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9/15/25
CONVERSAS SOBRE A ESCOLA DO PORTO_37 _ Rodrigo Coelho (com Gonçalo Furtado)
CONVERSA SOBRE ARQUITETURA E ESCOLA DO PORTO _ JULHO 2022
(Rodrigo Coelho, com Gonçalo Furtado)
I.
[Gonçalo Furtado] - Rodrigo, propunha conversarmos sobre a Escola e tuas memórias./
Ingressaste na FAUP em 1989/90, e terminaste a licenciatura em 1995.
[Rodrigo Coelho] - Entrei em 1989/90. Que na verdade foi 1990, porque foi o 1º ano da PGA (Prova Geral de Acesso) e houve um atraso grande no arranque do ano letivo.
[GF[ - Data de 1989, o 1º ano em que houve Prova Geral de Acesso.
[RC[ - Essa circunstância atrasou a entrada neste ano, portanto as aulas só começaram na verdade em janeiro. O ano académico é o de 1989/90, mas as aulas começaram em janeiro, e terminaram muito mais tarde do que é habitual. Em julho, se não mesmo início de agosto./
O Mestrado, iniciei em 1999. E terminei em 2001, em julho.
[GF] - Em 2001, fomos colegas no Mestrado./
Comecei a dar aulas em Projeto do 1º ano, com o Sérgio Fernandez, onde fomos colegas./
E o teu Doutoramento?
[RC] - Data de início... Eu tenho sempre dúvidas, mas eu julgo que oficialmente a minha proposta foi aceite em março de 2006.
[GF] - E fizeste a sua apresentação em janeiro de 2012.
Ensinaste sempre em Projeto.
[RC] - Sim, ensinei sempre projeto.
[GF] - Primeiro no 1º ano.
[RC] - Sim. Portanto, entrei em 1998 como assistente estagiário … embora tenha sido monitor do 5º ano de Projeto em 1996/97.
[GF] - Pois. Eu entrei como monitor em Projecto do 2º ano em 1998/99./
[RC] - E depois, em 1997/98, comecei a dar aulas de Projeto ao 1º ano.
Sendo que o contrato, oficialmente, começa em março de 1998.
[GF] - Então estiveste desde esse ano até 2005/06 no 1º ano./
Depois tiveste licença de Doutoramento até 2009?/
E, em 2009-2010, começaste a dar aulas ao 2º ano.
[RC] - Desde então mantive-me no Projeto 2.
[GF] - Assumiste a regência partilhada em 2019/20?
[RC] - Sim, desde o ano letivo de 2019/2020.
Este ano de 2022 eu não estou a dar aulas.
[GF] - Porque estás de licença sabática./
II.
[GF] - Agradecia então se pudesses partilhar as tuas memórias do curso. Portanto, O curso, resumidamente tem 5 áreas, sendo normal que fales mais de umas do que outras. Podias, em geral, dar uma panorâmica do curso?/
O 1º ano é importante, contactava-se logo com figuras icónicas, e depois com outras. Podes falar das que, para ti, tenham sido importantes.
[RC] - Eu, na verdade, tenho alguma pena de o dizer, mas sinto que tive realmente uma formação algo desequilibrada. Penso que hoje os alunos têm uma formação mais sólida e mais completa.
[GF] - Dizes que os alunos têm hoje uma formação mais completa.
[RC] - Eu tenha essa impressão. Sobretudo porque sinto que houve algumas lacunas na minha formação, por não ter sido aluno de várias personagens importantes./
Eu não estive cá no 4º ano, estive a fazer Erasmus nesse ano, de 1992/93 no Politécnico de Milão. Portanto, não fui, aluno do Alexandre Alves Costa, não fui aluno do Domingos Tavares, nem do Manuel Mendes./
O que fez com que a minha formação, talvez, do ponto de vista da Teoria e da História, tenha ficado um pouco desequilibrada.
[GF] - Bem, em Milão deves ter tido, não?
[RC] - Tive. Quer dizer tive e não tive./
Na verdade, tive um professor de Teoria, do qual já não me lembro do nome - não sei se era o Casteloni – que não deixou propriamente grandes recordações./
Eu lembro-me que queria ter tido o Fulvio Irace como professor de teoria, mas eram muitos alunos a quererem o mesmo. As inscrições eram difíceis, portanto foi por isso que eu também não o tive como professor. Ao contrário do que realmente queria e esperava que pudesse acontecer.
[GF] - Mas, no 1º ano tiveste como professor Fernando Távora, por exemplo.
[RC] - Era isso que ia dizer atrás. Tirando essas personagens (Alves Costa, Domingos Tavares) que, de facto, não tive a sorte de ter como professores, o Távora tive de facto a sorte de poder ter como professor./
Para além de TGOE com o Fernando Távora, o Projeto I foi marcante.
[GF] - Quem tiveste em Projeto do 1º ano?
[RC] - Tive o Henrique Carvalho. Que foi realmente um professor importante na minha formação./
Depois, no 2º ano, tive a Teresa Fonseca./
No 3º ano, tive o Zé Gigante e o Rui Ramos.
[GF] - Eu no 1º ano tive o Alfredo Matos Ferreira e, no 3º ano, tive também o Rui Ramos.
[RC] - Era um ano estranho, porque estavam 2 professores para cada turma.
[GF] - Estavam 2 professores em cada turma, julgo que eram turmas maiores.
[RC[ - E o Gigante realmente foi um professor importante naquilo que foi a minha iniciação aos temas da Construção. Tive essa sorte de ter um professor de Projeto que também ensinava Construção; tal como no 3º ano de Projecto, o Zé Gigante também dava a cadeira de Construção. Eu acho que era isso. Ele dava Projeto à nossa turma e depois tínhamos Construção com ele, em ano.
[GF] - Ainda com… o benefício de uma continuidade entre Projeto e Construção.
[RC] - Tenho uma memória mais ou menos difusa das aulas de História./
Julgo que era o José Salgado que nos dava no 2º ano. Que era mais ou menos a História da Arquitetura Antiga, dada atualmente pelo Rui Tavares, que esteve muitos anos nas mãos do Domingos Tavares.
[GF] - Eu tive História de Arquitetura Antiga e Medieval no 1º ano, com o José Salgado.
[RC] - E lembro-me também do Manuel Teles, no 2º ano em Construção.
[GF] - Pois, eu tive o Manuel Teles a Construção no 2º ano.
[RC] - Mas o que tive depois, quer em Teoria, quer em História, foi, creio, pouco significativo na minha formação.
[GF] - E tiveste o Nuno Portas.
[RC] - Tive o Nuno Portas, é verdade. Mas eram temas – os urbanos – que, na altura, não atraíam tantos os estudantes.
[GF] - Era a disciplina de urbanismo ou urbanística. Era teórica.
[RC] - Era, era uma cadeira bastante teórica. Acho que eu na altura não teria talvez a maturidade para perceber a importância daqueles temas./
Formalmente víamos aquilo como uma cadeira teórica, se calhar sem a importância que hoje lhe atribuo. Portanto, não associo a uma disciplina tão importante na minha formação. Por ter sido vista com essa perspetiva.
[GF] - Nessa altura, não é?
Tu fizeste mestrado, em Cultura Urbana, do Ignasi Solà-Morales, em Barcelona. Também foste orientado pelo Xavier Costa./
O Luís Silva que esteve no 1º ano connosco, também fez o mestrado de Planeamento Urbano, aqui na FAUP.
[RC] - Mas depois no 5º ano, obviamente que voltei aos temas do Nuno Portas./
Fiz cá o 5º ano. Portanto, ao contrário de muitos colegas - o que atualmente ainda acontece - que vão para fora no último. Muitos dos meus colegas foram para Erasmus no 5º ano, e eu fiz cá.
[GF] - Podias escolher ir no 4º ano? Era mais frequente ir-se no 5º ano.
[RC] - O normal era ir no 5º. Eu fui no 4º ano, fugindo ao que seria normal naquele tempo.
[GF] - Eu também tive o Nuno Portas no 5º ano./
Acho que havia outro programa…, aquele de mobilidade. Se me lembro no 4º ano deves ter usufruído…/
Os estudantes iam quase todos no mesmo ano de Erasmus. E iam quase metade dos estudantes./
Se calhar havia uns que iam nesse ou noutro programa./
Seria por candidatura?
[RC] - Não era isso. Algumas pessoas que eu conheço fizeram o que na altura se chamava uma mobilidade Erasmus com estatuto de “free mover”. Eu fui num programa Erasmus normal, digamos assim.
[GF] - Havia no 4º e no 5º ano. A Faculdade tinha em 2 anos…
[RC] - Eu acho que sim. Acho que se podia ir na altura no 4º ou no 5º ano, não creio que fosse possível ir noutros anos./
Portanto, o 4º ano fiz fora, embora tenha tido uma experiência muito boa em Projeto no Politécnico de Milão, com um professor de projeto bastante bom, e que me marcou muito, que era o Remo Dorigati
[GF] - E, no 5º ano, tiveste a Projeto o Francisco Barata?
[RC] - O 5º ano foi muito importante. Fui aluno do Francisco Barata, que tinha realmente uma perspetiva muito morfológica do planeamento.
[GF] - Em Projeto do 5º ano, na altura, estava o Francisco Barata, o Carlos Guimarães, e o Rui Mealha. E o Manuel Fernandes Sá como regente.
[RC] - Não tenho agora a certeza, mas acho que eram só esses 3. E foi realmente importante./
O regente era o Manuel Fernandes de Sá.
E o Francisco tinha uma perspetiva muito morfológica, que não era do planeamento puro e duro./
Também introduzia e discutia escalas mais arquitetónicas.
[GF] - O Francisco Barata tinha aquela experiência ligada ao Manuel Fernandes de Sá. E tinha aquela bagagem que tinha trazido de Itália, em termos de abordagem morfológica, consciente da importância da forma da cidade e do espaço público, etc.
[RC] - Sim, e foi uma experiência que teve importância até naquilo que eu depois vim a fazer mais tarde, em termos de Doutoramento.
[GF] - Ele foi teu orientador de Doutoramento.
[RC] - Precisamente. O Francisco trouxe-me uma visão interessante daquilo que são as questões que se tratam no 5º ano.
E que me voltou realmente fazer regressar aos temas que o Portas tinha falado no 3º ano. Houve aqui um fechar de ciclo, e houve ao mesmo tempo alguma capacidade de perceber aquilo que tinha sido a aprendizagem nos anos anteriores, nomeadamente com o Nuno Portas./
Portanto, foi um percurso não muito forte na parte da Teoria e da História, mas que foi de algum modo compensado pela sorte que tive com a maioria dos professores de Projeto.
[GF] - E tiveste essas duas relações, em termos de contacto com mentores… O Portas e o Fernandes de Sá, e depois com o Francisco Barata. Com o Fernando Távora também já se tinha uma aprendizagem da relação da arquitetura com a cidade…
[RC] - Sim, isso foi importante.
[GF] - O teu Mestrado também já foi em cultura urbana, embora fosse completamente teórico. Depois, o teu Doutoramento, focou o tema do espaço público. Penso que ganhaste um prémio.
[RC] - Sim, foi com a tese de Doutoramento.
[GF] - Foi um prémio da Bienal de Arquitetura Ibero-americana de 2012.
[RC] - Sim, foi na 8ª edição da BIAU (Bienal de Arquitetura Ibero-americana)./
E portanto, em resumo, foram estes, mais ou menos, os pilares da minha formação./
III.
[GF] - Percorremos vários períodos./
Recordo-me que fizeste também parte de órgãos, ou direções./
Quando te formaste, a direção seria a de Alexandre Alves Costa?
[RC] - Eu acho que, como estudante, apanhei, o Távora como o diretor. Na altura, pelo menos uma parte, foi ele. Depois creio que foi o Alexandre Alves Costa.
[GF] - Já referiste que não tiveste o Alexandre Alves Costa como professor, uma personagem que foi marcante para muitas gerações./
Mas reténs algumas memórias dele? Sei que, pela proximidade que criaste depois com o professor Francisco Barata, sobre esse terás muito a dizer./
De que outras personagens da Escola te lembras?
[RC] - Sim, como disse não tive o Alexandre Alves Costa como professor o que, como disse, foi uma lacuna, mas acabei por beneficiar de um certo contacto indireto através do Sérgio Fernandez, sobretudo quando o Sérgio foi regente da disciplina de Projeto.
[GF] - Na altura era denominado Iniciação ao projeto, e atualmente denomina-se “Projeto 1”.
[RC] - Portanto foi muito por via do Sérgio que comecei a tomar conhecimento da importância da figura do Alexandre Alves Costa.
[GF] - As visitas ou viagens de estudo com o Sérgio Fernandez ... Posteriormente continuaram-se a fazer, com os assistentes dele e alunos do 1º ano, quando integrei essa equipe docente até 2004… Em determinado momento a Luísa Brandão ingressa também na equipe e, depois, a Ana Alves Costa.
[RC] - Pois, isso foi outro aspeto que senti seria importante, e que se prende com as viagens, que na altura em fui aluno não eram muito comuns. Não tivemos essa sorte, que agora os alunos têm, de fazer as visitas a Évora.
[GF] - A da viagem a Évora usufrui no meu 1º ano de estudante.
[RC] - Aquelas visitas a Évora são icónicas. Também por causa de termos começado as aulas em Janeiro, no meu primeiro ano, não fizemos a viagem a Évora. Mas tive realmente alguma pena…
[GF] - A tua maior proximidade ao Alexandre Alves Costa foi via Sérgio Fernandez? Actuou como meu orientador no início do doutoramento, em 2004.
[RC] - Sim, foi via Sérgio Fernandez./
Mas, quando estava no 5º ano, estava mais atento ao que se dizia sobre as aulas de história, da importância da História.
[GF] - História da Arquitetura Portuguesa.
[RC] - Exatamente.
[GF] - Aquela coisa de estar no espaço da escola de Belas artes, nos primeiros 2 anos, também introduzia aqui um corte ou distanciamento.
[RC] - Eu acho que nos punha um pouco mais afastados.
[GF] - Podes me falar desse ambiente?
[RC] - Sim. O ambiente era, enfim, um bocadinho diferente do que estava habituado, para mim que vinha de um liceu normal ...
[GF] - O teu grupo era o dos estudantes de arquitetura… diferenciavam-se ou tinham uma autonomia em relação aos outros?
[RC] - Eu não sei, se calhar a minha memória está um pouco já distorcida pelo tempo que passou. Mas eu nunca tive, não sinto que tenha tido grande contato na altura com os meus colegas, mesmo do 2º ano. Portanto, que atualmente são nossos colegas aqui na Escola. Nem me lembro, ou lembro-me muito pouco./
Lembro-me, por exemplo, do João Paulo Loureiro, do Álvaro Leite Siza (filho do Álvaro Siza).
[GF] - O João Paulo Loureiro, filho do arquitecto Carlos Loureiro? Colaborei com Álvaro Leite Siza no 4º ou 5º ano… ou melhor, fiz algumas maquetas.
[RC] - Mas por exemplo não me lembro do Nuno Brandão.
[GF] - O Nuno Brandão andava no ano à frente do teu.
[RC] - Do ano do José Miguel Rodrigues e do Luís Viegas.
[GF] - O Luís Viegas também estava em Viseu.
[RC] - Portanto, mesmo nas Belas Artes havia aqui uma certa segmentação entre 1º e 2º ano, digamos.
[GF] - Uma dispersão dos anos?
[RC] - Que nessa altura prejudicava muito o ambiente de Escola./
Portanto, na verdade isso também acaba por se passar com os professores. Eu tinha um contato muito próximo com os professores, obviamente, do Projeto daqueles anos, 1º e 2º ano, porque tinha aulas no mesmo piso…
[GF] - Penso que o 2º ano nas Belas artes, decorria no piso de baixo./
E que o 1º ano era no piso de cima.
[RC] - Portanto, realmente para além daqueles encontros que tinham lugar ali no Jardim das Belas artes e na cantina, eu acho que não tinha grande contacto com os estudantes dos anos acima ou abaixo (quando estava no 2º ano).
[GF] - Esse ambiente nas Belas artes…, às vezes quando as pessoas se recordam… referem-no como algo que se perdeu.
[RC] - Era interessante. De repente uma pessoa sentava-se ali na cantina para almoçar, e sentava-se ao nosso lado um estudante de Belas-artes, de Pintura ou Escultura. Era interessante ter contato com essas pessoas, e viver assim um ambiente um pouco mais diversificado, desse ponto de vista./
Obviamente com vantagens, como seja uma certa contaminação que acabava por existir.
[GF] - Vantagens de uma certa diversidade e contaminação.
[RC] - Sim, mas com a desvantagem de estarmos longe dos anos mais avançados. E de estarmos longe dos restantes professores na Escola./
Depois, houve esse corte que tive no 4º ano, e depois viemos para aqui, para o novo edifício da FAUP.
[GF] - Para o Pavilhão Carlos Ramos?
[RC] - Sim.
[GF] - O 4º ano estava decorria no piso de baixo.
[RC] - Mas eu também acho que nós andámos um pouco “encarneirados”. Vínhamos das Belas-artes como uma espécie de “bolha”, e depois chegamos cá, no 3º ano e essa “bolha” manteve-se. Embora já estivessem cá os alunos do 4º, com quem tínhamos estado nas Belas Artes dois anos antes.
[GF] - Andavam com o vosso grupinho. Depois iam para Erasmus. No teu caso foste logo no 4º ano, e depois regressas no 5º ano.
[RC] - Onde já não está muita gente.
[GF] - Portanto, digamos que as relações ao longo do curso foram algo efémeras. Não constituíram relações basilares para ti.
[RC] - Não, eu acho que não.
[GF] - Ressaltas a disciplina do Nuno Portas e, no 3º ano, o Francisco Barata./
Ressalvas ter tido para ti menor influência o ambiente das Belas artes. Que outras coisas constituíram para ti, matérias de interesse/estudo? Para lá dos colegas, e do ambiente.
[RC] - Também não posso dizer que fosse um estudante muito envolvido na vida da escola. Seja na associação de estudantes, seja com assuntos ligados à Associação de Estudantes. Embora tivesse colegas que estivessem envolvidos.
[GF] - Nessa altura, era o Luís Calau?
[RC] - Era o Calau. Tínhamos uma relação bastante boa com o Calau. E julgo que o Nuno Valentim também estava na AEFAUP.
[GF] - O Nuno Valentim chegou a estar na associação.
[RC] - O Valentim vinha comigo desde o liceu, portanto, já tinha sido meu colega.
Nunca fui muito atraído por essa vida associativa da Escola. Portanto, tudo isso... enfim, também tive um percalço na altura.
[GF] - De saúde.
[RC] - Foi uma operação que tive de fazer ao joelho. Tive muito tempo em fisioterapia, portanto houve aqui também fatores externos que me obrigaram a estar um pouco fora da escola. Isso foi no 2º e no 3º, em que tive de fazer duas operações ao joelho, o que obrigava a uma certa …
[GF] - Repartição do tempo com outras coisas.
[RC] - Exatamente. Não estava totalmente disponível. Lembro-me de ter bastante fisioterapia no 3º ano.
[GF] - Do que propriamente a vida na Escola.
[RC] - Daquilo que era a vida da Escola, exatamente. Agora, voltando às direções em relação às direções, eu acho que na altura ... passava-nos um pouco ao lado quem era, por exemplo, o diretor ou o presidente do Conselho Científico. Na altura, penso que era tudo um pouco mais informal e havia quem não estivesse tão atento, como era o meu caso, tão ligado./
IV.
[GF] - E o Alberto Carneiro, se calhar foi importante na tua formação?
[RC] - Desculpa voltar atrás./
O Desenho tal como o Projeto, foi muito importante na minha formação. Os dois primeiros anos eram únicos, não é?
[GF] - Mas, tu hoje, quando projetas, estes campos são-te importantes?/
O que achas relativamente a isso? Por exemplo, no que concerne ao Desenho… É comum, dizer-se possuir muita importância na formação.
[RC] - Sim, sem dúvida. Na área do desenho o Joaquim Vieira foi para mim uma referência fundamental. Tudo que aprendi no que se refere ao desenho devo-o ao Joaquim Vieira, e de forma mais indireta (e num plano mais conceptual) ao Alberto Carneiro
[GF] - E, na tua opinião, a formação em Teoria e História também é importante?
[RC] - É importante, claro! E quando eu digo que tive uma falha no curso, é porque eu reconheço a sua importância. Porque, naturalmente, tive consciência das lacunas que tive a esse nível. Como também ao nível, por exemplo dos Sistemas Estruturais que também não tive, porque era no 4º ano.
[GF] - Sentiste falta depois?
[RC] - Aquilo que eu senti foi que tinha uma debilidade. Ao ponto de, e isso é curioso, a minha entrada na Faculdade de dever ao reconhecimento dessa debilidade./
Eu tive construção praticamente, e apenas no 3º ano, com o Gigante. E a consciência que tive dessa lacuna, foi o que me levou a concorrer a um concurso para monitor de Construção.
[GF] - Concorreste para monitor de Construção. Entraste, e acabaste por ir para monitor de 5º ano com o Carlos Guimarães.
[RC] - Na altura concorri para ser monitor do José Gigante. Foi isso que me trouxe à Faculdade, porque eu concorri e entrei nesse concurso./
Depois acabei por não ir para Construção. Porque houve depois uma alteração, e o Gigante deixou de ser o responsável de construção 2 ... Não sei até se deixou de ser professor na Escola, mas na verdade houve depois uma alteração de planos e acabei por entrar como monitor do 5º ano de Projeto. Fui monitor do Carlos Guimarães e foi aí, que, na verdade, pouso o pé na Faculdade.
[GF] - No teu 1º ano como monitor estiveste então a lecionar no 5º ano.
[RC] - Depois entusiasmei-me, e concorri no ano seguinte para um concurso de assistente estagiário na área de Projeto./
E fui para a área de Projeto, foi aí que entrei para o 1º ano como assistente estagiário do Sérgio Fernandez.
[GF] - Foste assistente do Sérgio Fernandez, lecionando uma das turmas.
[RC] - Sim, quando entrei para o 1º ano.
[GF] - Ah.
[RC] - Mas pronto, voltando atrás e resumindo: quando refiro a importância que tiveram para mim as disciplinas do Projeto e do Desenho, não é por as outras não terem a mesma importância - que têm – por isso lamento, de facto, não ter tido essa formação tão abrangente, que eu acho que era importante ter tido e não tive, pelas circunstâncias que descrevi atrás - porque havia professores que estavam fora, por exemplo./
Pese embora, mesmo assim, tive alguns professores importantes. O Távora realmente foi fundamental. São inesquecíveis aquelas aulas à sexta-feira de manhã - que era um horário mau para estudantes caloiros que gostavam de sair à noite ... - com o auditório cheio. Ficou para sempre marcado na minha memória o Távora a falar de assuntos interessantíssimos enquanto fazia aqueles desenhos magníficos, que todos conhecemos.
[GF] - No Fernando Távora… O desenho era uma ferramenta de ensino, em aulas extraordinárias de Introdução à Arquitetura.
[RC] - Mas com uma dimensão muito interessante... que juntava história, história da cidade e arquitetura
[GF] - Arquitetura. Entendendo Arquitetura de uma forma holística… em que contava histórias de maneira sedutora e que posicionava os alunos perante o panorama e amplitude da arquitetura e da organização do espaço.
[RC] - Foram realmente aulas fundamentais.
Tive no 1º ano. Foi um “bingo”! Aí sim, tive um ano. Embora um ano curto, foi muito intenso./
Tive, apesar de tudo, sorte de ter sido aluno do Távora. Porque passado poucos anos ele reformou-se. Tu ainda foste aluno dele?
[GF] - Em 1993 deu a última aula.
[GF] - Mas falavas no Desenho. Portanto, lembras-te…
[RC] - Foi o Joaquim Vieira no 1º ano de Desenho. Foi para mim fundamental - como atrás referi.
[GF] - Em termos instrumentais, adquiriste o desenho como ferramenta.
[RC] - Sim, e aí foi fundamental o Joaquim Vieira./
No 2º ano tinha o Alberto Carneiro (como regente). As aulas teóricas do Carneiro realmente eram míticas. Tinha aquela capacidade de seduzir os alunos, tinha, de facto, uma enorme presença nas aulas.
[GF] - O Alberto Carneiro e sua presença, era marcante...
[RC] - A maneira como falava era muito teatral. Naquelas aulas, os silêncios, a entoação, a maneira como ele comunicava eram chave ... era uma espécie de teatro e, portanto, havia ali um exagero e uma forma muito particular de expor as questões. O Alberto Carneiro foi realmente um professor bastante marcante.
[GF] - Dizes uma performance… uma experienciação do conteúdo oral, com entoação, pausas e silêncio.
[RC] - Também era uma performance, obviamente. Para além do conteúdo que era extremamente interessante. Porque, por um lado, abordava as questões de um ponto de vista, se quiseres mais filosófico, mas também quase antropológico./ Para além das questões técnicas, que também vinham associadas.
[GF] - Mas a interpretar os desenhos?
[RC] - Eu acho que não era só a interpretar desenhos.
[GF] - Ele aproveitava para falar de desenho e de outras coisas. Dizes filosofia e antropologia e…
[RC] - Aproveitava para falar de arte.
[GF] - O desenho era um pouco… um pretexto para falar da importância da expressão artística através do desenho./ Aludia frequentemente a coisas, como as questões sensoriais…
[RC] - Tudo aquilo era muito carnal. Isso era obviamente muito aliciante./
Essa capacidade de cruzar esses vários aspetos. Para além da presença dele (Alberto Carneiro), que quando ia para as aulas, ia passeando pelas salas, pelas várias turmas... Ele chegava e ficávamos em sentido, e qualquer comentário que ele fizesse, bebíamos aquilo de uma forma absoluta…
[GF] - Mas tinha impacto também no ensino de projeto não era? Porque o Desenho estava muito presente no Projeto.
[RC] - O Projeto de facto tinha uma presença muito forte. E o Desenho realmente estava quase em “pé de igualdade” com Projeto.
[GF] - Eu sei que é… O Desenho, eu acho que era...
[RC] - Julgo que era às terças-feiras de tarde. Mas lembro-me, tenho muito claro a memória de estar com Paulo Frade.
[GF] - O professor Paulo Frade.
[RC] - E o Carneiro e o professor do projeto, e portanto, as coisas a serem tratadas, tendo como pano de fundo o Projeto. E lembro-me realmente de o Carneiro opinar.
[GF] - Na experiência que tiveste com o Alberto Carneiro, aquilo… Eram conversas também sobre projeto, desenho de projecto, ou em cima do Projeto?
[RC] - Sobre Projeto. E lembro-me inclusivamente de o Carneiro fazer, no fundo, comentários também ao próprio Projeto. De uma forma assim, não diria desafiadora, mas a saber que se estava a intrometer nas questões do Projeto, decisões de Projeto. Mas com um grande à vontade.
[GF] - Um grande à vontade, mesmo na presença do outro professor.
[RC] - Exatamente. Tinha uma autoridade que o levava a fazer isso…
[GF] - E vice-versa. Se calhar./
Os professores de Projeto também absorviam?
[RC] - Não sei, eu acho que o Carneiro tinha um estatuto que os assistentes de Projeto - que na altura penso que eram bastante novos - não tinham... O Carneiro tinha um ascendente que eu penso que também de certo modo limitava a reação dos professores de Projeto. Ele realmente estava no auge ... E os alunos percebiam isso, essa importância e estatuto da figura do Carneiro.
[GF] - Era regente de Projeto 2 o Manuel Correia Fernandes.
[RC] - O Manuel Correia Fernandes foi meu professor, era o regente do 2º ano na altura, sim./
Não me lembro do Manuel Correia Fernandes, como regente, dar muitas aulas teóricas. Ou então era eu que anda a faltar às aulas teóricas de projecto ...
[GF] - E estava na direção também.
[RC] - Não tenho a certeza, se isto coincidiu com a direção do Correia Fernandes…/
Eu por acaso lembro-me do Correia Fernandes como diretor. Aliás, se não estou em erro, até foi quando entrei para assistente estagiário no tal concurso. Em que depois fui parar ao 1º ano, e tive uma série de meses sem ser remunerado. Entrei em setembro e depois só em março ou abril, é que comecei a ser remunerado. E lembro-me na altura de expor a preocupação ao Correia Fernandes, que era o diretor./
O qual até foi bastante solicito, e depois até julgo que resolveu o problema, inclusivamente pagando pelo menos uma parte de retroativos./
[GF] - Nesse período trabalhavas com o Carlos Prata.
[RC] - Sim, trabalhava para o Carlos Prata na altura. Portanto, vinha aqui e dava umas aulas. Não havia, obviamente, como depois começou a haver, esta profissionalização do ensino./
[GF] - O Carlos Prata voltou talvez em 2000?
[RC] - Foi passado pouco tempo. Acho que o Carlos Prata regressou em 2000, se não estou em erro. Eu penso que só passei a ter uma maior relação com a vida da Escola, ao nível daquilo que se passava nos vários órgãos de gestão, quando passei a dedicar-me em exclusivo à Faculdade./
Portanto, isso aconteceu com o Doutoramento, quando tive licença./
[GF] - Então foi já no período coincidente com a direção do Domingos Tavares, 2000-2007.
[RC] - Foi a seguir ao Correia Fernandes
[GF] - Portanto, antes do Francisco Barata.
[RC] - Pronto, foi isso./
IV.
[RC] - Antes estive pouco ligado aos órgãos de gestão da escola. Fui chamado para fazer uma ou outra tarefa pelo Domingos, e aí comecei a ter uma maior - se se pode dizer – consciência daquilo que se passava ao nível dos vários órgãos. Mas sim, só a partir de 2000./
E, sobretudo, a partir da altura do Francisco Barata... embora não tivesse qualquer tipo de função, comecei a perceber, por aquilo que ia conversado com ele./
Na altura em que ele era meu orientador, ele contava coisas também da própria direção. As questões que se colocavam, as preocupações dele, etc.
[GF] - Quais eram no geral… O que recordas?/
É uma pessoa por quem se tem apreço. Tinha uma visão muito cultural da arquitetura.
[RC] - Eu acho que ele tinha um sentido de grande rigor.
[GF] - Possuía um enorme respeito pela Escola. Quase missionária em prole da instituição.
[RC] - Sim. Sobretudo o rigor que ele tentava ter. E remar um pouco contra um certo seguidismo, ou aquilo que era dado como adquirido, sem o devido questionamento.
[GF] - Sobretudo do ensino, depois da adesão a Bolonha.
[RC] - Em que ele sentia que a coisa estava, de certa forma, a descambar, e tentou recentrar um pouco a centralidade e valor da disciplina...
[GF] - A importância da área da arquitetura, enquanto dotada de uma certa autonomia disciplinar.
[RC] - Ele refletia muito nesta questão, uma certa fragmentação dos saberes.
[GF] - E de uma certa perda de cultura arquitetónica.
[RC] - Ele tinha uma preocupação grande, que era tentar realmente reafirmar essa autonomia disciplinar, a importância da arquitetura como centro do ensino. Um pouco contra esta ideia de especialização.
[GF] - Dizes a importância da arquitetura como centro do ensino./
Recordas esta especialização?
[RC] - Desta ideia de ver o projeto como (mais) uma tarefa, que correspondia a uma certa infantilização, diria do ensino. E acho que ele tentava realmente lutar contra isso também. Tentava lutar, penso eu, até junto da própria reitoria.
[GF] - Reforçar a dignidade da arquitetura junto da Reitoria.
[RC] – Sim, contra essa ideia de um ensino baseado em rotinas e de numa certa especialização, e num excesso de profissionalização do ensino, da forma como a Faculdade parecia estar condenada a cair ...
[GF] - A forma como a formação em arquitetura da Faculdade desce dos 6 para os 5 anos.
[RC] - Sim, por exemplo.
[GF] - E da ideia de Bolonha, como sequência de semestres. E de muitas cadeiras...
[RC] - Também, talvez, eu não tenho agora presente...
[GF] - Portanto, era um respeito da arquitetura. Junto da reitoria.../
Mas também internamente, no que se refere ao Plano de estudos…/
Ambicionava um certo rigor…, em que as coisas não decorrem de forma aleatória. As coisas terem procedimentos mais em termos da docência, e até ao nível da organização das secretarias e serviços, etc.
[RC] - Sobre isso talvez não tenha uma ideia tão clara do que ele pensava./
Embora sim, acho que ele tentou realmente imprimir um certo rigor e sentido crítico.
[GF] - E trazer um pouco valores, penso eu, que ele achava que a Faculdade podia conter e que o ensino estaria progressivamente a perder.
[RC] - Ele tinha - não diria nostalgia - mas uma certa noção dos valores que se estavam a perder daquilo que era a Escola dos anos 80 e 90.
[GF] - Dizes uma nostalgia da Escola dos anos70/ 80?
[RC] - De alguns princípios que talvez estivessem a perder./
Mas penso que a maior luta dele, realmente era essa tentativa de não deixar que a arquitetura fosse, de facto, engolida na voragem de uma certa burocratização que Bolonha impunha.
[GF] - Dizes “não deixar que a arquitetura fosse engolida nesta voragem de Bolonha”.
[RC] - Essas coisas que falaste, da semestralização. Uma certa dispersão do saber, e de uma certa autonomização da forma como algumas coisas se faziam. Eu acho que o Francisco tentou lutar contra isso, e foi bastante desgastante para ele./
E eu também fui, de certa forma, vítima disso, enquanto orientando dele (risos)./
Realmente foi uma fase muito complicada, que foi precisamente a adaptação do curso a Bolonha.
[GF] - Foi até ao limite, em termos de pensar/processar a adaptação a Bolonha…/
A adaptação do curso praticamente fez-se no período da sua direcção…, deparando-se com tudo aquilo que surgia de novo.
[RC] - Penso que foi isso.
[GF] - Nessa altura a Faculdade cresce, passando para um ensino mais de massas, digamos assim, não?/
Bolonha já é uma outra fase. Talvez o número se mantenha…
[RC] - Não sei ... Penso que o número de estudantes se terá mantido./
Mas sim, acho que houve esta alteração que todos conhecemos no ensino.
[GF] - A alteração na organização do curso, compreendendo uma compactação.
[RC] - E tudo aquilo que foi consequência disso.
[GF] - Falámos em compactação. Outra coisa interessante, agora mais recentemente, é termos mais estrangeiros./
Não sei a percentagem… na universidade deve ser 20%./
É um bocadinho diferente. Antes tinha-se apenas os Erasmus.
[RC] - Sim é verdade o número de estudantes estrangeiros cresceu de forma significativa, entretanto. Mas não tenho números...
[GF] - Quando estivemos em Barcelona, há 20 anos, já eram dois estudantes de cada nacionalidade. Aqui já começamos a ter cada vez mais uma comunidade multicultural, não é?
[RC] - Sim, para mim desde sempre que há muitos estrangeiros. Desde que me lembro de dar aulas.
[GF] - Temos muitos estudantes estrangeiros, sobretudo nos últimos anos.
[RC] - Portanto, não sei se passou a haver mais, se essa coincidência se deve a Bolonha, talvez. Não tenho esses números, mas não associo propriamente essa mudança/adaptação de Bolonha, a um incremento tão grande.
[GF] - Mais transformações que notes, desde digamos a última década e meia…
[RC] - Como eu disse, de certo modo, a minha maior preocupação e participação na vida da Escola coincidiu, mais ou menos, com a mudança de Bolonha. Coincide exatamente com essa altura, em que eu estou mais presente e começo a estar diariamente aqui na Faculdade./
E, portanto, não tenho tanta perceção do que se passava antes disso a este nível.
Claro que há diferenças ao nível da organização do curso e da forma de lecionar.
[GF] - Dizes diferenças na organização do curso e na forma de lecionar.
[RC] - Obviamente passou a ser diferente, não tanto em Projeto (embora houve anos em que um professor tinha 2 turmas). Houve realmente coisas surreais em que tinha 2 turmas de 2 horas, na altura. Foram adaptações que tiveram de se fazer e depois voltamos a ter uma turma única. Não sei se te lembras disso, mas eu lembro-me de ter dado aulas em que a havia turma A e turma B. Estavas 2 horas com uma, e 2 horas com outra.
[GF] - Houve um período com 2 turmas em Projeto.
[RC] - Isso, lembro que foi uma circunstância que decorreu do Bolonha./
Mas pronto, tirando isso, evidentemente que houve alterações que têm a ver sobretudo com a organização do plano de estudos. Mas pronto, foi o que foi na altura.
[GF] - Houve alterações pela organização do Plano de estudos. Dizes “foi o que foi”./
Passamos de 6 anos para 5 anos. Embora, obviamente, tínhamos o estágio... No fundo, agora são 4 anos e meio, supostamente… porque a tese seria feita num semestre.
[RC] - Não sei se posso dizer que todos sentimos da mesma forma, como docentes, esse impacto de que falas, mas a organização trouxe mudanças./
De facto, reduzir o curso de 6 para 5 anos teve consequências. Não sei se em termos de aprendizagem o aluno sofre tanto com essa alteração, ou não. Ou seja, penso que depois, com a reorganização que o plano de estudo sofreu se conseguiu também rever alguns aspetos que poderiam estar a necessitar de revisão.
[GF] - Os conteúdos mantiveram-se, e a maior parte das disciplinas manteve-se anual. Portanto, as cadeiras fundamentais, acho que mantiveram a sua identidade. E a sua forma de funcionamento.
[RC] - Portanto, não vejo que isso tenha trazido uma alteração tão significativa.
[GF] - Na altura também havia um debate relacionado com a presença do urbanismo. Também, se calhar, o que ficou aqui prejudicado foi o último ano, não é?/
E depois surgem as disciplinas opcionais, também.
[RC] - Sim, Urbanismo, estás a falar do Projeto 5.
[GF] - É a grande transformação anual, não é?
[RC] - Que é uma disciplina anual, e que de há uns anos para cá passou a semestral, mais coisa menos coisa.
[GF] - Tenho ideia de que o 5º ano era mais pesado.
[RC] - Não tenho muita informação para me pronunciar sobre isso.../
Apenas posso dizer que quando eu fiz o 5º ano, enquanto aluno, não me lembro de ser um ano muito pesado. Era pesado o Projeto. Eu lembro-me de ter dedicado muito a Projeto e a uma cadeira de história, dada pelo Rui Tavares, e pelo Ricardo Figueiredo, penso eu.
[GF] - Devia ser História da Cidade (ainda não era a História do Porto)? Lecionada elo Ricardo Figueiredo ou pelo Rui Tavares.
[RC] - Não era do Porto, na altura. Lembro-me pouco do 5º ano, para além do projeto 5, em que fui aluno do Francisco Barata. Tinha a cadeira do Rui Braz que era Economia Urbana. E acho que tinha outra disciplina qualquer para além de CAD. Que não me lembro qual era…/
V.
[GF] - No 1º mandato do Carlos Guimarães, já estiveste num dos órgãos da faculdade.
[RC] - No 1º mandato do Carlos Guimarães. Portanto, entro a meio do mandato./
E na altura, a Filipa Guerreiro saiu, creio que por causa do Doutoramento…/
Mas eu já era assessor desse Conselho Executivo./
Mal terminei Doutoramento, o Carlos Guimarães, que era diretor, no dia a seguir ligou-me a dizer que precisava de reforçar um pelouro que tinha a ver com a comunicação e com a cultura (com programação cultural). E eu assumi logo esse cargo de assessor passado muito pouco tempo depois de terminar o doutoramento. E passado um ano entrei para vogal do conselho executivo.
[GF] - Portanto estiveste 6 anos como vogal, no pelouro da comunicação e cultura./
[RC[ - Que, apesar de tudo, foi bastante pesado. Depois fiz um mais um mandato também com ele, como assessor cultural e da comunicação. Portanto, estive 6 anos.
[GF] - Que eventos destacas? Para além da reabilitação do edificado./
Já percebemos possuíres uma grande proximidade ao Francisco Barata. Que era muito diferente do Carlos Guimarães. Curiosamente estiveste foi em órgãos durante a vigência da direcção do Carlos Guimarães, acho que em 2007/08 a 2011/12.
[RC] - Sim.
[GF] - Não ainda no período de direção do Francisco Barata.
[RC] - O Francisco Barata saiu precisamente quando eu acabei o Doutoramento./
O Francisco, foi diretor na altura em que eu estava a fazer Doutoramento. Mesmo que ele me convidasse, não tinha qualquer hipótese…
[GF] - Como é que tu caracterizas o peso dessa direção, em termos de ambiente da Escola?/
Qual é a diferença em relação à anterior direção do Francisco Barata?/
Com quem estiveste a fazer o Doutoramento, e possuíste grande proximidade.
[RC] - Eu acho que o Carlos Guimarães tem uma personalidade muito forte./
Quer dizer, tinha bastante convicção sobre aquilo que queria para a Escola. Sobretudo a afirmação da Escola também no contexto da própria Universidade. E ele deu uma importância grande às questões que têm a ver com a comunicação. E talvez tenha sido na altura, quando me convidou, que era exatamente para reforçar essa parte.
[GF] - Dizes personalidade e convicção, bem como queria a afirmação da Escola na Universidade. Uma visibilidade não só interna, mas em termos da sua própria perceção externa.
[RC] - Projeção exterior, Sim./
Foi buscar a Carolina Medeiros.
[GF] - Que estava na Ordem./
A Carolina Medeiros esteve na Ordem dos Arquitetos. Atendia à comunicação, num contexto de maior dimensão.
[RC] - E exatamente nesse sentido, de dar uma maior consistência e uma maior dimensão a essa parte da comunicação.
E esta vontade de afirmação da Escola refletiu-se também na própria criação do Curso de Estudos Avançados de Projeto. Que também foi uma ação que ele considerou que era importante para a afirmação e projeção exterior.
[GF] - Ele considerava que o Curso de Estudos Avançados de Projeto revelava para a afirmação e perceção exterior.
[RC] - Que eu acho que teve efeitos importantes. Trouxe cá, na altura, aquela edição, que foi a única, com nomes muito importantes ...
[GF] - Com o Rafael Moneo e outras figuras. Também trouxe exposições importantes, por exemplo, a exposição do Francisco Mangado.
[RC] - E outras que se seguiram./
Portanto, essa maior articulação com outras instituições foi estratégica e decisiva.
[GF] - Com a Câmara do Porto.
[RC] - Sim. E estas foram algumas das ações que ele tentou implementar. Para além daquela falhada, digamos, atualização do Plano de Estudos em 2015.
[GF] - A falha da tentativa de revisão do Plano de Estudos de 2015.
[RC] - Que era de certa forma, um dos legados que ele gostaria de ter deixado, não é?
[GF] - Era importante para ele ver aquilo realizado?
[RC] - Sim, diria que para o Carlos Guimarães pessoalmente era importante./
Mas ele achava que a Escola tinha a ganhar em fazer essa reformulação, essa atualização do Plano de estudos. Penso que ele viu isso como qualquer algo, que foi uma perda não se ter feito./
Portanto, eu creio que ele tinha convicção da importância dessa atualização do Plano de estudos. Penso que foi um dos objetivos que ele na altura realmente tinha como fundamentais.
[GF] - O João Pedro Xavier, já actuava como vice-diretor, e seguiu-se este mandato actuando já como director. Como vês os tempos mais recentes?
[RC] - Vejo muito na continuidade, com algumas nuances e diferenças, sobretudo de estilo.
[GF] - De delegar? Vês como continuidade, obviamente com nuances e especificidades…
[RC] - Talvez de delegar também. Não é que o João Pedro Xavier não tenha vontade de delegar. O que me parece é que o Carlos Guimarães tinha sobretudo uma visão da estratégia, daquilo que era essencial executar. Era uma pessoa de visão e de cumprimento de metas.
[GF] - O Carlos Guimarães tinha uma presença, uma forma de estar... E até de comunicar.
[RC] - Que era bastante persuasiva.
[GF] - Talvez o atual diretor ainda não tenha essa experiência, mas aporta outras características.
[RC] - Sim, é uma questão de experiência. E de maneira de ser. Conta-se que pela forma como o Carlos Guimarães se expressava levava os seus colegas de geração - o Gigante, o Carlos Prata, o Francisco Barata, etc. - a referirem-se a ele como o “chefe” (risos)./
O Carlos Guimarães tem desde sempre essa eloquência. E pronto, não a perdeu, foi até apurando-se com o tempo. Portanto são personagens diferentes.
[GF] - Com alguma carreira política talvez.
[RC] - Não sei, acho que não.
[GF] - Mas tinha tido a experiência na Ordem dos Arquitetos.
[RC] - Portanto, tinha também um lastro institucional.
[GF] - Com experiências institucionais.
[RC] - Dava-lhe de facto essa…
[GF] - Gravidade.
[RC] - Essa grande gravidade./
VI.
[GF[ - Que transformações estão a acontecer? Poderias também abordar a tua participação? Dado que embora actualmente estejas em sabática, assumiste a co-regência de uma cadeira importante no curso. A Madalena Pinto da Silva, esposa de Francisco Barata, reformou-se recentemente.
[RC] - Não acho que seja muito diferente.
[GF] - No Conselho Executivo assumiste novamente papel, desta vez num pelouro diferente. Que tem a ver mais com questões académicas?
[RC] - Portanto, é um papel mais secundário.
[GF] - E apanhaste logo os anos do Covid.
[RC] - Era isso que eu ia dizer./
Apesar de ter sido, de facto, um mandato diferente, pelo pelouro que assumi, é mais invisível. No sentido em que o pelouro da comunicação, da formação cultural, obviamente, dava uma diferente forma de relacionar. Relacionar-me com atores diferentes e ter um papel diferente do que tenho agora, que estou um pouco mais resguardado, mais nos bastidores a tratar de assuntos mais “corriqueiros”./
Seguramente menos interessantes. Mas, ao mesmo tempo, menos intenso do que aquilo que era o papel que eu tinha, que muitas vezes que me obrigavam a estar, por exemplo, sempre presente em todos eventos. Quer dentro, quer fora da Faculdade.
[GF] - Ações de relações públicas?
[RC] - No fundo era um bocadinho isso./
Isso foi a questão que o Carlos Guimarães quis incutir. A Faculdade estar presente, a fazer-se representar, a ter um papel mais ativo, etc./
Aquilo que agora se passa é realmente bastante diferente, agora ainda menos realmente por estar de licença sabática, e um pouco mais protegido.
[GF] - Mas dá-nos uma nota sobre a experiência do Covid./
Viveram-se realmente dois anos excecionais…
[RC] - Este mandato foi ingrato, independente de eu ter tido esse papel, porque estive ligado àquilo que foi a gestão das questões da Covid, aqui na Faculdade. Desde logo, todas as questões que se colocavam, espaços, horários, etc.
[GF] - As normas que vieram da Reitoria, as normas que vieram das directivas da saúde, etc.
[RC] - Adaptar, filtrar e implementar tudo isso./
Eram essas decisões. Foi um período de grande desgaste. E foi desgastante porque era diário. Em cada dia podiam acontecer coisas que, não é que pusessem em causa, mas que obrigariam a novos procedimentos e a novas ações, que tinham de ser implementadas rapidamente.
[GF] - Decisões estratégicas.
[RC] - Em alguns casos não era obrigatório fazer de uma maneira específica, davam-nos margem para poder decidir como fazer./
Portanto, desse ponto de vista, foi desgastante, mas sobretudo impediu implementar o que era o plano de ação que o diretor tinha definido. Desde logo tudo aquilo que tinha a ver com a comemoração dos 40 anos da Faculdade foi adiado, alterado e condicionado.
[GF] - A Faculdade, passou a viver em função do Covid./
Tudo aquilo que se deveria ou poderia ter feito em 4 anos foi claramente afetado.
[RC] – Sim, totalmente. A história deste Conselho Executivo nestes últimos anos foi muito afetada por Covid, isso é inegável./
Agora, a covid para mim, foi de facto um tema muito absorvente e muito desgastante. Em certa altura estávamos perante o aumento significativo do número de casos, havia que organizar toda a informação do que eram os novos casos. Teve de se criar uma espécie de uma “task force” interna com 2 ou 3 pessoas para além de mim, e até com uma personagem externa que foi na altura contratada. Uma enfermeira para ajudar a fazer a própria gestão e comunicação, a interface entre aquilo que eram os casos que eram reportados e perceber se eram Covid, o que é que tinham de fazer, o que não deviam fazer, etc./
Depois acompanhava-se esses casos até serem dadas as altas médicas. Portanto, as chegadas dos comprovativos, foi realmente uma fase turbulenta e trabalhosa./
Na verdade, se eu pensar bem naquilo que foi o meu trabalho pessoal como vogal do Conselho Executivo, aquilo que me vem à cabeça deste mandato é praticamente este período. Este trabalho, que é associado ao Covid. Esta gestão desde o primeiro dia até hoje, que ainda não acabou.
[GF] - Destacas a adaptação ao Covid, a reflexão sobre o Plano de estudos e a comemoração dos 40 anos da FAUP.
No presente…, o que tinha sido previsto ou está por fazer?
[RC] - As questões que estavam no plano da ação do diretor, e que, creio que voltam a estar e voltam a ser prioritárias, têm a ver com a revisão do Plano de Estudos./
Equivocamente e inegavelmente, penso que é um. Não sou eu que o digo, está escrito.
[GF] - No Plano de ação do diretor João Pedro Xavier, delineado aquando da sua candidatura a diretor./
Essa visão… o Plano de estudos apresentava-se como uma tarefa urgente e fundamental. E há mais?
[RC] - Eu estou a pensar, de facto, em coisas...
[GF] - Coisas de carácter estrutural.
[RC] - Eu acho que uma preocupação fundamental, e que esta direção e este diretor têm, passa naturalmente pela tentativa de não deixar a Faculdade ficar para trás. Naquilo que são os temas candentes e os temas essenciais da investigação.
[GF] - Não só da investigação, mas os temas que constituem os desafios que a arquitetura tem de atualmente enfrentar.
[RC] - E acho que o diretor é sensível às questões que se colocam.
Por essa razão a FAUP liderou a criação da plataforma NEB Goes South.
[GF] - Que teve naturalmente como um dos seus instigadores, o José Pedro Sousa. Que faz parte da expert roundtable.
New European Bauhaus...
[RC] – Sim, o José Pedro Sousa estando nesse órgão da New European Bauhaus, também nos permitiu ser liderantes deste processo./
E que visa não só realmente também pôr a arquitetura...
[GF] - Pôr a arquitetura como um protagonista central, daquilo que são os desafios que se colocam, em termos de presente e futuro, na resposta aos temas da sustentabilidade.
[RC] - Da capacidade de sermos, enquanto disciplina e Faculdade, capazes de pôr os nossos alunos também a olhar e pensar sobre estes problemas. Sob pena de ficarmos, de certa forma, fora daquilo que são as questões atuais.
[GF] - A sustentabilidade, mas também as tecnologias, o BIM, etc. E a reabilitação - já era uma coisa muito alertada pelo Francisco Barata. Incidia incluso nos temas de regulamentação…
[RC] - Sim, com tudo o que isso envolve.
Sem perder as questões que têm a ver realmente com a regulamentação, com aposta na reabilitação./
Isso, penso que é um tema que está em cima da agenda quando se fala no Plano de Estudos. Realmente a possibilidade de pensar eventualmente, no 4º e no 5º ano.
[GF] - Reorganizar o 2º ciclo?
[RC] - Em organizar a disciplina de Projeto, considerado a possibilidade de criar, vias, não diria de especialização, mas de que os alunos possam ter a possibilidade de escolher.
Eventualmente, como acontece, por exemplo, na Escola de Arquitetura do Minho.
[GF] - Escolhem uma determinada via… que lhes dê uma possibilidade de trabalhar sobre uma reabilitação/requalificação etc.
[RC] - Portanto, tudo isso aí está um pouco englobado nesta aposta de tentar que a Faculdade funcione mais de acordo com o que são as preocupações latentes e que estão presentes já em muitas Faculdades. Consideradas como Faculdades que estão realmente na linha da frente na resposta a esse tipo de temas. Portanto, eu acho que o João Pedro Xavier está a fazer esse esforço …
[GF] - Salientas a importância da reabilitação e da requalificação. Duas questões da agenda da sustentabilidade.
[RC] - Não podemos estar fora desta agenda.
[GF] - Para além das novas tecnologias.
[RC] - Sim./
Mas não acho que seja uma questão nova de ser mais tecnológico, ou menos tecnológico. É a questão de ser perceber que a arquitetura, enquanto disciplina, é convocada e tem de ser, também, uma parte ativa na resposta a estes problemas. Sem que isto seja obviamente feito sem considerar o que é a matriz da nossa Escola./
Portanto, eu acho que o desafio é tentar encontrar aqui uma espécie de 3ª via...
[GF] - O desafio de ser capaz de atender e responder a estes problemas que estão à frente dos nossos olhos.
[RC] - E que não podem ser negligenciados.
[GF] - Sermos capazes de manter a nossa identidade.
[RC] - Portanto, eu acho que isso é uma das questões que ele tem considerado de forma bastante veemente. E o João Pedro Xavier também está, penso eu, bastante concentrado naquilo que é o ensino neste “novo mundo”.
[GF] - Em que as questões que se colocam realmente são diferentes.
[RC] - Do que as questões que se colocavam lá atrás, há 15 ou 20 anos./
E daí também a importância que ele atribui à revisão do próprio Plano de Estudos.
[GF] - Portanto, isto acaba por estar tudo ligado./
Acho que para fazer face a estes novos temas que se colocam ao ensino e aprendizagem da arquitetura, tem que haver aqui adaptações que permitam ajustar e orientar a atenção a mais uma série de coisas.
[RC] - E não vou dizer em detrimento de outras, mas há que conseguir reequilibrar algumas destas questões.
[GF] - Obrigado.
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