho com Cristina Robalo (Documenta, Lisboa, 2022).” (https://fims.up.pt/ficheiros/EEP_2023/...f)/ Fig. Maria Filomena Molder./ Interessando atender às palavras dos autores Gil, avançadas em sinopse no âmbito do ciclo do FMIS: "Para falar do espaço da imagem irei concentrar-me no acto imaginativo e na relação entre imagem e espaço até chegar à imagem que a expressão ‘espaço da imagem’ introduz. Ficar-me-ei por um exemplo que servirá de ponto de partida: quando se fala de interior, a imaginação toma conta da ocorrência e começa o seu inquérito no espaço: o que está dentro, guardado numa gaveta, numa caixa, num contentor qualquer, um lugar enterrado, uma coisa escondida, aquilo que é subterrâneo, aquilo em que nos adentramos, por exemplo, a noite, a floresta, as vagas do mar, a nossa dor.” / Fig – Sessão 4 / A abordagem do autor no âmbito do FIMS, surgiu então sumariada como infra: “Há uma forma própria de falar em Filomena Molder, uma cadência encantatória para quem a ouve. Parte de si, da sua própria experiência, da condição de quem observa e pensa, mas enquanto ato coletivo, na medida em que a sua leitura do mundo é polifónica. Nela, cruzam-se e dialogam os seus autores de eleição, aqueles que sempre persegue ou que a perseguem, os que vai descobrindo ou com quem se vai cruzando. E nesta rede de constelações, não como Sibila, mas como Ariadne, demonstrou as inesgotáveis possibilidades de aproximação ao tema que lhe tinha sido proposto para encerramento do ciclo Espaço, Escrita e Pensamento: O espaço da imagem. Encadeando diferentes pontos de vista, Filomena Molder foi desenhando, formando, sugerindo, determinando, expandindo e diluindo o espaço físico, mental e afetivo de quem acompanhou, no passado sábado, na Fundação Marques da Silva, os seus deslumbramentos e contínuos desdobramentos. Foi uma torrente vertiginosa de imagens onde ecoaram as vozes de artistas, filósofos, poetas, historiadores, antropólogos ou até psicólogos e pediatras. E basta citar alguns destes nomes. Sim, lá estiveram Kant, Goethe, Wittgenstein e Benjamin, mas também Santo Agostinho, Johann Georg von Hamann e Hermann Broch. E porque o corpo, que ocupa e transforma o espaço, foi a casa de partida para um estimulante jogo de reflexão e questionamento, recorreu a Ushio Amagatsu e Herberto Helder, e passou pela rima de Dante, por Italo Calvino ou pelos coros das tragédias de Ésquilo e de Sófocles. Com a consciência desperta para a importância do pé na libertação da mão e do olhar, ou seja, na disponibilidade para a imaginação, defendendo o mistério inerente à aprendizagem da linguagem, evocou a condição de comunidade e as condições temporais onde se desenvolve a nossa vida, individual e humana, fazendo emergir as vozes de Óssip Mandelstam, de Michel de Certeau ou André Leroi-Dourhan e a mais imprevista voz de Julianna Vamos. Ao passar da gravidade para a profundidade, porque o espaço, como diria Bob Dylan, "contains multitudes", explorou as relações do espaço com a arte e regressou a Eduardo Chillida e a Alberto Giacometti, rememorando Rembrandt e o território das Musas. Filomena Molder falou, em suma, da inevitabilidade da imagem, da impossibilidade de fuga a um jogo que é também a história da nossa vida, o das imagens que nos rodeiam, as que a nossa linguagem cria, as imagens fundantes, isto é, as do teatro da nossa vida, com a casa a ocupar o lugar mais íntimo. Imagens dialéticas e de onde não se pode retirar o presente, já que é no presente que se vive. Por isso, deixou também imagens para o espaço, a do "labirinto", "ponte" e de "poço", casas, afinal, do Jogo da Glória. Este ciclo, que contou com o apoio da Fundação Marques da Silva e da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, foi uma iniciativa de Gonçalo Furtado e António Oliveira, que asseguraram a moderação das 4 sessões que o constituíram.” / No meu entendimento, interessa salientar-se relativamente a autor e sua abordagem alguns aspectos: i. Biograficamente, como já aludido, provêm da filosofia; e do seu curriculum vitae constam inúmeras comunicações, escritos, eventos, e demais investigações./ ii. Focando o conceito de espaço com o ofício do autor, a relação é algo reconhecida./ iii. E as referências dos autores provêm das áreas em que operam: Em primeiro lugar, a filosofia, iv. Em grande medida , em segundo lugar, as artes visuais./ Faça-se aqui uma pequena pausa para constata-se alguma relação com a sessão anterior deste ciclo num aspecto. Mais concretamente recorde-se como “na segunda parte da sua comunicação, José Gil se centra-se na “Arte”, partilhando com a audiência uma sequência de tópicos. Referia José Gil desde logo logo: “Podemos ver na Arte uma maneira de tornar actual a virtualidade do espaço do corpo”(sic). Numa primeira parte recordando que a pintura abstracta se foi entendendo como desaparecimento da natureza, ( e) em que a figura humana “desapareceu” (encontram-se entre exemplos de Gil - o Suprematismo de Malevitch ou o Abstracionismo de Kandisnky). José Gil alude a que se acaba com o espaço, mas que tal é simultâneo ao aparecimento de um espaço “interior” de sensações. Mais salientando de resto que, “em verdade, tem-se que a realidade reside nas sensações”. (sic) Já num segundo lugar ou tópico, identificou um “voltar para dentro de um corpo próprio”, recordando que a percepção tem como condição primária “não vermos os órgãos”. (sic) Sendo que no fim dos anos 70s, o vanguardismo “explodiu”, e começou a “contemporaneidade”. Já mais recentemente aquando da “arte pós-moderna”, assistiu-se a um reaparecimento da pintura, pintura humana, etc, etc. Tendo Gil concluído com palavras como: “Experiências fazem-se no limite, e não têm espaço do corpo”.(sic) / vii. A professora Maria Filomena Molder [daqui em diante MFM], na sua comunicação oral na FIMS - referente ao ‘Espaço da imagem’ - introduziu-nos a um conjunto de conceitos, referências e entendimentos. Os conceitos incluíram o de espaço e o de imagem, entre outros como, a título meramente exemplificativo, o de corpo. As palavras são também os “múltiplos usos” que elas próprias contêm./ MFM recordou-nos a condição do homem como mamífero, gerado internamente dentro de água. Partilho-nos um livro que leu de Usimo Amagtsu, para falar do diálogo com a gravidade , na dança, remetendo depois para o tipo de dança japonesa “butô”. E recorda-nos ser a terra a “nossa casa”, bem como a existência de gravidade que condiciona termos bem os “pés” assentes na terra. Depois MFM remete-nos a Piaget , ao jogo e aos estados de crescimento das crianças. Ilustra com o momento em que a crianças começa a sentar-se, e questiona como o corpo se comporta em relação à terra. Para depois nos falar do caso dos bailarinos e mesmo astronautas./ No ponto “C” da sua comunicação oral, MFM avança o seu enfoque para o conceito de “imagem”, desde logo aproximado-se de uma das possíveis associações – à imaginação. Refere primeiro Aristóteles, e depois como o moderno prosseguiu uma “especialização da subjectividade”. Indaga depois em torno da ideia de que “as teorias são falsas porque estão sempre a tentar ver como uma totalidade” (sic); questionando se Kant não foi um rei na “construção da subjectividade”, bem como o seu apelo à “capacidade de julgar”. / Entre as demais referências que MFM introduz, incluem-se de pensador francês o livro “La mecanique vivant” (publicado pelo Instituo Piaget), os 2 volumes de “O gesto e a palavra”, e por fim “A pré-história da arte ocidental” aludindo a ambientes espaciais arcaicos cobertos de cor sanguínea ou ocres./ Avança depois para o que denomina por “a imagem do espaço ou o espaço da imaginação”. Esquilo e Sófoles. Mais referindo se num dado momento, a imaginação pareceu ter passado a “actuar sem ajuda da mão, começando a produzir grotescos”. (Perguntara antes MFM se o computador às vezes não se distraia/abstraia da mão”./ Por ultimo, MFM alude como prossegue a percepção de “forças” num Walter Benjamim, e o disforme. Como uma “imaginação à solta” pode por vezes ser o/um “caos”. MFMF ilustra a imaginação como um “leque” a desdobrar-se”. Depois fala-nos de teatros e ruínas, enquanto expressão espaço/expressão de “experiência do homem moderno”. E recua ao teatro grego (oposto a um teatro fechado). Bem como à “caixa negra”, salientando o entendimento do seu esposo Jorge Molder de como “nós só podemos conhecer a luz na escuridão”. MFM recorre ainda novamente à ideia dos bailarinos, e a um teatro clássico em que não havia “actores a virem à plateia dos espectadores” (sic), estando separados como por um painel/”divisória invisível”. E uma vez mais, à percepção da criança e ao que com ela aprendemos./ MFM recorre a Michel Certeau, para remeter a uma diferenciação entre “espaço e lugar”. Com base num seu conhecido psicanalista?, MFM alude que “os pés são um caso sério”; os traumas que decorrerão de um “Prender os movimentos da criança”; e ao próprio pé como medida. MFM depois explica como a figura da “rima” em escrita, foi iniciada no século XIII com Dante; de como este foi introdutor também de comentários antecedendo os pedaços de poemas. E como a “Divina comédia” de Dante incluía entre outros ambientes – o paraíso – em cuja descrição curiosamente o corpo parece flutuar/voar./ No ponto “D” da sua comunicação, MFM volta a levar-nos a Walter Benjamim. Explica-nos como as palavras alemãs são opostas; formações e imagens; e apresenta-nos Kant como “o inventor da língua alemã em filosofia”. Depois, MFM, enquanto especialista em Goethe (vd. o grande volume da publicação do seu doutoramento orientado por Fernando Gil), recorda-nos como aquele, não sendo filósofo, foi um grande pensador. MFM impele-nos a pensar o que é um conceito; espaço de estabilização, de fixação de um entendimento humano. Por ultimo, alerta-nos como, para Benjamim, o passado não são objectos; sendo os historiadores fabricadores a partir de restos./ Neste sentido, MFM explica-nos a etimologia de espaço; de “spatium”, significando extensão livre, uma distância, uma grande dimensão, etc. A ideia de “espaço-tempo”, e a Clepsidra, como ladrão de água-tempo (a primeira sendo uma medida de tempo). Para depois nos fazer fazer referência a uma condição de “tempo em suspensão”. A do “milagre”, ou do tempo que que também em pausa “esperarmos quem nós gostamos”. (Outra das referências nos introduzidas por MFM, incluem Santo Agostinho. Recordando-se a título de curiosidade, que MFM lecionou em tenra idade filosofia do período medievo, e no ano que substitui colega em sabático, concentrou-se com os seus alunos na abordagem da “Divina comédia” correspondente a um período de transição). Já de Wittgestein, salienta-nos MFM como para esse filósofo “era muito importante aquilo que nós sabemos sem sabermos dizer o que é”. Por último, falando-nos MFM do fenómeno da re-nomeação, rememorização, como um trazer algo/Alguém que já não está/estava (não sendo relevante já ter morrido mas também nos ainda ter abandonado)./ Focando de espaço, MFM refere a expressão de “um espaço que contem multidões”, tanto de pessoas como de direções. E como a “profundidade” faz parte da 3ª dimensão; se escavando o espaço , um espaço interior. (Por último, orientando-nos ao drama no dramático, e à tragédia em Aristóteles). / Depois, MFM faz-nos consciencializar da nossa sede de imagens. Prossegue ensinando-nos existirem 2 linhas em filosofia no que tange à relação do espaço com a imagem. Um Moderno como produto, e (depois?) atenções à sensibilidade. Da criação. como refere MFM, o espaço e tempo não existem sem ser expressões da nossa subjectividade. MFM refere “forma” como uma sede. (Sede de algo, por exemplo de justiça ou de tudo. Que pode ser uma coisa boa, ou uma coisa negra que ali inicia operação/actuação). E como Descartes pensou que o espaço era só “um pedacinho de espaço”. Remete-nos antes MFM a correntes como a femenologia, a psicologia/psicanalise etc, enquanto teorias de subjectividade./ MFM avança depois para “o interesse pela linguagem”. Fala-nos das línguas e da tradução; da escrita e da fala. Bem como dos pensadores religiosos e da tradição judaica ou cristã. E por último, da erudição e da estupidez. De, decorar; dizendo Kant pode também ser como uma doença de “capacidade de julgar”. (Ter-se uma regra geral capaz de aplicar a casos). Afirmando MFM como cura a aprendizagem, num sucessivo tentar e errar. / Já na área da estética, Kant divergia , não havendo gostos (?). Tendo-se uma primeira linha de subjectividade, (o par interior/exterior); e uma ideia de ser humano como incompleto vendo-se como passível de mediante determinação, melhoramento (ao termos atenção ao objecto?). / No concernente à “imagem” MFM faz novamente referência a Walter Benjamim (filosofo sobre o qual nos conta curiosidades , como esse ter tido programas de rádio em que falou por exemplo do terramoto português de 1755). Depois prossegue com Goethe (e Schopenhauer), mais concretamente com a sua teoria das cores, numa relação “Interior/exterior”. E por último, conclui MFM em termos de crítica da arte, com a indagação de valores da arte; no mercado da arte./ Cumprindo terminar salientando como o conhecido, imenso e notável trabalho critico de MFM sobre arte contemporânea , constitui parte substancial do seu trabalho como pesadora. E como tanto nos pode ensinar enquanto artistas e arquitectos./ vii. - Mais gostaria de remeter o leitor para a interesse da autora, e seu pensamento. Desde logo pela abordagem questionadora também aos 3 motes lançados a título de interpelação no ciclo da FMIS – sobre analogia entre espaço em filosofia /arquitectura; a introdução do tempo da existência/experiência, e no que tange à interpretação da própria experiência./ Questionamento, que por outro lado, obviamente, implica uma incursão na vasta obra teórico-critica que vem desenvolvendo há décadas. Da sua autoria remete-se para livros que passamos a enumerar: Maria Filomena Molder, O absoluto que pertence à terra 2005/ Maria Filomena Molder, Matérias sensíveis 1999 / Maria Filomena Molder, Semear na neve: estudos sobre Walter Benjamin 1999/ Maria Filomena Molder, O quimico e o alquimista: Benjamin, leitor de Baudelaire 2011 / Maria Filomena Molder, Rebuçados Venezianos 2016 / Maria Filomena Molder, Dia alegre, dia pensante, dias fatais 2017 / Maria Filomena Molder, O pensamento morfológico de Goethe 1995 / Maria Filomena Molder, As Nuvens e o Vaso Sagrado: (Kant e Goethe : leituras) 2014 / Maria Filomena Molder, A imperfeição da Filosofia 2003 / Maria Filomena Molder, Cerimónias 2017 / Maria Filomena Molder, Ana Hatherly: território anagramático 2017 / Maria Filomena Molder, Unterwegs, al paso de Walter Benjamin: Fundación Luis Seoane Philosopher au Portugal aujourd'hui 2010 / Maria Filomena Molder, Murmúrios do tempo 1997 / Maria Filomena Molder, Casa de luz: colección Mário Teixeira da Silva 2004 / Maria Filomena Molder, Mass and empathy: Antony Gormley 2004 / Maria Filomena Molder, Torquato Tasso : drama Encáusticas 2016 / Maria Filomena Molder, Palavras Aladas Documenta Edição:07-2022 / Maria Filomena Molder, Daniel Blaufuks (Ph. 08) INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda Edição:06-2022 / Maria Filomena Molder, Três Conferências Edições do Saguão Edição:12-2021 Documenta Edição:06-2020 Relógio D'Água Edição:11-2017 Edições Vendaval Edição:02-2010 / Maria Filomena Molder, A Filosofia e o Resto Edições Colibri Edição:04-1996 / Jorge Martins INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda Edição:04-1984/

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